Por Suzana Camargo| 23/09/2024
Os brasileiros passaram as últimas semanas respirando a fumaça tóxica dos incêndios que se espalharam por diversas regiões do país, agravados por uma grave estiagem e seca que parecem ter se tornado “o novo normal” para esta época do ano, uma alarmante consequência das mudanças climáticas. E justamente nesta semana, em que líderes mundiais se encontrarão na sede das Nações Unidas, em Nova York, para discutir entre outros desafios globais, a crise do clima, executivos das principais empresas petrolíferas do mundo participam de um encontro no Rio de Janeiro.
O congresso, considerado “um dos maiores eventos globais de energia”, era até então chamado de Rio Oil & Gas, mas provavelmente como hoje em dia esse nome pegaria mal, ele foi batizado agora de ROGe, Conectando Energias. Com patrocínio master da Petrobras e do Governo Federal e promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), estarão debatendo o futuro da energia ali companhias como Shell, BP, Exxon e Total – a grande maioria delas já tinha sido alertada na década de 70 que a queima de combustíveis fósseis provocaria o aumento da temperatura do planeta.
Para protestar contra o encontro no Rio – chamado por ambientalistas de “Saldão do Fim do Mundo”-, organizações da sociedade civil estão realizando uma manifestação pacífica no Boulevard Olímpico, onde acontece o congresso. Foram levados para o local um inflável gigante com a foto dos executivos das petroleiras e a frase “Eles lucram, a gente sofre”.
Além disso, em diversos bairros do Rio de Janeiro foram espalhados cartazes “para expor a responsabilidade das grandes corporações de petróleo pela atual emergência climática.”
As ONGs questionam que, mesmo que o congresso divulgue o foco em uma “transição energética justa”, a presença das petroleiras no evento levanta questões cruciais sobre a transição para um futuro sustentável.
Entre os palestrantes que aparecem como destaque no evento no Rio está a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que logo que assumiu o cargo deixou bem claro que é favor da exploração de petróleo na Foz do Amazonas e que é “o dinheiro do óleo que vai bancar a transição energética.”
“Enquanto uma parte do governo brasileiro participa da Semana do Clima em Nova York, com foco em discutir ações concretas para enfrentar a crise climática, outra parte recebe os principais executivos do setor fóssil do mundo para a “Semana brasileira do petróleo e gás”, afirma Ilan Zugman, diretor para América Latina e Caribe da 350.org. “O Brasil vem sofrendo alguns de seus piores eventos climáticos extremos, a resposta deveria ser fácil, mas até o momento não é. O país busca protagonismo internacional na agenda climática através do G20 e da COP30, então, chegou a hora de tomar suas decisões.”
“As mudanças climáticas estão gerando consequências severas, e as petroleiras parecem alheias a isso. Na COP28, em Dubai, os países signatários do Acordo de Paris concordaram com a transição energética e se comprometeram a triplicar os investimentos em energias renováveis. Mas a realidade é que as petroleiras continuam a promover a exploração de combustíveis fósseis, na contramão do que diz a ciência”, alerta Tica Minami, gerente de projetos do ClimaInfo.
Fonte: agências de notícias
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