• O Governo de Navarra trata agora de localizar possíveis familiares destes presos do Forte de San Cristóbal para entregar-lhes seus restos
Por Rodrigo Saiz | 10/04/2022
Durante a ditadura franquista o Forte de San Cristóbal, um complexo militar situado no município de Berrioplano, na comarca de Pamplona, se converteu em um cárcere para presos políticos de toda Espanha. Por ele passaram até 7.000 pessoas e morreram umas 800, mais de 200 fuziladas após uma fuga que protagonizaram 795 presos em 1938, deles que tão somente três conseguiram cruzar a fronteira francesa. Entre os falecidos neste Forte se encontram os 21 presos cujos corpos foram recentemente exumados no cemitério de Berriozar pela Sociedade de Ciências Aranzadi.
Os restos correspondem a uns presos anarquistas de diferentes regiões da Espanha que foram fuzilados pelo franquismo em 1º de novembro de 1936. Dá-se a circunstância de que todos eles ingressaram no forte antes de 18 de julho de 1936, dia em que Francisco Franco deu o Golpe de Estado. Segundo relata Koldo Pla, da Associação Txinparta, tratava-se de um grupo de pessoas que já tinham sido detidas anteriormente, algumas delas em 1934, e que não foram considerados como presos políticos na anistia de fevereiro de 1936. Receberam o tratamento de presos comuns ao ter cometido em muitos casos outro tipo de delitos como roubos ou assaltos a entidades bancárias e, após ter protagonizado alguns conflitos em suas correspondentes prisões, os transladaram ao Forte de San Cristóbal.
“Foram fuzilados pela lei de fugas após terem sido acusados de tentativa de fuga do Forte”, assinala Koldo Pla, que acrescenta que não há constância de uma tentativa de fuga nessas datas. “É possível que se tratasse de uma represália”, observa. Nas atas de falecimentos figura como causa da morte “traumatismo”, embora após a recuperação dos corpos se pudesse comprovar que todos eles foram executados com arma de fogo. “Todos tem ferida de bala e se encontraram vários projéteis”, observa Lourdes Herrasti, diretora da escavação.
Os 21 corpos puderam ser recuperados graças ao trabalho da Associação de memória Txinparta, que desde 1988 está investigando o forte que coroa o monte San Cristóbal / Ezkaba. Após estudar o registro civil e o diocesano dos 12 povoados que formavam a Cendea de Ansoian, antigo município formado pelos 10 povoados que hoje formam Berrioplano, Berriozar e Ansoáin, onde se enterraram os corpos dos presos do Forte até 1938, descobriram que no cemitério de Berriozar jaziam os corpos de 47 presos deste cárcere franquista, dos quais 21 haviam sido mortos no mesmo dia. “Estávamos certos de que eram os presos anarquistas, mas agora temos a prova de que estávamos certos, pelas feridas de bala que confirmam que são eles”.
De todos se conhece seu nome e sobrenome, assim como seu lugar de procedência e idade em que faleceram. Ainda assim, será muito complicado identificar os corpos encontrados porque para isso é necessária uma prova de DNA de algum de seus familiares que queira entrega-la ao banco do Governo de Navarra e dos 21 apenas três tinham mais de 30 anos quando foram executados, o que dificulta a localização de familiares. Contudo, a Associação Txinparta já contatou com quatro delas, as quais havia localizado previamente, e dois já entraram em contato com o Executivo foral para cotejar as mostras de DNA. O Governo de Navarra anima a qualquer pessoa que seja familiar ou conheça alguém que possa ter parentesco com alguns dos corpos localizados para que se ponha em contato com o Instituto Navarro da Memória através do correio inm@navarra.es para poder devolver os restos a seus seres queridos.
Foi esta mesma associação quem se pôs em contato com o Instituto de Memória do Governo de Navarra para propor a prospecção do cemitério após conhecer por testemunhos de vários moradores que os corpos se encontravam no fundo do antigo recinto e comprovar que na zona não se haviam realizado novos sepultamentos desde então. “Estavam enterrados nessa zona e tal e como nos haviam dito: empilhados em caixas uns em cima dos outros”, aponta Koldo Pla.
Ao longo dos próximos meses o Instituto Navarro da Memória continuará com os trabalhos de prospecção em diferentes lugares da comunidade foral, seguindo o plano de exumações que foi aprovado no começo do ano. Para 2022 estão contempladas vinte e três prospecções em diferentes lugares da geografia navarra. Este programa permitiu recuperar até a data mais de 140 corpos de vítimas da ditadura franquista, dos quais alguns deles puderam ser entregues a suas famílias.
Fonte: https://www.eldiario.es/navarra/recuperan-corpos-21-presos-anarquistas-fuzilados-franquismo-navarra
Tradução > Sol de Abril
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