O coletivo madrilenho lança uma campanha para comprar o local com a ajuda de seus clientes, sócios e vizinhos: “Apostamos por nos manter no centro geográfico e político como lugar de resistência”.
Por Henrique Mariño | 02/07/2024
Ruas fotocopiadas, bairros intercambiáveis, urbes similares. A gentrificação, a turistificação e a globalização estão convertendo os centros das cidades em áreas temáticas —as mesmas lojas, os mesmos bares, os mesmos apartamentos— onde começam a escassear os vizinhos e os negócios tradicionais. Traficantes de Sueños, muito mais que uma livraria, resiste em Madrid, ainda que o anúncio da venda do local que ocupam na Rua Duque de Alba pôs a seus responsáveis em alerta em dezembro passado.
Buscar outro local apesar dos aluguéis subindo? Renunciar a um propósito que transcende a venda de livros, porque também editam, distribuem e agitam? Mudar de localização e deixar atrás o triângulo de Lavapiés, Tirso de Molina e La Latina? Não a tudo: seus vinte trabalhadores e trabalhadoras decidiram comprar o estabelecimento, reformá-lo e continuar com um trabalho crítico e reflexivo que os levou a receber o Prêmio Livraria Cultural em 2015, concedido pela Confederação Espanhola de Grêmios e Associações de Livreiros (CEGAL).
“Apostamos por nos manter no centro geográfico e político como lugar de resistência”, explica Charlie Moya, membro da Traficantes de Sueños, que convocou esta sexta-feira seus amigos, vizinhos, clientes e sócios para apresentar-lhes o projeto. “Encantaria-nos que passasses a fazer parte desta alegria coletiva”, convida através de suas redes sociais, onde deixa claro que a Senda de Cuidados, a Red Interlavapiés e Traficantes de Sueños decidiram preservar este lugar de “encontro e construção coletiva”.
Charlie Moya redunda no objetivo: “Que a militância madrilenha possa seguir tendo seu espaço”, cuja fisionomia remete a uma livraria, ainda que ele o entenda como “tudo o que passa por nosso edifício”: apresentações, debates, encontros, conferências, projeções, oficinas, cursos e um longo etcetera onde “seguir pensando juntas e construir em comum”. Também seus muros: ainda que o local custe 1,2 milhões de euros, necessitam outros 300.000 para a reforma, daí o chamado desta sexta-feira, às 19.30 horas, na Rua Duque de Alba, 13.
“A proprietária pôs à venda o local ante a obrigação de realizar umas obras cujo custo não quis assumir. Então pensamos que era o momento oportuno para continuar aqui, porque confiamos no bairro e nas vizinhas”, acrescenta o membro de um coletivo que opera como uma associação sem objetivo de lucro e que se define a si mesmo como um “projeto de economia social” e como uma “empresa política”. Sempre, segundo Charlie Moya, junto à cidadania, sobretudo nos “momentos críticos e necessários”, da eclosão do 15M ao auge do feminismo.
“Desde há mais de 25 anos abrimos nosso espaço ao debate, pelo que devemos seguir resistindo em um momento de mudança e incerteza. Também, consideramos que a compra do local suporia dar um salto”, pondera o membro da Traficantes de Sueños, que também publica ensaios, distribui livros de editoras alternativas, oferece serviços de desenho gráfico e organizam cursos através de Nociones Comunes, a quinta pata de uma iniciativa à qual haveria que somar o Espaço La Maliciosa.
Situado no bairro das Acacias —a quinze minutos caminhando, torrentera abaixo—, abriu faz dois anos em colaboração com Ecologistas em Ação e a Fundação dos Comuns, uma rede de propostas similares impulsionadas desde várias cidades do Estado que realiza trabalhos de investigação e estimula o pensamento crítico. O investimento, julga Charlie Moya, permitiria consolidar La Maliciosa como ateneu comunitário e converter a Traficantes de Sueños em uma referência não só madrilenha, mas também espanhol.
Entre outras medidas, ampliariam os fundos editoriais, um atrativo a mais para os clientes e os sócios, que apontam o projeto ao comprometer-se a um gasto mensal fixo. Muitos são vizinhos de Lavapiés e outros bairros centrais, testemunhos do assédio imobiliário ou já centrifugados pelo sistema. “Temos que permanecer neste espaço também para evitar que acabe sendo um piso turístico, um hotel ou um estabelecimento de uma grande rede”, conclui o porta voz da Traficantes de Sueños, integrada por vinte pessoas e que esta sexta-feira desvendará os passos a seguir para a compra do local.
Elas, Senda de Cuidados e a Red Interlavapiés aportarão 150.000 euros, mas necessitam outros tantos em doações para adquirir o piso, que conta com uma planta superior na qual se celebram debates e apresentações. Um quinto da quantia final, pelo que também aceitam empréstimos a 0% de interesse. Podem consultar todos os detalhes em #ConVosotrasSí: el proyecto de Duque de Alba se queda, onde facilitam a conta bancária de uma entidade que reivindica “a figura do livreiro como agitador cultural” e fomenta “o olhar crítico para a realidade e a cooperação cidadã”, segundo o jurado do XVII Prêmio Livraria Cultural.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
No espaço, um brilho
qual uma folha viva:
O grilo.
Edércio Fanasca
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!