Demanda por produto aumentou após uso de balas de borracha ser limitado, depois de múltiplos casos de pessoas que sofreram lesões oculares
Em meio à sétima semana de protestos no Chile e a relatos de uso excessivo de força contra manifestantes, os carabineiros (a polícia militar chilena) realizaram uma compra “urgente” de gás lacrimogêneo produzido no Brasil para tentar conter as manifestações, segundo o jornal chileno La Tercera. A venda não inclui balas de borracha, que tiveram uso limitado após mais de 240 pessoas relatarem lesões oculares.
De acordo com o La Tercera, no domingo (01/12) a direção de logística dos carabineiros enviou um comunicado a seus oficiais para informar como funcionam os novos cartuchos, fabricados pela Condor S.A., sediada no estado do Rio de Janeiro. Os artefatos são dos modelos CS GL-202, classificado como de longo alcance lacrimogêneo, e GL 203/3, um projétil lacrimogêneo triplo.
A Condor é a maior fabricante de munições não letais do Brasil, como gases pimenta e lacrimogêneo e balas de borracha, vendidas para todas as polícias militares e civis brasileiras.
De acordo com dados da Direção Nacional de Ordem e Segurança dos Carabineiros, obtidos por La Tercera, policiais usaram 98.223 bombas de gás lacrimogêneo calibre 37, as mesmas compradas da empresa brasileira, e 18.032 granadas de mão.
A demanda pelo artefato aumentou após o uso de balas de borracha ser limitado, depois de múltiplos casos de pessoas que sofreram lesões oculares. Segundo o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile, uma entidade pública independente, mais de 240 pessoas relataram lesões oculares, incluindo cinco pessoas que tiveram perda de visão. Após um estudo da Universidade do Chile constatar que as balas usadas pelos carabineiros possuíam 80% de metais em sua composição, o uso delas foi suspenso em 19 de novembro.
Em um novo desdobramento dos casos de lesões oculares decorrentes do uso de balas de borracha, um hospital confirmou na semana passada o primeiro caso de cegueira total e permanente.
Na semana passada, a organização de direitos humanos Human Rights Watch publicou um relatório que afirma que a polícia chilena cometeu graves abusos de direitos humanos durante a repressão aos protestos, que já deixaram ao menos 26 mortos e 13 mil feridos, segundo a procuradoria e órgãos de direitos humanos.
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