
Por Victor Serri | 27/01/2025
Após 31 anos de autogestão, um dos espaços mais icônicos da cidade enfrenta a ameaça de despejo. Entre o abandono, a gentrificação e a especulação, os habitantes estão se preparando para resistir a fim de defender um modelo alternativo de vida na cidade
Qualquer pessoa que tenha visitado Barcelona e o Parque Güell certamente notou uma inscrição em um prédio na parte alta da cidade: Okupa y Resiste. Mas essa não é uma casa comum. É o Blokes Fantasma, um edifício ocupado desde 1993, um exemplo emblemático de autogestão e resistência coletiva. Blokes Fantasma não é apenas um lugar físico, mas uma declaração de intenções, o legado vivo do Moviment Okupa que, há trinta anos, deu origem a uma onda de ativismo social na Catalunha e na Espanha. Hoje, no entanto, essa história está correndo o risco de chegar ao fim. Depois de mais de três décadas, o Blokes está ameaçado de despejo e, com ele, um pedaço da história da resistência urbana de Barcelona pode desaparecer.
Do luxo abandonado à autogestão
Tudo começou há quase 40 anos, quando o edifício foi concebido como um complexo residencial de luxo na parte alta da cidade. No entanto, na década de 1980, o projeto foi abandonado no meio do caminho. O local da construção permaneceu inacabado, deixando para trás apenas uma estrutura em ruínas e um guindaste suspenso no vazio, o símbolo de um desastre de planejamento urbano. O motivo do abandono foi simples: o proprietário parou de pagar os trabalhadores e as empresas de construção, forçando-os a parar o trabalho. Após sua morte, seus herdeiros decidiram ignorar a propriedade e as responsabilidades associadas a ela, deixando-a apodrecer por uma década.
Mas onde a especulação falhou, a comunidade agiu. Em 1993, um grupo de ativistas decidiu ocupar o edifício, transformando-o em uma casa autogestionada e um marco para o bairro. O Blokes Fantasma tornou-se um lugar para viver, criar e resistir, um baluarte contra a gentrificação e um refúgio para movimentos sociais e culturais de toda Barcelona. Ao longo dos anos, milhares de atividades foram organizadas sem fins lucrativos, e quase trinta pessoas vivem lá atualmente.
A ameaça de despejo de uma casa fantasma
Após décadas de negligência e prescrição de dívidas, o proprietário legal da propriedade, Joan Escofet Martí, iniciou uma ação legal para recuperar o controle da mesma. Escofet Martí é o herdeiro de uma família de grandes incorporadores que iniciou o projeto na década de 1980. Agora, quase quarenta anos depois, ele está reivindicando uma propriedade que ignorou por décadas. E a decisão é simples: porque todos os termos de dívidas pendentes já prescreveram.
Os ocupantes do Blokes Fantasma não estão apenas defendendo seu espaço, eles propõem uma visão radical para o futuro da cidade. Eles imaginam uma Barcelona onde ninguém acumula riqueza às custas dos outros, onde os recursos são distribuídos de acordo com as necessidades e não de acordo com a lógica especulativa do mercado imobiliário. Um dos slogans mais poderosos da resistência é: “Com Blokes você não pode, somos todos fantasmas”. Palavras que já estão ressoando tanto no vídeo da campanha quanto em todas as paredes dos bairros de Gràcia, Vallcarca e La Salut, em Barcelona.
Repressão: quando a resistência se torna uma ameaça
A ameaça de despejo não é o primeiro ataque que o Blokes Fantasma enfrenta. Em 2014, durante a chamada Operación Pandora, o Blokes foi um dos principais alvos de uma ampla campanha repressiva contra o movimento anarquista catalão.
A Operación Pandora, orquestrada pela polícia catalã (Mossos d’Esquadra) com o apoio da Audiência Nacional da Espanha, teve como alvo vários espaços autogestionados e ativistas, acusando-os de terrorismo sem provas concretas. Entre os espaços visados estavam o Blokes Fantasma e o histórico Kasa de la Muntanya. As acusações contra os ativistas incluíam supostas ligações com os Grupos Anarquistas Coordenados (GAC), uma organização inventada pela polícia para justificar a operação. No entanto, depois que o caso foi apresentado pela própria Audiência Nacional, tornou-se público que as provas eram inexistentes e que se tratava de uma tentativa de criminalizar todo o movimento anarquista e autônomo da cidade.
Apesar das ameaças, dos despejos e da repressão, o Blokes Fantasma continua resistindo. Os habitantes e ativistas sabem que sua luta não é apenas por um prédio, mas por toda uma visão de cidade. O Blokes é muito mais do que quatro paredes ocupadas. É um símbolo do que uma comunidade pode construir quando opta por resistir, organizar-se e imaginar uma alternativa. É uma voz que diz: outro modelo de cidade é possível. E para isso, dizem os ativistas: ‘Não se pode eliminar os fantasmas. O Blokes vive, e com ele a resistência viverá”.
agência de notícias anarquistas-ana
Na tarde chuvosa,
Sozinho, despreocupado,
Um pardal molhado
Edson Kenji Iura
Anônimo, não só isso. Acredito que serve também para aqueles que usam os movimentos sociais no ES para capturar almas…
Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
Não entendi uma coisa: hoje ele tá preso?