Dia do Trabalho na Nova Zelândia: um dia para refletir, resistir e reinventar

À medida que o Dia do Trabalho se aproxima na Nova Zelândia [1], vale à pena recordar as suas origens – não como um mero dia de folga, mas como um lembrete do poder da união dos trabalhadores contra a exploração e na busca por uma sociedade mais justa. Originalmente concebido para homenagear a luta por uma jornada de trabalho de oito horas, o Dia do Trabalho destaca uma história cheia de solidariedade, ação direta e resistência. Mas quanto deste espírito sobrevive nas celebrações do Dia do Trabalho de hoje? E como podem os anarquistas e anticapitalistas reivindicar este dia como um momento de reflexão e resistência radicais?

O Dia do Trabalho na Nova Zelândia tem suas raízes na década de 1840, quando o carpinteiro Samuel Parnell se recusou a trabalhar mais de oito horas por dia, desencadeando um dos primeiros movimentos em direção à jornada de trabalho de oito horas. No final do século XIX, a jornada de trabalho de oito horas tinha se espalhado e, em 1890, o país celebrou o seu primeiro Dia do Trabalho oficial para homenagear o espírito de unidade da classe trabalhadora.

Inicialmente, o Dia do Trabalho comemorava as vitórias da organização sindical e da resistência dos trabalhadores, um dia em que os trabalhadores, muitas vezes com o apoio dos sindicatos, saíam às ruas. Desfiles, discursos e comícios centravam-se nos direitos laborais, salários justos e condições de trabalho mais seguras. Mas com o passar dos anos, o significado do Dia do Trabalho tem sido diluído, mercantilizado e transformado em nada mais que um fim de semana prolongado em Outubro – muito longe de seu princípio radical.

O significado do Dia do Trabalho foi desgastado à medida que os direitos dos trabalhadores diminuíram através de políticas neoliberais, legislação anti-sindical e interesses corporativos. Na Nova Zelândia de hoje, existe uma grande disparidade de riqueza entre os ricos e a classe trabalhadora, a filiação sindical diminuiu e os trabalhadores estão enfrentando empregos precários e custos de vida altíssimos, com salários que não acompanham. À medida que o Dia do Trabalho se torna mais uma questão de vendas e churrascos do que de solidariedade e resistência, é crucial considerar como podemos recuperar este dia para a classe trabalhadora.

Tal como Parnell e os seus pares lutaram por uma jornada de oito horas há mais de 150 anos, os trabalhadores de hoje enfrentam as suas próprias batalhas. Espera-se de quem atua na hotelaria, nos setores de serviços, no varejo e na logística que trabalhe longas horas por baixos salários, muitas vezes sob vigilância e demandas de trabalho eventual baseadas em aplicativos.

Para os anarquistas, o Dia do Trabalho é um lembrete claro de que o capitalismo depende fundamentalmente da exploração dos trabalhadores para sobreviver. Os anarquistas não vêem a erosão dos direitos laborais como um mau funcionamento dentro do capitalismo, mas sim como a sua função inevitável. A luta dos trabalhadores não é simplesmente para melhorar as condições de exploração, mas para acabar com ela. Em vez de negociar melhores condições para os trabalhadores sob o capitalismo, os anarquistas imaginam um mundo onde o trabalho seja uma questão de cooperação, apoio mútuo e associação voluntária – e não de necessidade ou coerção.

O Dia do Trabalho não deve limitar-se à negociação de pequenas reformas, melhores condições ou salários mais justos, mas deve ser visto como um momento para sonhar alto. Imagine um mundo onde todos pudessem partilhar a riqueza da sociedade sem compulsão, onde os trabalhadores administrassem os locais de trabalho e as comunidades das quais fazem parte, sem patrões ou proprietários. Esta visão desafia a própria estrutura do capitalismo e do Estado.

Retomando o Dia do Trabalho: o que podemos fazer?

  1. Pratique Ação Direta: Use o Dia do Trabalho como uma oportunidade para organizar ações que apóiem diretamente os trabalhadores na Nova Zelândia. Isto pode significar redes de apoio mútuo, organização no local de trabalho ou apoio a greves e protestos existentes. Ao resistir ativamente e ao perturbar os sistemas exploradores, resgatamos o Dia do Trabalho como um dia de ação.
  2. Educar e Aumentar a Conscientização: Aproveite este dia para educar a comunidade sobre a verdadeira história do Dia do Trabalho e discutir as limitações das “reformas” capitalistas. Organizar palestras públicas, distribuir zines e criar conteúdos online pode encorajar outros a pensar criticamente sobre o trabalho e o capitalismo.
  3. Desafie o consumismo: resista à mercantilização do Dia do Trabalho como um feriado comercial. Organize ou participe de “dias sem compra” (“buy-nothing days”), eventos de compartilhamento de habilidades ou iniciativas locais de “mercado realmente muito livre” (“really, really free markets”). Estes eventos fornecem exemplos tangíveis de um mundo onde os recursos são partilhados livremente e não comprados e vendidos.

O Dia do Trabalho deveria ser mais do que um feriado ou um aniversário da jornada de oito horas de trabalho; deveria ser um apelo ao desmantelamento das estruturas que nos mantêm presos a uma vida de exploração. Ao reinventarmos o Dia do Trabalho como um dia de resistência anticapitalista, podemos lembrar uns aos outros que os trabalhadores têm o poder de resistir, reconstruir e reivindicar um novo futuro. Se avançarmos e agirmos coletivamente, o Dia do Trabalhador pode mais uma vez ser um ponto de encontro para aqueles que acreditam num mundo onde o trabalho serve às pessoas e não ao lucro.

Neste Dia do Trabalho, vamos rejeitar a conformidade, rejeitar os símbolos vazios da política reformista e, em vez disso, lembrar que a mudança radical começa com a nossa disposição de resistir e reinventar.

Fonte: https://awsm4u.noblogs.org/post/2024/10/27/labour-day-in-new-zealand-a-day-to-reflect-resist-and-reimagine/

Nota:

[1] Na Nova Zelândia, o Dia do Trabalho é comemorado na quarta segunda-feira de outubro.

Tradução > mariposa

agência de notícias anarquistas-ana

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Kátia Viana Barros