[Espanha] Um crowdfunding da La Rosa Negra Ediciones para O Apoio mútuo

Projeto editorial nascido em Vallecas em 2013, a La Rosa Negra Ediciones foi, em seus primeiros anos, uma distribuição itinerante por diversos espaços socioculturais do território nacional, realizando uma constante difusão de livros, revistas e panfletos anarquistas. Em 2016, inaugurou uma livraria em Puente de Vallecas, na rua Santa Julia, 6, ao lado do mercado. Este enclave de cultura libertária foi fechado em 2020, coincidindo com o confinamento pandêmico e, após uma interrupção em suas atividades, o projeto ressurgiu em 2024, desta vez totalmente dedicado ao trabalho editorial.

Sem fins lucrativos e autogestionada, esta modesta, mas comprometida, editora participa anualmente da Feira do Livro de Vallecas —este ano, de 9 a 25 de maio—, trazendo editoras libertárias como La Linterna Sorda, Antorcha ou Volapük, assim como o histórico selo editorial com origem em Móstoles, Madre Tierra, que nos anos 70 inundou as terras ibéricas com milhares de exemplares de uma edição de El apoyo mutuo (O apoio mútuo) a baixo preço, que permaneceu até poucos anos atrás. A La Rosa Negra traz, a cada ano, à Feira de Vallecas autores e militantes históricos do anarquismo, como Alfredo González, Miquel Amorós, Ana Muiña ou Carlos Taibo; além disso, neste ano, organiza um recital de poesia com a CNT de Aranjuez, onde serão recitadas as poesias de Jesús Lizano.

Há alguns dias, a editora lançou uma campanha de financiamento coletivo com o objetivo de publicar o livro El apoyo mutuo. Un factor de evolución, do geógrafo e anarquista russo Piotr Kropotkin. A campanha homônima pode ser consultada na plataforma Goteo.org. Se o crowdfunding atingir seu objetivo, esta obra clássica das letras anarquistas logo contará com uma edição acessível na Espanha. A La Rosa Negra revisou e aprimorou a tradução de Luis Orsetti, comparando-a com a edição inglesa. O resultado é um texto depurado que supera, em qualidade, edições anteriores.

El apoyo mutuo foi a resposta que Kropotkin articulou contra o darwinismo social em voga no final do século XIX. O darwinismo social foi a justificativa pseudocientífica do colonialismo predatório e homicida, assim como do capitalismo fabril, que nas suas fábricas insalubres explorava crianças, mulheres e homens. Tratava-se de uma interpretação tendenciosa do conceito de luta pela existência (struggle for life) usado por Darwin em sua teoria da evolução, exposta em A origem das espécies (1859). Esta interpretação servia para “naturalizar” a injustiça social com a qual os grandes proprietários europeus acumulavam capital. A desigualdade social encontrava sua justificativa na ideia de que os mais fortes, os capitalistas, subjugavam, supostamente de acordo com as leis da natureza, os mais fracos, a classe trabalhadora.

Kropotkin desmontou de forma brilhante essa falácia nas páginas de El apoyo mutuo, expondo exemplos de cooperação entre diferentes espécies animais. Para compreender a ideia fundamental de El apoyo mutuo, é necessário parar no conceito de struggle for life. No processo de seleção natural, a luta pela existência, em um sentido amplo, não inclui apenas a competição, mas também a ajuda mútua, uma estratégia de evolução para a perpetuação das espécies. Kropotkin sustenta que o apoio mútuo é um fator evolutivo mais determinante que a competição, podendo ser comprovado no fato de que as estratégias cooperativas estão altamente desenvolvidas nas espécies superiores. A preponderância do fator cooperativo tem a seguinte consequência: “O apoio mútuo —e não a luta mútua— tem sido a parte determinante no progresso ético do ser humano.”

As elaborações da ideia de ajuda mútua feitas por Kropotkin em El apoyo mutuo não só tiveram o efeito de deslocar o delírio do socialdarwinismo, mas também ajudaram a impulsionar o anarquismo mais brilhante, ao mesmo tempo que forneceram suporte, até os dias de hoje, a todos os movimentos sociais que têm como objetivo transformar o mundo por meio da cooperação social e em oposição ao verticalismo estatal. No epílogo intitulado Anarquismo e darwinismo e escrito por Miquel Amorós para a edição da La Rosa Negra, o autor observa que “o maior mérito do livro que comentamos foi precisamente o de direcionar o olhar para essas formas de vida social passadas que mostravam a existência histórica de uma sociedade autogestionada, independente de qualquer poder exterior. Qualquer projeto de libertação futura terá que levar em conta esse tipo de sociedade e se olhar nesse espelho, não para repeti-la, mas para se inspirar e se deixar levar por ela.”

O passar do tempo beneficiou El apoyo mutuo, concedendo-lhe um lugar na ciência, ao reconhecer que as espécies animais sociáveis têm maiores oportunidades de sobrevivência e progresso. A ajuda mútua percorre a evolução das espécies e da história. Nos tempos atuais, é muito necessário recuperar a ideia de que a cooperação em si mesma é uma estratégia transformadora da realidade. Para aqueles que sentem inquietação diante de um presente repleto de guerras, desigualdade social, fundamentalismo religioso, autoritarismo, desastre ecológico, atomização social e dominação tecnológica; para aqueles que estão em busca constante de uma possível saída para o mundo da mercadoria, para a construção coletiva do futuro da humanidade, temos agora uma oportunidade de colaborar com a La Rosa Negra na publicação de El apoyo mutuo, um livro escrito por um pensador anarquista, mas direcionado ao grande público…

>> Faça sua contribuição aqui: https://goteo.cc/elapoyomutuo

Acracio del Valle

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Gosto de ficar
Olhando as cores do céu –
Os dias se alongam.

Hisae Enoki

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