Em Os Despossuídos (The Dispossessed), um físico se encontra pego entre sociedades
Por Alan Scherstuhl | 15/10/2024
FICÇÃO
The Dispossessed: A Novel (50th Anniversary Edition)
por Ursula K. Le Guin.
Harper, 2024 ($35)
Um pouco depois da metade de Os Despossuídos, o romance de ficção científica inesgotavelmente rico e sábio de Ursula K. Le Guin sobre um físico pego entre sociedades, o protagonista, Shevek, nascido e criado em um coletivo anarquista, fica bêbado (pela primeira vez) em uma festa chique de uma sociedade capitalista em um planeta que não é o seu. Lá, esse brilhante mas perplexo cientista, é encurralado por um plutocrata com perguntas impertinentes. Qual é o objetivo dos esforços de Shevek para criar uma Teoria Temporal Geral que reconcilie “aspectos ou processos do tempo”?
Shevek explica que o tempo em nossas percepções é como uma flecha, movendo-se em apenas uma direção.
No cosmos e no átomo, no entanto, ele se move em círculos e ciclos, a “repetição infinita” um “processo atemporal”.
“Mas de que adianta esse tipo de “compreensão”, pergunta o plutocrata, “se não resulta em aplicações práticas e tecnológicas?”
As tensões que Le Guin explora aqui — entre o teórico e o aplicável, o cientista e a sociedade — não diminuíram nos 50 anos desde que The Dispossessed conquistou os prêmios Hugo, Locus e Nebula. A ciência neste romance de 1974 — agora reeditado com uma introdução comemorativa cheia de angústias sobre o presente da escritora Karen Joy Fowler — é vaga, uma física explorada através de metáforas. Mas a representação de Le Guin de um cientista preso entre totalmente convincentes mundos opostos continua emocionante em sua precisão, às vezes até mesmo assustadora.
No planeta coletivista Anarres, uma paisagem desértica devastada pela fome, a busca de Shevek por uma Teoria Temporal Geral é frustrada por cientistas-burocratas que estão preocupados que suas descobertas possam se mostrar contrarrevolucionárias. Depois de arquitetar uma fuga diplomática para a exuberante Urras, financiada pela abundância capitalista, Shevek descobre que seu trabalho é visto como proprietário — um produto. Essa perspectiva o muda. Shevek se vê se comportando como os “proprietários” patriarcais de Urras. Bêbado e solitário, esse homem gentil cuja linguagem não tem pronomes possessivos, agarra uma mulher como se ela fosse sua. É um ato que mais tarde o enoja — e o coloca em um curso revolucionário que afetará todos os mundos que a humanidade alcançou.
Le Guin, que morreu em 2018, deixa para os leitores fazerem o que quiserem dessa mudança. A flecha do tempo avançou rapidamente desde 1974, mas os círculos e ciclos da obra-prima de Le Guin continuam a sugerir, com urgente humanidade, tanto o presente quanto o futuro.
Tradução > Alma
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Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!