Por Marcolino Jeremias
Numa fase embrionária em que os grupos anarquistas e socialistas estavam em formação no Brasil, era muito frequente e corriqueiro que militantes das duas vertentes escrevessem para os mesmos jornais, organizassem conferências e manifestações juntos, em datas como o 1º de Maio ou no aniversário da Comuna de Paris. Isso muda um pouco com a formação do primeiro Partido Socialista Brasileiro em 1902, quando as divergências políticas se aprofundam.
Ainda nessa primeira fase de formação dos grupos políticos específicos e de organização dos primeiros sindicatos de resistência no Brasil, o jovem Edgard Leuenroth (que mais tarde se tornaria um emblemático militante anarquista) foi apresentado as ideias socialistas por um militante baiano, segundo as palavras do próprio Leuenroth: “Ao deixar o curso escolar, em princípio, empreguei-me como menino de escritório, para limpeza, recados, etc., do corretor de títulos Leonidas Moreira, na rua do Comércio, hoje Álvares Penteado. Ali ouvi, pela primeira vez, discutir-se sobre o socialismo, em consequência da presença de um homem que participou dos iniciais movimentos dessa ideologia em nosso meio. Estevam Estrella era o seu nome. Baiano corpulento, evidenciando-se inteligente e culto, falava com desembaraço nordestino. Logo a sua chegada, transformava-se o escritório em centro de animadas tertúlias. Mais tarde, por ocasião de um passeio à Cantareira, tornei a vê-lo sobre uma mesa, com a camisa aberta mostrando avantajada musculatura. Discursava a propósito de problemas sociais“.
Estevam Estrella havia nascido na Bahia e trabalhava como corretor em São Paulo. Ao conhecer as ideias socialistas, passou a participar ativamente das movimentações sociais ainda nos últimos anos do século XIX. Era um exímio orador e devido sua militância social chegou a ser preso junto com anarquistas como Gigi Damiani, numa manifestação recordando os mártires de Chicago. Viveu em Santos durante algum tempo, onde novamente foi preso.
Segundo a publicação anarquista Kultur, era um ‘socialista revolucionário com tendências anarquistas’. Mesmo após a fundação do PSB, continuava não acreditando na eficácia da disputa eleitoral como agente transformador da sociedade. Após abraçar as ideias de emancipação social, Estevam Estrella foi perseguido tanto pelas autoridades como pela burguesia de sua época. Por causa disso, teve muitas dificuldades para exercer o seu ofício. Morreu na miséria. Nem tudo estava relacionado ao eixo São Paulo x Rio de Janeiro, nem tudo era italiano, estrangeiro, nem “flor exótica” como afirmavam as autoridades brasileiras (com o objetivo de combater o anarquismo), ou como parte da historiografia oficial permanece repetindo durante décadas!
agência de notícias anarquistas-ana
cerveja gelada
amigos no boteco
palavra molhada
Carlos Seabra
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!