Sobre a atividade clandestina anarquista nos anos 60/70…
Luís Bernardes > Sei apenas o que me contaram pessoas que na época do 25 de Abril eram ativas. Eu no 25 de abril tinha 17 anos, portanto a minha militância era muito pouca. Durante um ano ou dois juntávamos algumas pessoas em Lisboa, líamos alguns livros mais ligados à história do movimento operário. Uma coleção que a Afrontamento tinha com livros de um historiador que era o César de Oliveira, que ia buscar os velhos jornais da Batalha, ia buscar a história da CGT e a partir daí íamos contactando com o que tinha sido o movimento anarquista. Na década de 60 e 70 houve muito pouca atividade especificamente anarquista, pelo que julgo saber. A partir do Maio de 68, com os ecos que vinham da França, começou a haver alguns textos mais ligados à Internacional Situacionista, houve algum interesse dos exilados políticos na França. Uma série de gente que veio a entrar no grupo Ação Direta e noutros grupos anarquistas formados a seguir ao 25 de abril, muita gente que estava ligado ao PCP e a grupos maoistas que estavam na França e que contactaram com as ideias libertárias, mas não de uma forma organizada. Aqui em Portugal a atividade clandestina era muito pequena. A repressão nos anos 40 e 50 foi tão grande e [de] tal forma que desarticulou completamente toda a gente que havia aqui em Portugal. Os mais velhos como o Emídio Santana, o Moisés Silva Ramos, e uma série de outra gente juntou-se à Associação dos Inquilinos Lisbonenses e as outras associações deste tipo, desenvolvendo uma atuação que não era especificamente anarquista, mas que visava princípios cooperativos, autogestionários e que iam fazendo um pouco a sua atividade e propaganda. Mas os anos 60 e 70 foram dos anos mais fracos do século XX.
Como é que entrou no movimento anarquista? Era fácil encontrar literatura anarquista?
Luís Bernardes > Eu era um jovem com 15 anos e, com gente da mesma idade. começamos a contactar com a história da guerra civil espanhola, havia alguma literatura. Depois com os textos do César de Oliveira que já falei. Era um bocado os textos que havia, não havia muito mais. Antes do 25 de abril nunca contactei com nenhum velho anarquista, sabia alguns nomes porque vinham nos livros, mas fazia parte de um grupo em Beja e não tínhamos contatos com ninguém. Íamos desenvolvendo a nossa atividade. Em 73 vim para Lisboa e conheci algumas pessoas que tinham ligação ao movimento libertário. Era uma memória que se tinha perdido, porque a repressão tinha sido tão grande e os anos de prisão no Tarrafal de uma série de gente tinha sido tão dura que eles perderam todos os contatos com as novas gerações. As novas gerações tiveram de retomar tudo de novo. Esse contacto só ocorreu depois do 25 de abril. Na manifestação do 1º de Maio de 1974 a gente mais nova, no meio daquelas centenas de milhares de pessoas, lá localizou um grupo de velhos anarquistas com a bandeira do sindicato dos metalúrgicos encabeçados por gente que tinha estado no Tarrafal. Foi a primeira vez que contactamos com eles e começamos a organizarmo-nos. Depois abriu a sede da Batalha e começou a juntar-se muita gente aí e a história do anarquismo e do que tinha sido a história do movimento operário começou a vir um bocado mais à luz do dia. Porque antes do 25 de abril eram muito poucos os livros editados e contatos, houve muitos anos de silêncios em que a tradição anarquista ficou adormecida e só foi reatada depois do 25 de abril.
Esses livros eram censurados?
Luís Bernardes > Os livros eram editados. Havia muitos livros marxistas editados, que começaram a ser editados no final dos anos 60. Em Portugal havia uma censura posterior à sua publicação, não era uma censura prévia, isto é, os livros eram editados e publicados e depois e eram proibidos. A PIDE apreendia os livros, mas havia sempre muitas centenas de livros que eram vendidos por debaixo das mesas e que eram circulados. Havia muitos livros de Daniel Guérin sobre o anarquismo, muito na tradição saída do Maio de 68. Havia uma série de livros que eram publicados e circulavam, embora posteriormente fossem proibidos.
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agência de notícias anarquistas-ana
árvore morta
no galho seco
uma orquídea
Alexandre Brito
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!