Eugenio Cortés engloba em uma apresentação a biografia de Joe Hill e o anarcossindicalismo na origem da canção de protesto norte-americana.
Por Inés Villodre | 25/03/2021
“No lloréis por mí, organizaos“, foram algumas das últimas palavras do cantor e político Joe Hill dias antes de ser fuzilado. Condenado em circunstâncias estranhas, o músico enviou uma última carta a Bill Haywook, um dos dirigentes e companheiros da Industrial Workers of World que mais tarde apresentou como lema suas palavras. Uma forma de recordar a controvertida execução de um de seus líderes, mas também um representante da agitação musical no seio do anarcossindicalismo do início do século XX, que mais tarde daria lugar ao que entendemos por canção de protesto nos EUA.
Eugenio Cortés, professor de literatura e Cultura Inglesa na Faculdade de Educação da Universidade de Castilla-La Mancha, realizou na segunda-feira passada, 22/03, uma apresentação sobre estas origens culturais e políticas representadas por Hill, que derivarão mais tarde em figuras como Woody Guthrie e sua famosa frase “esta máquina mata fascistas” escrita em sua guitarra, até chegar a figuras como a de Bob Dylan.
Falar da canção de protesto norte-americana é necessariamente fazer referência a seus movimentos políticos. Sobre os pilares nos quais surgiu esta música, se encontram as vozes dos escravos, dos imigrantes, dos cantos das igrejas protestantes, de gerações deserdadas às quais Joe Hill pertencia. E que se vincularam muito estreitamente ao movimento anarcossindicalista. O cantor nasceu nos braços de uma família protestante, que lhe permitiu desde jovem ter uma proximidade muito estreita com a música e os instrumentos, com os quais mais tarde comporia hinos políticos tão relevantes como There’s a power in the union, Should I ever be a soldier ou Pie in the sky (Preacher and slave).
Desde a revolta anarcossindicalista da Baixa Califórnia à Revolução Mexicana, Joe Hill esteve presente em diversas iniciativas, comprometido com os valores políticos derivados das leituras de Kropotkin ou Malatesta que influenciaram o movimento político, presente em especial através da International Workers of World, chamados popularmente wobblies, e presentes também em países como Reino Unido, Canadá ou Japão. Também estas ideias influenciaram sua forma de fazer música, por meio da incorporação do corrido mexicano ou a música de banjo, um instrumento que mais tarde simbolizará a canção de protesto e que foi tomado por ele para representar os mais desfavorecidos.
Uma figura musical relevante, que, no entanto, não esteve isenta de esquecimento consciente por parte das instituições norte-americanas. Só em 1969 se começou a reivindicar o legado musical e político que sua figura havia tido na história do movimento político nos EUA, chegando a realizar-se um filme homônimo, dirigido pelo cineasta sueco Bo Widerberg. Uma pequena forma de recordar aquele homem que olhava mais além da parede e que voou como um leão rebelde, deixando seu legado de música na história.
A conferência de Eugenio Cortés “Rojo, Banjo y Negro: la balada de Joe Hill y el origen anarcosindicalista de la canción protesta norteamericana” aconteceu no contexto do ciclo “Música, política y movilización social en la contemporaneidad” organizado pelo Seminário Permanente de Estudos Contemporâneos (SPEC).
Tradução > Sol de Abril
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!