“São as nossas pioneiras e suas lutas inspiram as lutas atuais. Elas reivindicavam diversas temáticas como: a igualdade de gênero, o amor livre das instituições, a luta pela diminuição dos aluguéis dos pobres, pela saúde sexual e reprodutiva, a luta contra o assédio sexual no trabalho e nas ruas”, disse a diretora nessa entrevista exclusiva ao “EscribiendoCine”
Por Rolando Gallego | 31/03/2021
Como surge a ideia do filme Juana (2021)?
Juana (2021) é fruto de uma pesquisa longa sobre as mulheres anarquistas no nosso país, mulheres que foram invisibilizadas na nossa história, mulheres que lutaram pelas futuras gerações e que – sem saber ao certo – criaram as bases para as lutas no atual cenário. Faz algum tempo que venho pesquisando sobre as libertárias e isso deu origem ao documentário Los ojos de America (2015) (realizado juntamente com Aníbal Garisto), que foi seguido pelo documentário Salvadora (2017) e agora estou com Juana (2021). Elas foram mulheres que propuseram uma mudança social baseada em conceitos como a igualdade de gênero.
Você vem trabalhando em uma linha que recupera as mulheres como chave para a história argentina e universal. Como você segue neste processo? Há outras mulheres que merecem essa homenagem?
Agora estou terminando um documentário sobre a anarquista Virginia Bolten, e assim vou concluir com a “saga” das mulheres anarquistas e filmar sobre Delmira Agustini, uma poetisa uruguaia que escrevia poesias eróticas no princípio do século XX e que morreu num feminicídio que – mesmo muitos anos depois – não foi relatado como tal. Vai ser um documentário com uma estética de vídeo poesia e cinema experimental.
Como você selecionou as entrevistadas?
Dora Barrancos é uma das pioneiras e é referência sobre a pesquisa de mulheres anarquistas na Argentina. É ela que dá nome a este silogismo tão interessante que é o anarco-feminismo, em alusão a militância das mulheres anarquistas (em um período em que o feminismo, nem se quer, existia). Elsa Calcetta pesquisou sobre os escritos de Juana e fez uma exaustiva recopilação sobre o jornal Nuestra Tribuna, dirigido por Juana e escrito por e para mulheres. Gisela Manzoni também pesquisou sobre Juana e é muito interessante seus comentários sobre a relação do contexto da época e o movimento anarquista.
O que você descobriu no processo de pesquisa e realização cinematográfica sobre Juana, que você ainda não sabia?
Seus escritos como Las Proclamas (1924), que são um verdadeiro manifesto do anarquismo e da mulher da época, o jornal Nuestra Tribuna e toda a sua vida cheia de idas e voltas e perseguições policiais.
Como se pode ler hoje a titânica tarefa de Juana?
É muito atual. O que reivindicavam as mulheres anarquistas é o mesmo que reivindicamos hoje em dia, apesar dos contextos de época serem diferentes. São nossas pioneiras e suas lutas inspiram as lutas atuais. Elas reivindicavam por diversas temáticas como a igualdade de gênero, o amor livre das instituições, a luta pela diminuição dos aluguéis dos pobres, pela saúde sexual e reprodutiva, a luta contra o assédio sexual no trabalho e nas ruas, etc.
Com o quê você gostaria que o espectador se conectasse?
Com o seu espírito rebelde e revolucionário, com a sua força e valentia para poder compreender que desde aquela época as mulheres vinham brigando e reivindicando pelos seus direitos, e o que está acontecendo agora não é algo novo, senão que seguimos com os mesmos reclamos do século XX.
Como está o ano de trabalho?
Bom, depois do ano passado tão particular, acredito que estou em um momento de transição para uma nova etapa. Como estava dizendo, agora estou trabalhando e fechando um ciclo com a montagem de Virgínia, um documentário sobre Virginia Bolten e no desenvolvimento de Delmira, que será bem mais experimental e irei filmar nos próximos meses. Além disso, estou dando os primeiros passos num roteiro para um filme de ficção, se a vida e o universo me permitirem.
Quais as sensações de estrear online?
Já nos meus últimos filmes: Salvadora (2017) e Mujer Medicina (2019), além de estrear numa sala de cinema, o que constitui um momento mágico de encontro e uma energia compartilhada que não se compara com nada, venho estreando online porque eu acho importante que os nossos trabalhos cheguem a toda a Argentina, mais além do que as salas de exibições regionais. Por agora não se pode ver filmes na tela grande, mas acredito que é um bom momento para lançar luz a esse documentário que venho pesquisando a alguns anos.
Tradução > Ligeirinho
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!