No dia 11 de dezembro passado, no edifício da Bolsa de Bilbao, Carlos Taibo nos ofereceu uma palestra organizada em conjunto com a Lumaltik Herriak. Sob o título “Autogestão, apoio mútuo: o que significa ser libertário no século XXI?”, o pensador libertário explorou ideias essenciais para entender as transformações sociais necessárias em tempos de crise global.
A intervenção de Taibo abordou com clareza temas como o decrescimento, a autogestão e a despatriarcalização, posicionando-os como alternativas indispensáveis frente ao capitalismo e às estruturas de poder tradicionais. Sua análise não se limitou ao teórico, mas propôs soluções práticas e profundamente humanas, baseadas no apoio mútuo e na ação direta.
Além disso, Taibo destacou a urgência de desmilitarizar nossas sociedades, denunciar os conflitos armados e construir um futuro baseado na paz ativa e na justiça social.
Neste artigo, apresentamos as 10 chaves principais do que significa ser libertário no século XXI, segundo Taibo, e reunimos algumas de suas reflexões antimilitaristas. Uma síntese que convida à reflexão e ao compromisso coletivo por um mundo possível.
10 Chaves Libertárias
- Crítica ao capitalismo e ao neoliberalismo
“A proposta anarquista deve ser, por necessidade, anticapitalista. […] Ou pode rejeitar ao mesmo tempo o neoliberalismo e o capitalismo, que acredito ser a posição anarquista e libertária clássica.” - Questionamento do Estado e das instituições
“O Estado, em essência, é um aparato a serviço da classe dominante. […] Me preocupa muito mais o segundo risco: a superstição de que o Estado é uma instituição que nos protege.” - Democracia direta e ação direta
“A proposta libertária neste campo fala de ação direta, democracia direta e autogestão.” - Autogestão como prática central
“As coletivizações realizadas no início da Guerra Civil […] demonstraram que era possível gerir uma sociedade complexa sem empresários, burocratas ou capatazes.” - Apoio mútuo e solidariedade
“Grupos de apoio mútuo surgiram nos momentos iniciais dos confinamentos, criados por pessoas comuns, não por ativistas hiperconscientes de movimentos sociais críticos.” - Decrescimento e descomplicação
“Temos que decrescer, desurbanizar, despatriarcalizar, descolonizar e descomplicar nossas mentes, nossas vidas e nossas sociedades.” - Revalorização das culturas pré-capitalistas
“Culturas pré-capitalistas resistem como gatos de barriga para cima às imposições do capital. […] Em muitos casos, preservaram uma relação fluida com o meio natural.” - Luta de classes atualizada
“Estamos assistindo a um endurecimento planetário das condições do trabalho assalariado. […] Hoje, as regras do jogo da luta de classes mudaram, e devemos nos adaptar.” - Rejeição do individualismo induzido
“A maioria das pessoas passa a vida diante de uma tela, em virtude de um projeto aberrantemente individual. […] O que carregamos dentro da cabeça nos afasta de uma transformação radical.” - Visão integral e ecossocialista
“Há anos defendo a construção de espaços autônomos autogeridos, desmercantilizados e despatriarcalizados.”
O antimilitarismo, o pacifismo e a crítica aos exércitos são elementos centrais no pensamento libertário. Em um mundo marcado por conflitos armados, exploração de recursos naturais e militarização das sociedades, essas reflexões ganham uma relevância renovada. A partir de uma perspectiva crítica, evidencia-se como os Estados e as instituições militares não apenas perpetuam a violência, mas também atuam como instrumentos de dominação, controle e saque global. A seguir, reunimos oito chaves apresentadas por Carlos Taibo que conectam o pensamento libertário às ideias antimilitaristas.
- Crítica aos Estados e seu uso da força
“Essa forma de pseudo-democracia não hesita em usar a força por meio da repressão que conhecemos em nossas ruas ou por meio de golpes aplicados em países pobres que têm o azar de possuir matérias-primas muito cobiçadas.” - Denúncia dos exércitos e das guerras
“Me interessam esses adolescentes e jovens que estão morrendo na fronteira, tanto do lado ucraniano quanto do lado russo. Permanentemente esquecidos.” - Desmilitarização como princípio libertário
“Há anos defendo a construção de espaços autônomos autogeridos, desmercantilizados e despatriarcalizados. […] E sinto a obrigação de acrescentar um sétimo verbo: desmilitarizar.” - Impacto dos conflitos armados
“No início do conflito em fevereiro de 2022, a Internacional de Resistentes contra a Guerra pediu que a União Europeia reconhecesse a condição de refugiados às pessoas que decidiram abandonar a Ucrânia e a Rússia. Nenhum dos Estados membros da União aceitou reconhecer essa condição.” - Reflexão sobre a desobediência civil frente à guerra
“Um comboio militar russo avançava. De repente, um grupo de civis, 15, 20, 30, posicionou-se no meio da estrada, bloqueando a passagem do comboio. […] Ninguém se moveu. O tanque que liderava o comboio fez menção de avançar sobre os civis, mas no último momento parou.” - Guerra como ferramenta de explotação
“O capitalismo, no trabalho assalariado, na mercadoria, na alienação, na exploração, na mais-valia, na sociedade patriarcal, nas guerras imperiais, na crise ecológica, no colapso que se aproxima.” - Ecofascismo e militarização
“Cada vez mais conscientes da escassez geral que se aproxima e cada vez mais decididos a preservar em poucas mãos recursos escassos, em virtude de um projeto de darwinismo social militarizado, de ecofascismo.” - Análise da Primeira Guerra Mundial e da fraternização
“Em dezembro de 1914, o primeiro Natal durante a Primeira Guerra Mundial, soldados de ambos os lados confraternizaram, no meio do escândalo de seus superiores, perguntando-se: ‘O que estamos fazendo aqui? Defendendo quem?’.”
Aqui está o áudio completo da palestra:
https://www.youtube.com/watch?v=nDU_7IcmiZI
Fonte: https://www.sinkuartel.org/ser-libertario-en-el-siglo-xxi-tambien-significa-ser-antimilitarista/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
No campo queimado
ainda uma leve fumaça
Tronco resistindo
Eunice Arruda
A FACA agradece a ressonância que nossas palavras tem encontrado na ANA: ideias e projetos autônomos, horizontais, autogeridos e anticapitalistas…
parabens
Parabéns pela análise e coerência.
Olá Fernando Vaz, tudo bem com você? Aqui é o Marcolino Jeremias, um dos organizadores da Biblioteca Carlo Aldegheri, no…
Boa tarde, meu nome é Fernando Vaz, moro na cidade de Praia Grande. Há mais de 4 anos descobri que…