Dos domos geodésicos no sul do Colorado à Selva de Calais na Europa, este trabalho provocativo estuda 60 estruturas que foram construídas de acordo com os valores da autonomia, da associação voluntária, do apoio mútuo e da auto-organização
Por Keith Miller | 13/09/2021
O livro vivaz e, de algum modo, levemente otimista de Paul Dobraszczyk é marcado por dois episódios deprimentes. Em agosto de 2020 e em junho deste ano, batidas policiais desmontaram instalações de arte no leste de Londres. Os principais alvos destas extremas demonstrações do poder estatal – dançarinos de balé, tubarões-modelo cantores, uma delicada nuvem de varas de bambu e cabos de aço – não estavam ferindo ninguém; o pretexto legal para as batidas, uma mistura distorcida de regulações planejadas e poderes emergenciais introduzidos sob a capa da pandemia, era fraco e não convincente. O fato de que a instituição de caridade artística que encomendou as instalações também é uma co-editora de Architecture and Anarchism nos permite saber que é improvável que seja antipático com seu lado da história; ainda assim é difícil evitar a conclusão de que construir “sem autoridade”, especialmente numa democracia imperfeita como a do Reino Unido, é atrair violência. Então, porque alguém faria isso?
A parte principal do livro é uma série de histórias sobre tentativas de indivíduos ou comunidades em regularem aspectos de suas próprias vidas por meio da gestão de seus espaços de convivência. Há, necessariamente, um amplo espectro da humanidade em amostra – squatters, comunas hippies, cultos do deserto, cooperativas de autoconstrução, pessoas sem-teto, manifestantes do clima, produtores agrícolas – e os resultados que eles obtêm variam em cada caso. Apropriadamente para uma tradição que tem tudo a ver com partir de ideias utópicas e dar-lhes uma forma concreta, aprendemos um pouco sobre os sonhos de papel de William Morris no século 19. Em seguida, prosseguimos pelos descolados domos geodésicos de Drop City, Colorado; pelas gloriosas quimeras dos infinitos prazeres imaginários do palácio “New Babylon”, elaborado por Constant Nieuwenhuys entre 1959 e 1974; e pelos não menos fantásticos desenhos de Archigram, para a ficção especulativa plausível e refinada de William Gibson.
A teoria é reduzida a um mínimo necessário, mas Dobraszczyk percebe uma distinção entre o indivíduo e a comunidade, “liberdade de” e “liberdade para”. Ele aponta que grupos autorregulados podem ser mais ou menos “radicais”, e consequentemente menos ou mais atrelados ao mundo “convencional” a sua volta (assentamentos contraculturais de arte funcionam muitas vezes como tropas de choque da gentrificação, por exemplo). O autor nota que, ironicamente, as pessoas que escolhem viver dessa forma são muito mais propensas a passar seus dias presas em planejamentos bizantinos e regulamentos de construção (além de intermináveis reuniões comunitárias) do que o resto de nós.
Com um livro que se inclina mais para amplitude do que profundidade, é certo que provoque questionamento sobre o que está dentro e o que ficou de fora. Gostaria de ter visto o projeto Nubia Way, em Londres, incluído no panteão das autoconstruções de Walter Segal: ele foi construído pela primeira cooperativa de casas organizada por negros na Grã-Bretanha, contra os desejos do National Front. Há muitas bricolagens desordenadas de objetos fragmentados e frágeis demonstrações de cabanas quase apocalípticas para todos aqueles que têm alguma coisa única a dizer. No relativamente pequeno número de projetos que são formados por algum intento estético ou estilístico abrangente, o que eu reconheço não ser o ponto na maioria dos casos, vê-se frequentemente uma certa qualidade infantil: os “earthships” do Novo México e, além, os Hundertwasserhaus em Viena, as cabanas de “hobbity” de Lammas em Pembrokeshire. Entretanto, nota-se que estes últimos se mostraram vulneráveis ao fogo – outro exemplo de autoridade e violência, talvez.
Paul Dobraszczyk, Architecture and Anarchism: Building Without Authority, Antepavilion/Paul Holberton Publishing, 248pp, 180 colour illus., £25 (pb), pub. 1 September 2021
- Keith Miller é um editor comissionado, escritor do Telegraph e colaborador regular da Literary Review e do Times Literary Supplement
Foto: Fundada em 1965 no sul do Colorado, Drop City foi uma das primeiras comunidades de artistas contraculturais nos Estados Unidos
Tradução > Erico Liberatti
agência de notícias anarquistas-ana
Solitária manhã
Na flor borboleta pousa
doce companhia
Kátia de Souza
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!