Em 7 de outubro de 1934 os antifascistas de São Paulo infligiram uma grande derrota para os integralistas, naquela que ficou conhecida como a “batalha da praça da Sé” ou “revoada dos galinhas verdes”. Nesta data os integralistas haviam dito que fariam uma grande manifestação, a “marcha sobre São Paulo”, parafraseando Mussolini. Sete pessoas morreram e mais de trinta ficaram gravemente feridas.
Com a debandada dos “camisas verdes” e o sucesso da contramanifestação entretanto, surgiram e continuam a serem reproduzidas versões polêmicas. Este artigo busca, através de documentos da época e registros de depoimentos posteriores, resgatar a versão dos anarquistas sobre os fatos.
Precedentes:
A imigração italiana para o Brasil era massiva no final do século XIX e início do XX, sendo a Itália o país de origem que mais imigrantes trouxera naquelas décadas. O próprio movimento anarquista e o sindicalismo eram muito marcados pela presença de italianos, além de outros imigrantes e de brasileiros. Apesar do problema secular do racismo no Brasil, o fenômeno internacional do fascismo, propriamente dito, corporificando-se inicialmente na Itália e na Alemanha, naturalmente teve no operário imigrante suas primeiras repercussões.
A partir de 1922, Mussolini já havia assassinado muitos opositores, ninguém lembrava seus discursos socialistas e havia criado uma poderosa aviação – a grande propaganda fascista.
O fascismo se volta para o Brasil onde muitas entidades italianas são cooptadas para a propaganda. Um discurso do cônsul italiano Mazzolini, chefe dos “camisas pretas” diz: “A pátria tem aqui sua décima legião, o regime tem aqui sua velha guarda, a nação fascista tem aqui uma parte de si mesma”. O estribilho é Deus, Pátria e Família, é de data antiga.
(…) A cartilha fazia a cabeça das pessoas e crianças, dizendo que os caboclos, mestiços, índios, gaúchos etc… eram de raça inferior. Comícios, passeatas, manifestações eram feitas quase que diariamente. (CUBEROS, Jaime, 2015. p. 204)
Mussolini enviou à São Paulo o deputado Luigi Freddi, que assumiu a direção do jornal Il Piccolo. O jornal era do empresário fascista Rodolfo Crespi, fundador do colégio Dante Alighieri. Poucos conhecem o desconcertante passado do tradicional colégio paulista, de mesmo nome, conhecido pelo seu caráter rígido. Neste colégio era muito presente a saudação típica da mão estendida e professores italianos foram enviados e subsidiados pelo governo de Mussolini. (MALIN, Mauro. 2011)
Em 1928 dois aviadores fascistas atravessaram o Atlântico e um evento foi organizado em sua homenagem. Alcoolizado e empolgado, um aviador morreu ao resolver voar novamente e derrubar o seu avião no mar. Seu colega sobreviveu sem muitos ferimentos. Um artigo de Maria Lacerda de Moura no jornal O Combate viria a enfurecer os fascistas de São Paulo, o Il Piccolo e outro jornal chamado Fanfulla. A educadora e escritora anarquista escreveu “um artigo corajoso, honesto, irreverente, comparando o delírio aviatório-militarista de um Del Prete alcoolizado ao humanismo e à ciência de um Amundsen” (CUBERO, Jaime. 2015, p.204)
Os debates nos jornais durariam dias e levariam as vias de fato quando Il Piccolo faz ameaças a libertária. Estudantes revoltados saíram às ruas em protesto contra o fascismo e se dirigiram a sede do jornal. Apesar dos tiros de revólver, vindos do segundo andar, quebraram a fachada do edifício, os móveis e as instalações, mas a polícia conseguiu agir a tempo de proteger as oficinas.
Em seguida a multidão fez um comício de protesto na Praça Patriarca, onde foi aumentando de número. Durante esse comício, a polícia se concentrou junto ao Fanfulla. A multidão voltou, em seguida, ao Il Piccolo onde, vencendo a proteção da polícia, destruíram tudo, jogando as máquinas e arquivos na rua e incendiando também o edifício. “O grupo enchia a Praça dos Correios, o viaduto Santa Ifigênia e o parque do Anhangabaú, assistindo ao incêndio.” (CUBERO, Jaime. 2015, p.206)
Uma grande estátua em homenagem aos aviadores, enviada por Mussolini e inaugurada em 1929 pela Sociedade Dante Alighieri, ostenta até hoje símbolos fascistas na cidade de São Paulo. A escultura “Heróis da travessia do Atlântico” ficou entre 1987 a 2009 na praça Nossa Senhora do Brasil, no lado oposto ao da paróquia, no cruzamento entre a Av. Brasil e a Av. Europa. Em 2009 a estátua voltou ao seu local original, junto a represa Guarapiranga. A estátua possui dois grandes fascios, machados romanos que deram origem ao nome e ao símbolo do fascismo.
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https://novohorizonteanarquista.noblogs.org/batalhadapracadaseanarquista/
agência de notícias anarquistas-ana
Na palma da mão,
Um vaga-lume —
Sua luz é fria!
Shiki
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!