Em entrevista, a professora de história Kristin Kobes du Mez conta sobre como o cristianismo mais reacionário dos tempos modernos vicejou nos Estados Unidos e de lá tem sido exportado para o mundo, estabelecendo forte base inclusive no Brasil
Kristin Kobes du Mez é professora de História na Calvin University, de Michigan. Em seu livro “Jesus e John Wayne: como o Evangelho foi cooptado por movimentos culturais e políticos” [Editora Thomas Nelson Brasil, 2022], ela descreve a ascensão da direita evangélica, dos primeiros telepregadores e antifeministas da Guerra Fria à conversão de Trump no presidente da “Maioria Moral”.
Seu livro tem uma abordagem estadunidense, mas a presença do evangelismo na Europa é cada vez mais notável. É um fenômeno mundial em expansão?
O evangelismo conservador é a versão reacionária do cristianismo que está se espalhando por todo o mundo através das missões que as organizações evangélicas estadunidenses exportam para muitas partes do planeta, com mensagens populares e agressivas campanhas de penetração em comunidades locais, através de rádios, televisões e publicações por onde difundem seu credo para dominar o mercado religioso.
E agem com astúcia, combinando as tradições patriarcais com as agendas nacionalistas locais mais retrógradas. Desde a publicação de meu livro Jesus e John Wayne, recebi informações precisas sobre o aumento de sua presença e influência no Canadá, Reino Unido, Austrália, Alemanha, Holanda, China, Brasil, Uganda, Quênia e também na Espanha.
Quais são os valores dos evangélicos?
Nos Estados Unidos, querem restaurar a “América cristã” e ordenar a sociedade segundo as leis de Deus. Isto se traduz em uma ênfase hierárquica da autoridade masculina e uma política baseada na “lei e na ordem”.
São pessoas que se opõem aos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais, ao aborto, à imigração, à redistribuição de renda e a qualquer tentativa de abordar as desigualdades sociais, pois apoiam sem rodeios o capitalismo de livre mercado. Também são muito propensos a negar a existência do racismo.
Além disso, enquanto muitos defendem a democracia liberal, o evangelismo branco estadunidense está cada vez mais inclinado a tendências autoritárias. Apoiam as lideranças fortes, mostram muito pouca preocupação com a supressão de direitos civis e acreditam que a violência política pode ser justificada se é para proteger sua visão do que deve ser os Estados Unidos.
Alguns admiram a maneira em que políticos como Putin, Orbán e Meloni lidam com o poder. A facção mais extremista defende que as leis de Deus estão acima de qualquer compromisso com a democracia, pois está convencida de que está construindo sua obra e que Deus está do seu lado.
Em plena crise de legitimidade do liberalismo, são um perigo para o sistema?
Sim, absolutamente. O elemento cristão mais radical representa um perigo para a democracia liberal. Acreditam que a finalidade de sua doutrina autoritária justifica os meios.
Sentem-se à vontade enfrentando os tribunais, proibindo os setores mais críticos de votar ou fazendo interpretações da Constituição para privilegiar os direitos daqueles que compartilham de sua agenda.
Na Europa, e concretamente na Espanha, o número de seguidores tem crescido. Onde está o seu sucesso?
Dedicam enormes recursos financeiros para promover ensinamentos que fazem crescer o seu movimento religioso. Sempre dominam a tecnologia moderna para disseminar mensagens e são incrivelmente acolhedores quando as pessoas entram pela porta de sua igreja desencantadas com um Estado que não lhes oferece qualquer resposta.
Tenha presente que os evangélicos oferecem um senso de comunidade e identidade a seus fiéis, em uma época caracterizada pela incerteza econômica e a mudança cultural. São formados na crença divina da prosperidade, que promete sucesso aos seus adeptos, tanto neste mundo como no próximo.
>> Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui:
https://www.paulopes.com.br/2023/06/evangelicos-crescem-em-todo-o-mundo.html
agência de notícias anarquistas-ana
a borboleta
pousa sobre o sino do templo
adormecido
Buson
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!