Ensaio e seleção: José Luís Garcia
Foi em 1919, há mais de um século, que Mário Domingues publicou num jornal o seu primeiro texto em defesa dos negros, intitulado “Colonização”. Jornalista, cronista, escritor, nascido em S. Tomé e Príncipe, atento ao ativismo do movimento negro por todo o mundo, foi construindo a partir daí, e até 1928, uma precursora obra de “rebeldia negra” na imprensa em Portugal.
Este livro recupera a maioria dos textos de Mário Domingues desse período, injustamente esquecidos, onde este escreve, muito à frente do seu tempo, sobre a condição dos negros, o racismo e a colonização, denunciando de forma arrojada preconceitos e discriminações, e expondo corajosamente a violência do colonialismo e de todas as formas de subjugação.
José Luís Garcia, que reuniu estas crônicas, apresenta ainda um ensaio introdutório sobre a obra, a vida e o contexto de Mário Domingues, “um dos maiores símbolos da passagem do negro de uma condição de subalternidade na sociedade portuguesa para autor da sua vida”, e um verdadeiro “precursor da afirmação negra”.
>> Mário Domingues nasceu na ilha do Príncipe em 1899, filho de mãe angolana natural de Malanje, de nome Kongola ou Munga, que tinha ido para a ilha do Príncipe como contratada (à força) com quinze anos de idade, e de António Alexandre José Domingues, oriundo de famílias liberais de Lisboa. Com dezoito meses de idade foi enviado para Lisboa, sendo educado pela avó paterna.
Aos dezenove anos de idade aderiu ao ideário do anarquismo e iniciou colaboração no diário anarco-sindicalista A Batalha e, posteriormente, no jornal anarquista A Comuna, da cidade do Porto. Nesse período participou nas atividades de um grupo libertário que, entre outros, integrava Cristiano Lima e David de Carvalho. Fez parte da redação da revista Renovação (1925-1926) e colaborou na organização do congresso anarquista da União Anarquista Portuguesa (UAP).
Publicou diversas obras de ficção. Após o golpe de 28 de Maio de 1926 dedicou-se ao jornalismo e tornou-se escritor profissional. Voltou-se para a história, escrevendo mais de uma dezena de volumes. Também se dedicou ao romance policial, de aventuras e à literatura cor-de-rosa recorrendo a pseudônimos pretensamente estrangeiros.
Apesar de se ter afastado do movimento anarquista, quando em 1975 apareceu a Voz Anarquista, publicada em Almada, escreveu uma carta ao diretor, onde declarava: Agora, mais do que nunca, é preciso proclamar bem alto que o anarquismo não é a desordem, a violência e o crime, como as forças reacionárias têm querido qualificá-lo. Urge desfazer essa lenda tenebrosa e demonstrar ao grande público, enganado por essas torpes mentiras, que o anarquista ama e defende o ideal supremo da ordem, exercida numa Sociedade edificada na Liberdade, na Fraternidade e na Justiça Social. À Voz Anarquista cabe essa sublime tarefa, recordando o exemplo de homens superiormente lúcidos como foram Proudhon, Eliseu Reclus, Sébastien Faure, Bakunine, Kropotkine, Neno Vasco, Pinto Quartin, Campos Lima, Cristiano Lima, Aurélio Quintanilha e outros propositadamente esquecidos, que abriram aos homens o Caminho da Liberdade.
A afirmação negra e a questão colonial: textos, 1919-1928
Ensaio e seleção: José Luís Garcia
Janeiro de 2022 | 320 PP | 21×14 CM
ISBN: 978-989-671-655-4
€17.01
tintadachina.pt
agência de notícias anarquistas-ana
Juncos secos –
Dia após dia se quebram
E vão rio abaixo.
Rankō
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!