Com os jogos anunciando a exclusão urbana e um aumento na vigilância, perturbações e protestos marcam a passagem da tocha olímpica pela França
A atual emergência política na França ocorre apenas algumas semanas antes dos Jogos Olímpicos, que devem ser oferecidos como um falso símbolo de inclusão e internacionalismo. No entanto, o grafite “Zbeul Olympiques” é amplamente visto decorando a publicidade do metrô de Paris. Zbeul, que se pode traduzir como “uma baita de uma bagunça”, expressa a desconfiança dos oponentes em relação ao carnaval olímpico nacionalista e neoliberal.
Em Marselha, “100 dias de Zbeul Olympiques” estão sendo realizados em resposta à chegada da tocha olímpica à cidade. Em uma manifestação no dia 8 de maio, os manifestantes denunciaram “o advento de uma sociedade de vigilância generalizada” e a crescente exploração de “trabalhadores, especialmente voluntários e imigrantes sem documentos” por meio dos jogos olímpicos, que transformam as cidades em “uma betoneira para turistas e a especulação, ao por exemplo remover ‘indesejáveis'”.
De acordo com a Organização Comunista Libertária, a expulsão das ocupações de pessoas sem-teto em Paris continuou “em um ritmo infernal até as férias de inverno, e recomeçou assim que elas terminaram”, incluindo uma ocupação de quase 300 pessoas em Vitry e a ocupação Unibéton em Saint Denis. Algumas associações apresentaram a cifra de 4.000 pessoas sem-teto, muitas sem documentos, ameaçadas desde a primavera de 2023.
Há décadas, os jogos olímpicos têm feito com que as cidades abram caminho para um saque corporativo do espaço urbano: destruindo bairros pobres para dar lugar a uma vila olímpica, que mais tarde se torna uma área cara e exclusiva. Em vez de regeneração, as Olimpíadas trouxeram gentrificação. Em Paris, a vila dos atletas, para a qual foram destruídas 3 escolas, 19 empresas, 1 hotel e 2 residências, será convertida em escritórios, lojas, hotéis e residências de luxo, assim como o novo centro aquático olímpico próximo ao Stade de France. Parte do parque Courneuve também foi desclassificada para acomodar o grupo de mídia e dará lugar a residências de luxo em uma área onde as moradias já estão superlotadas. Desde que Paris foi designada como cidade-sede em 2017, os preços dos imóveis aumentaram 22,3%.
O aumento da vigilância estatal também é motivo de preocupação. Durante as Olimpíadas e bem depois (até março de 2025), o Estado francês imporá pela primeira vez a “vigilância algorítmica por vídeo”, ou seja, a coleta abrangente e a análise por IA de imagens de câmeras fixas e drones. Organizações de direitos humanos e sindicatos radicais temem que essa seja outra “medida excepcional” que se tornará permanente e que pode abrir caminho para a legalização do reconhecimento facial – já usado ilegalmente pela polícia nacional desde 2015.
Em St. Etienne, a “Event Sabotage Sports Association” (Associação Esportiva de Sabotagem de Eventos) convocou ações disruptivas durante a passagem da tocha olímpica na forma de “um grande passeio musical e esportivo”, incluindo “caminhadas-pinturas, danças de contato com a rua e cochilos dinâmicos”. Ativistas de solidariedade à Palestina também têm protestado contra a passagem da tocha em vários locais, incluindo Sisteron, Angers e Rennes. Os defensores do boicote pediram que Israel fosse excluído dos Jogos, da mesma forma que os atletas russos e bielorrussos só podem competir como neutros.
~ Daniel Adediran
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2024/07/03/a-concrete-mixer-for-tourists-and-speculation/
Tradução > anarcademia
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agência de notícias anarquistas-ana
Chuva de granizo —
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A minha varanda
Tony Marques
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!