[Espanha] O feminismo antimilitarista é imprescindível

Melisa Pérez García, Bego Oleaga Erdoiza e Ana Ribacoba Menoyo

O dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, é uma data de luta em que milhões de mulheres ao redor do mundo exigem igualdade, direitos e justiça. No entanto, em um contexto global marcado por guerras, conflitos e pelo crescimento de políticas militaristas, é mais urgente do que nunca incluir nessas reivindicações uma perspectiva feminista antimilitarista. É fundamental denunciar a atual e injustificável corrida armamentista e o militarismo desenfreado, que ameaçam gravemente a convivência, a cooperação, a segurança e a paz mundial.

O sistema patriarcal e o militarismo estão intimamente ligados. A militarização da sociedade reforça estruturas de poder baseadas na dominação, hierarquia e violência – valores historicamente promovidos pelas construções tradicionais da masculinidade. A existência de exércitos e o investimento em armas perpetuam a ideia de que a força e a agressão são meios legítimos para resolver conflitos, impactando diretamente na normalização das violências.

O feminismo, em sua luta contra todas as formas de violência patriarcal, não pode ignorar o papel que a guerra e o militarismo desempenham na opressão das mulheres. Somos nós, mulheres e crianças, as principais vítimas dos deslocamentos forçados provocados por guerras e conflitos armados, ficando expostas à exploração, ao tráfico para fins de exploração sexual e à pobreza extrema. Apesar das tentativas de invisibilizar, ignorar e até normalizar esse problema, a violência sexual nos conflitos armados tem sido – e continua sendo – utilizada como arma de guerra.

Outro aspecto fundamental do feminismo antimilitarista é a denúncia do gasto militar. A cada ano, governos destinam bilhões de recursos públicos para a indústria armamentista, ao mesmo tempo em que reduzem investimentos em educação, saúde e políticas de igualdade.

É importante destacar que os conflitos bélicos afetam diretamente as lutas feministas e os avanços em direitos. Em contextos de guerra ou repressão, o movimento feminista enfrenta maiores dificuldades para se organizar e reivindicar mudanças. Ativistas são perseguidas, presas e até assassinadas em muitas partes do mundo, onde regimes militares e autoritários reprimem qualquer voz dissidente.

Ao longo da história e em diversas partes do mundo, as mulheres desempenharam um papel fundamental na resistência antimilitarista e na construção de processos de paz. Por isso, seguimos esse legado e nos unimos ao chamado da Marcha Mundial das Mulheres (2025), que convoca “as mulheres dos movimentos do mundo todo a levantarem suas vozes com mais força e energia contra as guerras e o capitalismo, e em defesa da soberania dos povos e do bem viver…”.

Portanto, a partir de nossas realidades locais, denunciamos e rejeitamos a pesquisa e produção militar basca para as guerras. No País Basco, desde 2007, o número de empresas dedicadas à produção militar triplicou, passando de cerca de 70 para mais de 200.

Acreditamos que um mundo solidário, socialmente igualitário e seguro deve começar com uma transformação radical do nosso modelo de vida, do consumismo desenfreado e da superação das desigualdades de todo tipo, derivadas das relações de dominação e exploração dos países do Sul Global.

Isso vai na contramão da lógica perversa imposta por aqueles que, com discursos repletos de eufemismos, defendem uma economia de guerra. Um exemplo claro disso são as recentes declarações de Mikel Torres, Vicelehendakari segundo e conselheiro de Economia e Emprego, que, atendendo ao chamado do Fórum Empresarial Zedarriak, comprometeu-se a impulsionar a “potente” indústria armamentista basca, chamou a aproveitar essa “oportunidade” e garantiu o “apoio” do governo basco ao setor, “pelo bem de todo o país”. Dessa forma, desrespeitou a Lei 14/2007, de 28 de dezembro, da Carta de Justiça e Solidariedade com os Países Empobrecidos, aprovada pelo Parlamento Basco.

Diante dessa ofensiva planejada e perigosa dos mercadores da morte, torna-se urgente refletirmos sobre o modelo de sociedade em que queremos viver. Queremos produzir e criar para a vida ou desviar o olhar enquanto os senhores da guerra impõem sua barbárie?

Além disso, para o nosso coletivo, é inaceitável e eticamente insustentável o financiamento da indústria militar com dinheiro público, pois isso gera morte, destruição, feridas sociais profundas e nos torna cúmplices. Se a guerra começa aqui, devemos detê-la aqui.

E, para finalizar, deixamos um necessário aceno à esperança. Como disse Angela Davis:

É importante agir como se fosse possível mudar o mundo, tornar real um momento na história do planeta em que a exploração, o racismo e a guerra não sejam as principais características da sociedade humana.”

Por tudo isso, neste 8 de março, convidamos todas a participarem das mobilizações do Movimento Feminista de Euskal Herria, sob o lema “Faxismoaren kontra: ausardia eta aliantza feministak!” (Contra o fascismo: coragem e alianças feministas!), para defender nossos direitos e reivindicar um mundo livre de violência, militarização e opressão. Vamos juntas, pois somos imparáveis!

Fonte: briega.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Terra molhada.
No canto da varanda
Canta cigarra.

Marilza Yoshie Shingai

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