Por Erika Mahoney | 07/06/2020
A organização de voluntários e voluntárias Food Not Bombs completou o seu 40º aniversário. O grupo recolhe alimentos veganos e vegetarianos de supermercados que de outra forma seriam desperdiçados e compartilha-os com quem necessita.
Keith McHenry fazia parte de um grupo de ativistas que moravam em Massachusetts quando cofundou o grupo. Agora, mora em Santa Cruz.
No momento em que o Food Not Bombs celebra este marco de 40 anos, atua agora em mais de 65 países. Erika Mahoney, da KAZU, falou com McHenry sobre a celebração virtual que reuniu pessoas de todo o mundo.
Erika Mahoney (EM): Voltemos a 1980. Guie-me pelo início da organização e explique o significado do nome.
Keith McHenry (KM): Eu tinha 20 anos e os meus amigos estavam fazendo muitos protestos contra a energia nuclear e contra as armas nucleares. Eu era estudante de artes e trabalhava numa mercearia e estava chocado com a quantidade de produtos que eram jogados fora. Então eu comecei a levá-los para os projetos habitacionais para dá-los às pessoas de lá. E um dia eu estava falando com os moradores e moradoras, estamos discutindo um novo prédio do outro lado da rua, e elas dizem que é lá que são desenvolvidas armas nucleares. E eu pensei, oh, isso é uma loucura… vocês aqui precisam de comida, mas eles têm todo este dinheiro para armas nucleares ali. E foi daí que veio o nome “Food Not Bombs”. Então, começamos a fazer teatro de rua com a comida. E vimos que realmente chamou a atenção das pessoas. E então decidimos fazer um teatro no exterior de uma reunião de acionistas no Banco de Boston e nos vestirmos como vagabundos. Foi um dia tão inspirador que mudou a minha vida. E os indivíduos que estavam lá disseram, vocês deveriam fazer isto todos os dias porque não há comida para os e as sem-teto em Boston. Decidimos que, naquela noite, deixaríamos os nossos empregos e não faríamos nada além de recolher comida, levá-la para projetos habitacionais e fazer refeições que dividiríamos nas ruas. E foi isso que fizemos.
EM: Por que é que vocês se concentram em alimentos vegetarianos e veganos para a distribuição?
KM: Eu era vegan quando começamos o Food Not Bombs, assim como todas e todos os oito de nós. Pensamos, bem, se vamos ser Food Not Bombs e vamos ser contra a violência, também devemos ser contra a violência contra os animais, o meio ambiente e a terra. A outra coisa é que éramos muito pobres. Não tínhamos dinheiro e queríamos fazer isto com segurança. A única maneira de realmente fazê-lo era ter a dieta vegana e assim não teríamos de obter unidades especiais de refrigeração e mesas de aquecimento e tudo mais para alimentar com segurança muita gente.
EM: Então o Food Not Bombs meteu-se em apuros por distribuir comida para os e as sem-teto. Conte-me mais sobre isso.
KM: A primeira vez em que efetivamente fomos presos, e eu fui o primeiro a ser preso, foi no Golden Gate Park, em 15 de agosto de 1988. E nove de nós fomos presos e presas naquele dia. Havia uma foto que apareceu na manhã seguinte no San Francisco Chronicle. E isso realmente encorajou as pessoas a juntarem-se a nós na segunda-feira seguinte. Então, pessoas começaram a nos escrever e a deixar mensagens no serviço de atendimento que tínhamos, dizendo que os deslumbrávamos, perguntando como poderiam começar uma seção do Food Not Bombs na sua comunidade. E então eu tinha tomado notas sobre como eu comecei o segundo grupo em São Francisco e fiz um panfleto chamado Sete Passos para começar um Food Not Bombs. E enviava isso às pessoas. No verão seguinte, havia grupos em Praga, na Checoslováquia; em Brixton, em Londres; em Melbourne, na Austrália; em Victoria, na Colúmbia Britânica; e também no Tompkins Square Park, em Nova Iorque.
EM: Qual era a objeção a alimentar as pessoas?
KM: A objeção é, e ainda é até hoje, um grande problema, é que se vê um grande número de sem-teto à espera na fila para obter comida. E isso destaca o fracasso do governo local em lidar com uma crise que está em questão.
EM: Em Santa Cruz, você trabalha em estreita colaboração com os e as sem-teto. A falta de habitação está afetando todas as comunidades da Califórnia, da nação e do mundo. O que é que você gostaria de compartilhar sobre indivíduos não alojados que talvez as pessoas não vejam?
KM: Em vez de simplesmente ignorar as pessoas que vivem na rua, as pessoas devem realmente perceber que estas são nossas vizinhas, nossos familiares, nossas amigas. E são realmente uma vítima de um sistema econômico e político que forçou as pessoas a viverem nas ruas.
EM: Qual a forma que acredita ser a melhor de o nosso país lidar com a fome?
KM: Penso que temos que chegar a um ponto em que nos apercebamos de que a alimentação, um teto, a educação e os cuidados de saúde são direitos, direitos humanos básicos. Essas coisas estão sendo retidas para fins lucrativos e precisamos dar a volta à situação. E eu acho que é nesse aspecto que o Food Not Bombs tem sido mais eficaz, em desenvolver esta ideia, um dos nossos slogans, que é “comida é um direito, não um privilégio”.
EM: Você tem uma memória favorita ao longo do seu tempo no Food Not Bombs?
KM: Esta é interessante. Era um dia de neve em Boston e eu estava tentando entregar a comida a um dos sem-teto e eles não tinham voltado. Eu estava lá sentado com o nosso carro aberto e tinha baldes de tofu que estavam em gelo que faziam parte do que eu ia doar. E uma mulher, afro-americana, caminha silenciosamente até o carro e aponta para o balde de tofu e eu digo, bem, não está cozido. Sabe, está congelado. Ela não disse uma só palavra, mas insistiu que eu lhe entregasse as 8 onças de tofu, sabe, um pequeno bloco de tofu. Então eu entrego-lhe e em pouco tempo, o meu carro está cercado por pessoas comendo tofu congelado. Estavam com tanta fome. Acho que foi uma das coisas mais chocantes que já vi. Mas eu poderia contar muitas, muitas histórias incríveis sobre o Food Not Bombs. E, sabe, em 40 anos, é mágico, a quantidade de coisas que aconteceram.
>> Keith McHenry cofundou o Food Not Bombs, que acabou de completar o seu 40º aniversário. As distribuições semanais de alimentos em Santa Cruz recentemente tornaram-se diárias devido à pandemia do coronavírus.
Tradução > Ananás
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!