No verão passado, Rui Gomes Coelho e Sara Simões, à frente de uma equipe internacional de arqueólogos, foram à procura da memória da escravatura africana num monte alentejano em Alcácer do Sal, depois de terem estado anteriormente no vale do Cacheu, na Guiné-Bissau. No vale do Sado escutaram as reminiscências daqueles que ficaram lembrados como “os negros do Sado”. Os trabalhos arqueológicos juntam as peças desse puzzle histórico com a complexa malha cultural alentejana, os efeitos sócio-ambientais do colonialismo e da escravidão no vale do Sado e as continuidades com o latifúndio extrativista dos campos do Sul.
Que objetivos vos levaram ao Monte do Vale de Lachique em Alcácer do Sal e que questões o projeto ECOFREEDOM – Ecologias da Liberdade: Materialidades da Escravidão e Pós-emancipação no Mundo Atlântico pretende suscitar?
Rui Gomes Coelho: Este projeto procura analisar e refletir sobre os efeitos sociais e ambientais que decorreram do colonialismo e da escravidão modernas, isto é, a partir dos séculos XV-XVI. Orientam-nos algumas questões específicas: Como se materializaram na vida quotidiana as mudanças entre uma sociedade onde a escravatura era um fator determinante e uma sociedade em que todos eram formalmente livres? Que transformações ambientais decorreram desses modelos de sociedade? Pensamos que sociedades diferentes tiveram ecologias distintas e que, de uma forma geral, essas ecologias corresponderam a relações específicas entre plantas, humanos e outros animais e a paisagem. Por outro lado, diferentes ecologias indexaram variados tipos de práticas agrícolas e de gestão do trabalho, assim como padrões distintos de ocupação do território. É possível que, numa sociedade escravagista, a agricultura estivesse mais dependente de culturas comerciais, ou de culturas que pudessem ser úteis ao próprio tráfico de pessoas. A emergência do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas e das economias de plantação tiveram consequências brutais e formaram o mundo em que vivemos hoje. Entre essas transformações estão, por exemplo, o abandono de áreas cultivadas de forma tradicional e a generalização da monocultura, com a consequente redução da diversidade agrícola e homogeneização sensorial das sociedades. Para estudarmos este processo decidimos selecionar dois locais distintos no mundo Atlântico: O vale do Cacheu, na Guiné-Bissau, e o vale do Sado, em Portugal. São regiões muito diferentes, mas une-as uma história comum: as suas posições exemplares no contexto que tratamos, quer enquanto porto de tráfico, no caso de Cacheu, quer enquanto fronteira de experimentação agrícola, no caso do Sado. Esta história, que não é linear, desvela-se nos campos de arroz que encontramos tanto no Sado como em Cacheu. O arroz foi, de certa forma, uma cultura agrícola que ganhou importância com o tráfico, e terá sido neste contexto que passou a ser cultivada no Alentejo. De acordo com estudos recentes, é possível que tenham sido africanos escravizados os responsáveis pelo saber-fazer que está por detrás dos campos de arroz do Sado.
>> Leia o texto na íntegra aqui:
https://www.jornalmapa.pt/2024/02/21/historias-da-escravatura-no-alentejo/
agência de notícias anarquistas-ana
terreno baldio
lixo revirado
gato vadio
Carlos Seabra
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!