Uma prisão flutuante para migrantes na Inglaterra

MANTER OS CORPOS INDESEJADOS AFASTADOS, MANTENDO-OS ANCORADOS: O GOVERNO INGLÊS ENCONTROU UMA NOVA MANEIRA DE OTIMIZAR SUA POLÍTICA RACISTA.

No final da Idade Média, durante a epidemia da Peste Negra, a “quarentena marítima” foi introduzida na Europa. Diante de uma doença que estava dizimando a população, os navios que chegavam a um porto tinham que permanecer atracados com sua tripulação por 40 dias, confinados em uma área isolada para evitar a contaminação da população. Em 2023, os migrantes ficarão confinados em um navio flutuante ancorado em uma ilha. Como se eles fossem, por sua própria natureza, uma ameaça à saúde.

Para combater a imigração, a União Europeia já ergueu muros e arames farpados no Leste Europeu e em Calais, ilhas inteiras estão sendo transformadas em prisões no sul da Grécia, drones e sistemas de reconhecimento biométrico estão sendo usados, e a guarda costeira está virando navios no Mediterrâneo. A essa variedade de técnicas de deportação, podemos acrescentar o navio-prisão.

O dispositivo flutuante é chamado de “Bibby Stockholm” e atualmente está sendo rebocado para a costa sul da Inglaterra para ser atracado na Ilha de Portland, em frente à Normandia, por um período de 18 meses. Em termos práticos, o objetivo é estacionar 500 refugiados lá enquanto seus pedidos de asilo são examinados pelas autoridades. O objetivo é evitar que eles coloquem os pés em solo inglês até que seu destino seja decidido.

O ministro do Interior inglês afirma que isso “aliviará a pressão sobre o sistema de asilo” e “economizará dinheiro” nos custos de acomodação. O jornal The Guardian revelou nos últimos dias que o navio ofereceria uma economia insignificante. Ele é, acima de tudo, um símbolo, uma câmara de compressão.

O navio foi construído em 1976 e ostenta a bandeira de Barbados. Ele já foi usado como uma barcaça de acomodação desde 1992. O Estado alemão o utilizou para abrigar pessoas sem-teto e requerentes de asilo no porto de Hamburgo na década de 1990. A ideia de manter afastados os indesejáveis, os pobres e os imigrantes, já existia. Usado pela Holanda, o Bibby Stockholm foi questionado após a morte de um solicitante de asilo devido à falta de cuidados na embarcação.

Ainda mais sinistro é o fato de que a Bibby Marine, a empresa proprietária da barcaça, foi fundada por John Bibby, um empresário que fez fortuna com o comércio colonial e a deportação de escravos, principalmente para o Brasil, no século XIX.

Um símbolo tenebroso.

Fonte: https://contre-attaque.net/2023/07/20/une-prison-flottante-pour-les-exiles-au-large-de-langleterre/

agência de notícias anarquistas-ana

sobre um ramo seco
uma folha se pousa
e trina ao vento

Rogério Martins