“Anarcocapitalismo”, “fascismo”, “neoliberalismo”, “imperialismo”, “colonialismo”, “extrativismo”… eles não sabem mais o que dizer para manter o “bom nome” do modo de produção capitalista a salvo. Para não chamá-lo pelo que ele é.
Não estamos nos referindo aqui aos atuais defensores rudes do capitalismo, mas a seus defensores mais sutis, seus supostos reformadores ou supostos controladores, que se concentram na parte dessa sociedade que não lhes agrada ou em alguns de seus “excessos”. Assim, temos os autoproclamados anticapitalistas que chamam certos aspectos de capitalismo e não vão ao cerne da questão, bem como os seguidores do bom capitalismo que só precisa de uma limpeza de seus aspectos mais prejudiciais, que eles preferem chamar de outra coisa. O progressismo peronista é a encarnação mais palpável e atual deste último, razão pela qual tem sido o principal partido da ordem nas últimas décadas, enquanto os primeiros se limitaram a ser o seu vagão, o que é cada vez mais evidente diante do “avanço da direita”.
Cristina Fernández de Kirchner destacou, com relação à agricultura e à mineração, que se trata de “um setor que tem crescimento, mas que, à medida que se desenvolve em nosso país, fala de um plano extrativista, ou seja, a tomada de todos os recursos naturais sem valor agregado, sem tecnologia, sem industrialização, em outras palavras, pré-capitalista, porque me lembra a Argentina do Vice-Reino do Rio da Prata, onde eles tomaram toda a riqueza e não deixaram nada, portanto, em vez de anarcocapitalismo, me parece anarcocolonialismo”.
Não há aqui nenhuma tentativa de cooptar os movimentos sociais, como algumas pessoas pensam quando compartilham com um funcionário a terminologia que consideram ser a sua própria. Se o principal gerente das duas últimas décadas de um estado que representa um espaço de acumulação de capital baseado principalmente na produção primária fala de extrativismo e colonialismo, isso nos diz mais sobre os termos usados do que sobre a pessoa que os usa ou sobre o setor que ela representa.
O discurso de um dos líderes da oposição política ao atual governo não é muito diferente do discurso da esquerda e de boa parte dos movimentos sociais. Mas não se trata de uma “apropriação” de discursos, mas de uma perspectiva que, por mais equivocada que seja, pode ser compartilhada com o peronismo, progressista ou não. E não faz sentido relembrar o envolvimento do peronismo em cada uma das transformações do capitalismo local, incluindo o chamado “neoextrativismo progressista” do kirchnerismo, se então abraçarmos a lógica do mal menor.
Em vez de se enredar em discursos, é mais pertinente analisar o lugar da Argentina e da região na divisão internacional do trabalho, bem como as características da reprodução do capital e do proletariado, a fim de compreender o conteúdo das lutas que estão ocorrendo e suas perspectivas. Caso contrário, na ausência de reflexão, a esperança política e estatista, o nacionalismo de esquerda e peronista, estará sempre à mão para manter a ordem capitalista.
Há algumas edições, refletimos sobre o slogan “a pátria não está à venda”. Lá, destacamos algo tão básico quanto fundamental: aqueles de nós que não possuem nada não podem vender algo que não nos pertence. Envolver-se na defesa dos interesses de algum setor da burguesia impede uma compreensão e uma luta que se oponha à exploração, mas, além disso, não foi demonstrado que isso necessariamente leve a uma melhoria nas condições de venda de nossa força de trabalho.
Insistimos na necessidade de questionar a normalidade com que uma sociedade de classes com que se aceita e celebra a propriedade privada dos meios de produção. Onde é necessário vender nosso tempo e energia, nossa força de trabalho, para sobreviver. Onde não podemos decidir coletivamente o que e como produzir. Onde o dinheiro é o mediador de todas as atividades e vínculos humanos. Onde impera a falta de sentido, ou melhor, a razão capitalista para casas vazias enquanto muitos dormem nas ruas e tantos outros estão superlotados. Onde toneladas de alimentos disponíveis são jogadas fora. Onde cada vez mais a população é excedente para as necessidades do capital.
Tudo isso não está abertamente em questão, mas apenas quem administra toda essa privação e alienação em nível local. Quem governa para atender aos interesses de um ou outro setor burguês.
boletinlaovejanegra.blogspot.com
Tradução > Liberto
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