por Aku Owaka-Haigh | 20/01/2025
O sussurro da poesia, os ritmos melódicos e o chiado da agulha de tatuagem – esses são alguns dos sons que você pode ouvir em qualquer dia no Namnam Space [Espaço Namnam] em Koenji, um centro comunitário de sala única que abriga eventos de arte, música ao vivo e oficinas educacionais.
O design aberto do Namnam é inerentemente confluente, facilitando a comunicação que promove naturalmente um senso de comunidade. Sofás baixos e bancos de madeira se alinham em suas paredes, enquanto o leve som de jazz ecoa de cima.
Pendurados em suas paredes estão os símbolos de suas bases políticas, e o calor de sua comunidade é sentido em sua voz coletiva, que saúda celebridades, amigos e estranhos. Tendo recebido personalidades como Noam Chomsky e Manu Chao em locais anteriores, o Namnam continua a oferecer camaradagem às comunidades queer e anárquicas de Tóquio, ao mesmo tempo em que assume a cadência do espírito contracultural de Koenji.
Visto da rua, é fácil não notar o Namnam Space, escondido nas ruelas secundárias do Koenji Junjo Shotengai, com apenas um folheto direcionando os visitantes até a porta do quarto andar. A porta em si – emoldurada em rosa e com um grande adesivo de uma bandeira palestina – não é tão fácil de passar despercebida. Adesivos políticos e pôsteres de eventos de lojas locais se estendem pelas paredes vizinhas, misturando-se a um fundo desbotado de propaganda de campanhas passadas.
Após três locais e uma longa batalha judicial, o Namnam se estabeleceu em sua nova forma e ambiente. Inaugurado no distrito de Noborito, em Kawasaki, em 2023, e transferido para Koenji em 2024, Namnam é várias coisas: ideologicamente anarquista, anticapitalista e queer; materialmente, um café, uma galeria e um centro comunitário sem fins lucrativos. O Namnam é fundado e operado pela comunidade e tem como objetivo moldar a vida e o sustento de quem o compõe.
Não é de se surpreender que Alberto Carrasco, nascido no México, professor de arte, história e filosofia nas universidades Rikkyo e Hosei, membro fundador do Namnam e possuidor de uma barba de formato impecável, me cumprimente não apresentando a cafeteria, mas mostrando sua vizinha, a Dig A Hole Zines [Zines Cave Um Buraco].
Esses comércios representam uma cadeia em uma rede de estabelecimentos com a mesma mentalidade em Koenji. De bares a lojas de reciclagem, de albergues a lojas de discos, não são os marcadores econômicos de sucesso que motivam seus proprietários, mas o desejo de contribuir para a cultura não-conformista e criar espaços que lhe deem vida.
“É a única loja de zines que funciona 24 horas por dia no mundo”, sorri Carrasco, 34 anos, carinhosamente conhecido como ‘Beto’. A Dig A Hole opera em um sistema de pagamento por confiança, baseado na afirmação otimista de que “quem lê não rouba, e quem rouba não lê”. Esse espírito se estende à The People’s Library [Biblioteca do Povo], uma estante de livros sem equipe do lado de fora das duas lojas, acessível 24/7 e abastecida com livros doados.
Cada integrante do Namnam tem uma história diferente sobre as origens do nome, mas, como explica Carrasco, “Foi apenas uma desculpa para brincar com alguma coisa. Talvez fazer algo com (as primeiras iniciais de nossos membros fundadores). Como estávamos em Noborito, dissemos: ‘Bora (com) Noborito Art Market’. Então (pessoa cofundadora) Nadina disse ‘New Art Manifesto’ [Novo Manifesto de Arte]”. O nome pegou, tornando-se um reflexo da fluidez e da falta de egoísmo das pessoas fundadoras.
Acordada por nossa conversa, Kinako, uma Shiba Inu, começa a patrulhar languidamente a loja. Carrasco brinca dizendo que “namnam” é o som que ela faz quando você brinca com ela.
Carinhosamente reconhecida como a fundadora espiritual do espaço, Kinako não é a única celebridade da comunidade de Namnam. Eles foram patrocinados por figuras políticas, incluindo Chomsky, que visitou o local em 2014 e deu uma palestra para uma plateia lotada, e Chao, um músico multilíngue nascido em Paris que, em várias ocasiões, deu palestras e apresentou sua mistura socialmente conscientizada de punk e reggae.
O local que Chomsky e Chao visitaram não foi o Namnam em sua forma atual, mas sim seu antecessor espiritual, o Cafe Lavanderia, onde uma única frase acima da porta encapsulava seu ethos: musica y anticapitalismo.
Inaugurado em 2009, o Cafe Lavanderia foi onde muitos membros do Namnam se conheceram. Localizado nas ruas intrinsecamente políticas de Shinjuku Ni-chome – o distrito gay de Tóquio – e ostentando uma bandeira antifascista, ele atraiu um público diversificado, internacional e com mentalidade política.
Enquanto muitos espaços queer em Ni-chome atendem exclusivamente à cultura da bebida e ao entretenimento noturno, o Lavanderia ficava aberto por mais horas, reunindo socialistas diurnos e socialites noturnos. Desempenhou um papel fundamental na promoção do espírito político de seus visitantes e criou uma reputação que se tornou mundialmente reconhecida. No entanto, para a consternação de seus proprietários e clientes, a Lavanderia foi despejada em 2023 e forçada a fechar suas portas.
Carrasco foi um dos poucos a herdar os equipamentos da Lavanderia e, com o apoio de Osmani e Nakamura, fundou Namnam naquele mesmo ano. Carrasco pergunta a Lucifer Veneris (que usa os pronomes elu/delu), de 23 anos, estudante da Faculdade de Música Senzoku Gakuen e membre do Namnam, quando visitaram a Lavanderia pela primeira vez. “O Tokyo Queer Collective [Coletivo Queer de Tokio] começou um ou dois meses depois que cheguei ao Japão”, diz, referindo-se à organização social que foi formada nos últimos dias da Lavanderia por seus membros. “Eu estava procurando eventos queer que não fossem de vida noturna.”
Namnam, assim como Lavanderia, adota a nomenclatura “queer”, um termo abrangente para denotar uma diferença do status quo. Esse termo é adotado tanto pelo impulso político por trás dele quanto para destacar uma questão negligenciada no distrito gay de Tóquio: a discriminação.
“(Ni-chome) tem um foco muito forte na identidade”, explica Veneris. “Por exemplo, este é um bar só para gays; aquele é o bar para drags, este é o bar só para lésbicas e mulheres, que (também) é muito transfóbico. É por isso que ter um espaço separado era importante, mesmo em Ni-chome.”
Em Koenji, esse espaço agora está repleto de diversidade, e a escala de seus eventos também está crescendo. Carrasco reflete sobre a realização do “Big Trans Weekend” [Grande Fim de Semana Trans], a maior exposição de arte trans de Tóquio, em 2023.
“Acho que pudemos receber mais de 50 ou mais artistas trans de todo o mundo”, diz ele. “O que é raro é um lugar que é construído pela comunidade, onde todo mundo se sente bem-vindo. Você não precisa ser queer para vir ao Namnam e se sentir em casa.”
Namnam entrou para um bairro com uma história de inconformismo radical que permeia a cena musical underground local, a moda boêmia e o espírito independente. “Acho que (Koenji) sempre foi o local dos sonhos”, diz Carrasco, “mas você precisa estabelecer conexões com a comunidade daqui”.
Os panfletos e adesivos nas paredes do Namnam refletem essa comunidade local. Uptown Records, uma loja de discos anarquista queer e espaço para eventos, e Sub Store, a casa autodenominada de “livros interessantes, cultura e café” são dois nomes recorrentes.
Bem posicionado entre os agitadores políticos de Koenji, Namnam é o lugar onde a paixão encontra o propósito. A Palestina é o foco central de sua ação coletiva. De protestos a petições, arrecadação de fundos e pés no chão, Namnam teve um efeito tangível na vida dos habitantes de Gaza, arrecadando fundos para ajudar diretamente as famílias que fogem do conflito. Como reconhecimento, em 2024, a Al Jazeera News entrevistou os membros de Namnam, um momento de orgulho para Carrasco e a equipe. Embora seus membros recebam com satisfação a notícia do acordo de cessar-fogo, eles veem essa resolução como o primeiro passo em um longo e incansável caminho rumo à libertação.
Por fim, sem abandonar as influências de sua fundação, o Namnam pode facilmente mudar de um espaço descontraído durante o dia para um local noturno repleto de energia e música ao vivo.
Como se fosse necessária uma prova de que o próximo capítulo da história do Namnam será tão apaixonadamente expressivo quanto o último, Carrasco conta uma história: “Em nossa primeira noite aqui (a polícia) veio, o que foi uma espécie de batismo, você sabe.”
Desde que se estabeleceram em Koenji, eles fizeram alguns ajustes para se adaptar ao bairro residencial. Atualmente aberto apenas nos fins de semana em virtude de seus voluntários, o Namnam espera funcionar de quinta a domingo e disponibilizar sua gama de noites de poesia com microfone aberto, eventos de arrecadação de fundos e exposições de arte internacional para uma comunidade cada vez maior em Tóquio.
Fonte: https://www.japantimes.co.jp/community/2025/01/20/issues/namnam-space-queer-koenji/
Tradução > acervo trans-anarquista
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