Por Sophie Panzer | 07/01/2021
Para fãs de história, menções de judeus anarquistas frequentemente provocam imagens dos discursos inflamados da ativista política Emma Goldman ou de tentativas de assassinato.
No entanto, muitos membros influentes da comunidade judaica anarquista unida da Filadélfia no séculos XIX passaram fora do radar devido às suas ocupações relativamente silenciosas: prestando assistência médica às comunidades carentes.
“Na Filadélfia no final do século XIX e início do século XX, havia um grande grupo de profissionais que praticavam medicina ou farmácia como meio de vida, ao mesmo tempo em que dedicavam grandes energias ao movimento anarquista”, o ativista trabalhista e historiador Robert Helms escreveu em seu artigo na Clamor Magazine “Médicos e Farmacêuticos entre os Primeiros Anarquistas da Filadélfia”. Esses profissionais, muitos dos quais eram judeus, tratavam pacientes, forneciam educação em saúde pública e contribuíam financeiramente para as causas políticas.
O sistema de saúde anarquista estava enraizado na imigração e no ativismo trabalhista. No final do século XIX, judeus russos migraram para os Estados Unidos para escapar dos massacres e leis anti-semitas.
Muitos se estabeleceram no Sul da Filadélfia, que era também lar de imigrantes italianos e irlandeses e de afro-americanos.
Os novos imigrantes, cuja maioria era pobre, aceitaram empregos nas fábricas que cresceram durante a rápida industrialização das cidades americanas. O governo impôs pouca ou nenhuma regulamentação sobre essas empresas, o que resultou em salários de fome e condições perigosas para os trabalhadores. Em suas memórias, o judeu anarquista da Filadélfia, orador iídiche e ativista trabalhista Chaim Lein Weinberg lembra-se de ter visto padeiros judeus em reuniões sindicais que ficavam tão exaustos após seus turnos de 16 horas que adormeciam em suas cadeiras.
O anarquismo, ou a teoria política que julga a autoridade governamental desnecessária e defende uma sociedade baseada na cooperação voluntária, atraiu aos membros desta crescente classe operária, que não viam utilidade para um governo que falhou em protegê-los. Também atraiu membros da elite intelectual judaica, muitos dos quais vieram de origens imigrantes e queriam ajudar seus companheiros.
Anarquismo e assistência médica se cruzaram no movimento dispensário.
Dr. Steven Peitzman, um médico aposentado e professor de medicina em tempo parcial na Drexel University College of Medicine, disse que enquanto a classe média e os habitantes ricos da Filadélfia pudessem contratar médicos para visitas domiciliares, as opções de assistência médica eram limitadas para os residentes dessas comunidades de imigrantes. A responsabilidade de cuidar dos doentes e feridos recaiu desproporcionalmente sobre as mulheres da casa.
“O primeiro nível de cuidado geralmente seria os remédios caseiros, ou o que chamamos de remédios sem receita, muitos dos quais durante aquele período eram provavelmente inúteis e enriquecidos com álcool, e alguns até com cocaína”, disse Peitzman.
Em vez de contratar um médico ou ir a um hospital, os imigrantes muitas vezes recorriam aos dispensários, ou clínicas de saúde gratuitas. Essas instituições surgiram na Filadélfia e em outras cidades durante os anos de 1800 e forneceram medicamentos ambulatórios para tosse, “reumatismo”, indigestão, e outras doenças. Os dispensários nas áreas industriais também tratavam cortes e queimaduras. Jovens médicos recém-saídos das escolas médicas da cidade frequentemente usavam eles para ganhar experiência, e as clínicas refletiam o compromisso anarquista com a cooperação individual.
De acordo com Helms, um grupo de médicos judeus anarquistas fundou o Mt. Sinai Dispensary (“Dispensário Mt. Sinai) na 236 Pine St. em 1899. Os membros fundadores incluíam Max Staller, Leo Gartman, Bernhard Segal e Simon Dubin.
“Não é inesperado que alguns jovens médicos judeus vissem uma necessidade ali, particularmente se eles já eram versados em iídiche”, disse Peitzman.
Staller foi o primeiro presidente do dispensário. Gartman, que veio de uma família rica de imigrantes judeus alemães e começou uma fábrica de charutos na Seventh Street com a Passyunk Avenue antes de entrar na medicina, foi o primeiro tesoureiro. Ele se formou na Jefferson Medical College, atual Sidney Kimmel Medical College, e praticou urologia antes de entrar na clínica privada nas proximidades da Pine St. Ele se especializou no tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, ficou conhecido por fornecer cuidados a trabalhadores do sexo e frequentemente palestrava nas reuniões realizados pelo Social Science Club (“Clube de Ciências Sociais”) liderado por anarquistas.
Segal, um pediatra amplamente respeitado, foi outro graduado em Jefferson Medical College. Seu obituário no Evening Bulletin declarava que “ele estabeleceu primeiro sua prática nas ruas Fifth e Queen, onde se tornou um médico de caridade, cuidando dos pobres gratuitamente”.
A clínica atendia trabalhadores judeus locais e imigrantes, que frequentemente sofriam de lesões relacionadas ao trabalho, DSTs e tuberculose. As Mulheres levavam seus filhos para tratamento de dores de ouvido e resfriados.
Peitzman disse que os modelos de prestação de assistência médica aos pobres mudaram à medida que o século XIX dava lugar ao século XX. O movimento de dispensários se extinguiu e foi substituído por hospitais de caridade. Na década de 1940, o Departamento de Saúde da Filadélfia formou clínicas de saúde que assumiram parte dos trabalhos que antes eram feitos pelos dispensários da cidade.
O Mount Sinai Dispensary eventualmente evoluiu para Mt. Sinai Hospital, que permaneceu aberto até 1997. Alguns dos fundadores do dispensário original permaneceram, e Staller continuou como cirurgião visitante. Embora a instituição que eles criaram tenha mudado, sua missão de preencher as lacunas no sistema de saúde não mudou.
Tradução > Brulego
agência de notícias anarquistas-ana
sobre a cerca,
os mais novos girassóis –
ninguém à vista
Rosa Clement
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!