“Gabriel Pombo da Silva (Vigo, 1967) é um dos presos que está a mais tempo nos cárceres espanhóis. Entrou com apenas 17 anos e hoje tem 55 recém completados. Vários assaltos com seu grupo, um deles com homicídio, lhe abriram a porta das prisões do território ibérico e também da Alemanha. Foram mais de 30 longos anos entre grades. Agora, sua defesa exige a Audiência de Ourense, a que o condenou, que aplique o Código Penal em vigor, uma postura que também defende a Promotoria do Tribunal Supremo, o que implicaria na sua imediata liberdade, dez anos mais tarde do que lhe teria correspondido.
— Passaram já vários meses desde que a Promotoria do Supremo solicitou a aplicação a sua condenação do Código Penal vigente o que implicaria sua imediata liberdade…
— Agora está no Supremo, mas o importante que descobrimos é que o tribunal que em seu dia me condenou, a Audiência Provincial de Ourense, é o responsável de que nunca me aplicassem o Código Penal que mais me beneficiava, como exige a lei. Haviam-me condenado por um delito de roubo com homicídio a 28 anos e pouco, então a pena máxima e com o novo código penal são doze anos e seis meses.
— Quantos anos está no cárcere?
— Mais de 30. Percorri quase todos os cárceres espanhóis.
— É você o preso que mais anos está encarcerado na Espanha?
— Não sei. É provável. Eu creio que haverá mais por aí que foram esquecidos porque são pobres.
— Se lhe tivessem aplicado o Código Penal mais benéfico estaria livre e teria desfrutado de dez anos de vida sem estar entre grades.
— Sim. Estou sequestrado. A Audiência de Ourense teria que ter revisado minha condenação para aplicar o Código Penal mais favorável. Mas sigo aqui.
— E como poderiam devolver dez anos de vida?
— Não se pode. Eu fico com o bom, e é que tive tempo para me aprofundar muito em mim mesmo, na natureza humana, no mundo.
— Em que contexto começam seus confrontos com a Lei?
— Nos anos oitenta. Eu recordo o bairro de El Calvario, em Vigo, pobre, miserável, vermelho, onde estávamos, a um lado o povo e do outro a polícia. Me criei com meus avós, que me inculcaram a solidariedade de classe. Então comecei a fazer o que não devia: disparar, expropriar (assaltar) e juntar-me com os rebeldes. Havia muito desemprego, muito desespero e muita emigração.
— E não avaliou então que poderia seguir sua luta no âmbito político ou sindical e não usando a violência?
— Era inútil o caminho político ou sindical. Não servia. Repartíamos alimentos e dinheiro às famílias pobres. Era uma época dura. Estamos falando também de um período de tempo onde a extrema direita matava, onde havia grupos ultras e na classe obreira tínhamos que nos defender.
— E logo chegou a droga…
— Foi muito estranho. Começou a aparecer heroína pura por Vigo. Observei que, da noite pro dia, em todos os bairros onde estávamos organizados e trabalhávamos a nível político e social, aparece a droga e destrói os jovens, os trabalhadores, afeta a todos.
— Passou 8 anos de sua condenação no duro regime de isolamento FIES (Arquivos Internos de Acompanhamento Especial). Não se vê afetado nem psíquica nem fisicamente.
— Empurrei para a frente por inércia. Para resistir me concentrei em mim mesmo, na leitura, no esporte e basicamente em resistir o dia a dia.
— Se negou sempre a colaborar com o centro penitenciário. Não aceitou dar cursos a outros presos. Custou-lhe essa postura?
— Segue me custando. Fiz os piores inimigos em todas as partes: narcotraficantes, banqueiros, juízes e também entre os que trabalham aqui dentro.
— Mudou muito o cárcere nesses longos trinta anos?
— A maioria dos que entram são doentes mentais ou estão dopados. Hoje o cárcere já não é o vigiar e castigar de Foucault, mas o refletido por Orwell, a polícia do pensamento. Não se busca reabilitar. Basicamente isto é um negócio. Os que têm dinheiro saem do cárcere. Os que têm padrinhos políticos têm privilégios…
— Que fará quando sair?
— Criarei um ateneu que se chamará Agustín Rueda em meu sítio, no condado de Mos. Impulsionarei coletividades, editoras… baseados no apoio mútuo e na formação. Há que voltar à terra.
— Nada que ver com sua trajetória anterior
— Sim, é uma questão de realidade, de pragmatismo. Me vejo mais ajudando a formar e educar a outros companheiros que assaltando bancos. Traduzindo livros interessantes que não estão em espanhol, criando cooperativas…”
Tradução > Sol de Abril
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