[Espanha] Redes Libertárias entrevista o Ateneu Al Margen

Redes Libertárias (RRLL): Quando surge o Ateneu Al Margen?

Ateneu Al Margen (AAM): Embora o Ateneu tenha começado a programar atividades abertas ao público a partir de 1986, o projeto já estava sendo concretizado nos anos anteriores. Como primeira referência, pode-se citar a realização da Semana Cultural da CNT (Cine Alameda, 1980) por um grupo de militantes anarcossindicalistas de Valência, cujo núcleo organizativo também estaria presente no nascimento da Rádio Klara em 1982. Os impulsores dessas iniciativas entraram em contato com outras pessoas do campo libertário valenciano (algumas da CNT, outras não) com o objetivo de fortalecer o coletivo e dotá-lo de um espaço estável e amplo, onde pudessem ser desenvolvidas o maior número possível de atividades culturais e artísticas, ao mesmo tempo em que servisse de espaço para a difusão das ideias anarquistas.
Após várias reuniões preparatórias, começaram a ser dados passos para consolidar o projeto, foram definidas as contribuições dos aderentes, criadas comissões de trabalho e, em 1984, já foi adquirido um imóvel no centro histórico da cidade (muito próximo da planta baixa atual) e iniciadas as obras para adaptá-lo às necessidades do centro ou café cultural que se tinha previsto. No entanto, para seu registro e legalização, foi utilizada a denominação de Associação Cultural Estudos, sendo alterada logo depois para Al Margen; assim se manteve até hoje, embora a nível interno e para a programação ou relações com outros grupos, tenha sido decidido utilizar a figura de ateneu libertário.

Quanto ao surgimento da revista Al Margen, que vem sendo publicada ininterruptamente desde 1992, é importante lembrar que seu nascimento ocorreu a partir de um encontro-jantar da militância libertária que o Ateneu convocou em seu 5º Aniversário; desse encontro surgiram iniciativas como o lançamento de uma publicação periódica de debate e reflexão sobre o anarquismo, a criação de uma caixa alternativa para financiar projetos de interesse social ou a reivindicação da memória de Valentín González, trabalhador afiliado à CNT assassinado anos antes na greve do Mercado de Abastos.

RRLL: Quais objetivos vocês estabeleceram?

AAM: Os objetivos desde o início eram dotar-nos de um local e recursos amplos o suficiente para manter o espaço aberto a todo tipo de propostas vanguardistas e críticas ao sistema político e cultural, além de contar com uma boa biblioteca, um arquivo histórico, salas de reunião, um café para as conversas e uma sala multiuso com capacidade suficiente para realizar exposições, teatro, conferências, recitais e outros eventos que surgissem.
É evidente que o projeto inicial era muito ambicioso e que se sabia que nem todos que participaram das primeiras jantas e reuniões se incorporariam à dinâmica de trabalho militante, mas o fato é que, ao ter resistido por quarenta anos e ver em perspectiva tudo o que foi feito, podemos valorizar positivamente a trajetória de Al Margen como coletivo libertário e pensar que algo contribuímos para a renovação e difusão das ideias anarquistas.
Resumindo, dessa trajetória destacam-se a infinidade de atividades realizadas em nossos dois locais sucessivos, os 132 números da revista, a quarentena de livros publicados pela Ediciones Al Margen, nossa participação em programas da Rádio Klara e Rádio Malva, em feiras de livros anarquistas, em mobilizações sociais, etc.
Em definitiva, acreditamos que valeu a pena e, mais importante ainda, que desfrutamos e criamos um grupo de afinidade com uma forte carga afetiva.

RRLL: Quais são os objetivos prioritários?

AAM: Nossas prioridades hoje em dia são resistir ao máximo com o projeto e prolongar nossa permanência pessoal até que as forças permitam. Isso e manter braços e portas abertas para qualquer pessoa jovem que tenha a intenção de se unir ao coletivo e contribuir com suas ideias e ilusões para um futuro que se prevê complexo. De fato, nos últimos meses houve a incorporação de várias pessoas jovens, com as quais procuramos sintonizar para dar continuidade ao ateneu.
Nessa linha, e considerando a escassez de forças e recursos, nossos compromissos atuais incluem manter e melhorar a revista – ampliando o número de colaboradores e leitores -, ir editando alguns livros – tanto textos clássicos do anarquismo como novos trabalhos de pessoas próximas -, e continuar com as atividades habituais de palestras, exposições, poesia, cinema, etc. Também não renunciamos, apesar das reiteradas decepções e frustrações, ao desejo de alcançar uma relação maior e mais fluida entre as múltiplas visões e realidades do movimento libertário, tanto local quanto internacional.

RRLL: Para quem são direcionadas suas atividades?

AAM: Quando programamos uma atividade, nos dirigimos, através de redes sociais e rádios livres, ao maior número possível de destinatários, sabendo logicamente que serão as pessoas mais próximas de nossas ideias as que estarão interessadas. Da mesma forma, fazemos sempre que publicamos um livro ou um novo número da revista.

Mas geralmente são as pessoas que mantêm uma certa relação histórica com o ateneu ou que, em algum momento, colaboraram em nossas atividades que melhor respondem às nossas convocatórias.
Quanto a contatos mais permanentes e colaborações, contamos com os coletivos com os quais tradicionalmente mantemos uma linha de trocas e apoio: rádios livres, ecologistas, feministas, editoras, revistas alternativas, outros ateneus e espaços libertários.
Também temos entre nossos seguidores um bom número de escritores, poetas, pintores, músicos, livreiros, desenhistas, etc., que nos ajudam quando solicitamos.

RRLL: Quais meios de divulgação vocês utilizam?

AAM: Como já foi dito em algum trecho anterior, não descartamos, a priori, nenhum meio de divulgação para nossas convocatórias, embora seja verdade que, com o passar dos anos, temos apostado nos mais eficazes e acessíveis. De fato, nos primeiros anos, costumávamos enviar nossas notas sobre atividades também para rádios e jornais convencionais (Levante, RNE, Cartelera Turia, etc.), mas acabamos nos concentrando nos meios mais próximos e acessíveis: rádios livres, nosso site e redes sociais, grupos de WhatsApp, blogs, publicação de eventos, etc.

RRLL: Contem-nos sobre as características da sua revista

AAM: A revista Al Margen foi mudando com o tempo. No início, era um pequeno boletim com cerca de 12 páginas, sem cores nem fotos, mas progressivamente fomos adicionando páginas (até 32, 36 ou 40, dependendo dos materiais recebidos), duas cores na capa e contracapa, fotos, etc.
Temos várias seções fixas: editorial, poesia, resenha de livros ou filmes, humor (A tapia e Ecos de sujidade), fotos, sindicalismo, notícias e convocatórias de movimentos sociais (El embudo), frases célebres e catálogo das nossas publicações. Desde o nº 30, incluímos um dossiê sobre algum tema de interesse. Além disso, contamos com colaborações fixas em temas como feminismo, ateísmo, ecologia e outros.
A periodicidade, desde o início, é trimestral, o que nos obriga a manter um compromisso e um ritmo determinado de trabalho: escolha do próximo tema para o dossiê, difusão temática proposta, solicitação de colaborações, pedidos de fotos e desenhos para capa e ilustrações internas, diagramação, correções, impressão e, finalmente, distribuição aos pontos de venda e assinantes.

RRLL: A revista ocupa um lugar prioritário?

AAM: Nem sempre foi assim, mas atualmente, provavelmente, é à revista que mais tempo e recursos dedicamos. No entanto, continuam sendo realizadas outras atividades e, quando surge um tema que exige maior dedicação e esforço, ele é tratado.
Se tivesse sido mantido o nível de militância dos primeiros tempos, é muito provável que outras temáticas (presos, biblioteca, memória histórica, distribuidora, antirracismo, etc.) recebessem maior atenção.

RRLL: Quais colaborações poderiam ser feitas entre grupos e publicações anarquistas?

AAM: Em sintonia com o que foi exposto nas respostas anteriores, consideramos muito interessante a colaboração e o intercâmbio de ideias e trabalhos com outros grupos e publicações, mas, conhecendo nossos limites, não nos atreveríamos a grandes projetos nos quais, infelizmente, acabaríamos não cumprindo com os compromissos assumidos. No entanto, até onde pudermos, estamos abertos a colaborar em debates, encontros ou palestras que possam ser gerados com Redes Libertárias e com os outros espaços e publicações de nosso entorno.

Fonte: https://acracia.org/redes-libertarias-entrevista-al-ateneo-al-margen/

Tradução > Liberto

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