A Municipalidade de Sagunto encarregou Cristina Durán e Miguel Ángel Giner, ganhadores do Prêmio Nacional de Cómic 2019 graças a sua obra ‘El día 3‘ sobre o acidente de metrô de Valência, converter em HQ a história desta mulher, “uma republicana que morreu por defender suas ideias e a liberdade”
Por Miguel Giménez | 26/06/2021
Seu nome era María Pérez Lacruz, ainda que fosse conhecida como María ‘la Jabalina’. Era uma jovem nascida em Teruel (1917) que como tantos outros emigrou com sua família para a localidade valenciana de Sagunto, onde emergia com força uma cada vez mais potente indústria siderúrgica – que seria o germe dos Altos Fornos do Mediterrâneo. María, militante anarquista que cresceu em um entorno obreiro como o de Puerto de Sagunto, se alistou como miliciana com apenas 19 anos na Columna de Hierro para combater contra os golpistas na frente de Teruel, onde foi ferida. Terminada a guerra, foi detida em abril de 1939 e fuzilada no conhecido como ‘paredón de España’ em Paterna em 1942.
Esta história, que foi narrada no livro de Manuel Girona ‘Una miliciana en la Columna de Hierro: María La Jabalina‘ (Universitat de València, 2007) e a novela de Rosana Corral-Márquez ‘Si me llegas a olvidar‘ (Versátil Ediciones, 2013), assim como levada em cena pela companhia Hongaresa de Teatre na obra ‘María La Jabalina‘, vai se converter em uma novela gráfica pela mão de Cristina Durán e Miguel Ángel Giner, ganhadores do Prêmio Nacional de Cómic 2019 pela obra ‘El día 3‘ na qual, junto à jornalista Laura Ballester, narraram o sucedido por causa do acidente de metrô de 2006 em Valência.
A obra, que será lançada em 2022 pela mão de Astiberri Ediciones, uma das editoras mais potentes do panorama nacional no mundo da HQ, parte de uma iniciativa da Municipalidade de Sagunto, e mais concretamente da delegação de Memória Histórica e Democrática: “Sagunto tem um festival de cómic, “el Splash”, consolidado (este ano celebra sua oitava edição já como festival do cómic da Comunitat Valenciana) e uma escola de cómic, assim que nos ocorreu ligar a memória histórica na cidade com este gênero, e contatamos com Cristina e Miguel Ángel, que colaboram conosco em Splash e são referências do cómic, para propor-lhes a ideia”, explica o conselheiro da área, Guillermo Sampedro.
E a escolha de María como protagonista “nos pareceu uma excelente maneira de reivindicar uma figura local, uma mulher republicana que morreu por defender suas ideias, pela liberdade, uma anarquista muito conhecida”, explica Sampedro, que ressalta como o projeto encantou Durán e Giner.
Cristina e Miguel Ángel reconhecem que quando lhes propõem o nome de La Jabalina como protagonista se põem a investigar sobre a figura de María, a quem não conheciam. “Nos apaixonou sua história”, asseguram: “Nunca pensamos que fosse tão interessante”. “Conforme vais te inteirando de tudo o que lhe aconteceu, ficas alucinado”, dizem Durán e Giner, que sustentam que valia a pena fazer uma HQ: “No início pensamos em fazer 110/120 páginas e ao final saíram 150/160, e porque cortamos, porque com os julgamentos só teríamos para 200, mas tem que cortar”.
A HQ contará sua vida desde que chega a Puerto de Sagunto. “Queremos mostrar sua história para que não se esqueça, reivindicar sua figura, mas também contextualizar tentando plasmar o entorno e o ambiente da época”, explicam. Com respeito à combinação de HQ e memória histórica, asseguram que é “muito acertada” para dar-lhe visibilidade. Neste sentido, Miguel Ángel aponta que lhe “surpreendeu muito” ver Cristina desenhando cenas de guerra, ainda que só seja o momento em que María ‘La Jabalina’ fica ferida, enquanto que Durán assegura que lhe dá “muito respeito” esta temática: “É um objetivo estar à altura, porque já existem obras de muito nível”. Cristina Durán narrou através da HQ também experiências muito pessoais, como a luta contra o câncer em uma vinheta que publicou em redes sociais.
Projeto com vocação de continuidade
A Municipalidade de Sagunto pretende que esta iniciativa tenha continuidade. Para isso, a ideia que tem desde o departamento que dirige Guillermo Sampedro é encarregar algumas obras mais a outros autores para recuperar a memória obreira da cidade e resgatar o passado “de uma maneira diferente”.
Assim, estão valorizando temáticas como o fechamento de Altos Fornos do Mediterrâneo, em meados dos anos oitenta do século passado, ou a detenção de sindicalistas como Miguel Lluch nas décadas de 1950 e 1960 e os posteriores julgamentos por parte do Tribunal de Ordem Pública. Trata-se de uns projetos que, em princípio, seriam encarregados a outros autores, ainda que de momento não haja nada concretizado.
Esta forma de recuperar a memória histórica se complementa com outras iniciativas do Conselho saguntino. Em 2020, a Municipalidade adquiriu a unidade didática sobre a Guerra Civil através da HQ que foi entregue a colégios e institutos da localidade.
Tradução > Sol de Abril
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