[EUA] Peter Kropotkin, o Príncipe da Ajuda Mútua

Vamos dar uma olhada mais de perto no aristocrata russo que virou anarquista e que (literalmente) definiu o conceito de ajuda mútua.

Por Matthew Wills | 04/02/2025

A ajuda mútua é um sistema voluntário de cooperação, troca e colaboração para o benefício comum. A frase tem sido ouvida cada vez mais neste século, à medida que os estados se revelam menos resilientes diante de desastres naturais e não naturais. A fonte deste artigo, um conjunto de grupos de ajuda mútua na cidade de Nova York, por exemplo, mostra a gama de compartilhamento de recursos/habilidades que está acontecendo.

A ideia de ajuda mútua é muito mais antiga do que seu ressurgimento atual. Afinal, a cooperação tem sido fundamental para a história humana. E o mutualismo, como a cooperação simbiótica é chamada na biologia, é vital para a própria vida. Como o príncipe russo que virou anarquista Peter Kropotkin argumentou há mais de um século com o subtítulo de seu Mutual Aid (1902), é “um fator-chave da evolução”.

No entanto, a ajuda mútua/mutualismo nunca está tão em voga quanto o conflito/competição. Desde Darwin, as elites têm justificado sua existência com a noção da evolução como uma questão de vencedores e perdedores, fundindo a biologia com a economia de mercado e promovendo o que Herbert Spencer chamou de “sobrevivência do mais apto”. Spencer alinhou sua leitura de Darwin com suas próprias teorias econômicas: o “darwinismo social” resultante deveria na verdade ser chamado de “Spencerismo”. A descida do spencerismo à eugenia fundamentou as auto definições da elite — bem como os reinados assassinos do racismo e do nacionalismo — por décadas. Seu reaparecimento na cena americana no século XXI deve ser tomado como um presságio.

A ajuda mútua ainda recebe pouca atenção. Simplesmente não é tão sexy nem atrai multidões quanto a ideia de “natureza, vermelha em dentes e garras” — uma frase presenteada ao mundo pelo poeta Alfred Tennyson. Considere os entretenimentos de documentários sobre a natureza: haverá mais cenas supostamente emocionantes de antílopes sendo caçados por predadores do que de insetos polinizando plantas.

Pyotr Alexeyevich Kropotkin, geralmente chamado de Peter Kropotkin em obras de língua inglesa, nasceu príncipe em 1842. Ele renunciou seu título. Antes disso, ele foi escolhido aos oito anos pelo próprio czar para frequentar a escola de elite militar Corpo de Pajens em São Petersburgo. Em 1861, ele se tornou assessor do czar. Esse foi o ano da emancipação dos servos da Rússia; o pai de Kropotkin possuía servos em três províncias. Naquela época, Peter já estava em processo de radicalização. Ele acabaria sendo preso na Rússia e na França por sua política. Ele passou quatro décadas de sua vida no exílio na Suíça, França e Inglaterra.

Inspirado pela situação dos servos e sua experiência entre os nômades siberianos e os relojoeiros de Jura, Suíça, entre outras influências, Kropotkin se tornou um erudito do comunismo anarquista. Esta versão esquerdista do anarquismo postulou o fim da propriedade privada e da propriedade social e distribuição de recursos.

A teórica política Ruth Kinna coloca Kropotkin em um contexto histórico específico, explicando que:

A teoria de ajuda mútua de Kropotkin pode ser vista como uma tentativa de motivar a ação diante do declínio do anarquismo revolucionário. […] A compreensão particular de Kropotkin da ciência e da teoria darwiniana o levou a acreditar que a ciência poderia ser usada como um instrumento político para deter esse declínio.

Como anarquista, Kropotkin se opôs tanto à social-democracia/marxismo, que ele via como inevitavelmente autoritário, quanto ao liberalismo/individualismo/libertarianismo laissez-faire, que, é claro, negava a ajuda mútua. Em seus argumentos sobre a importância da cooperação no processo evolutivo, ele sugeriu que havia dois sentidos de ajuda mútua, biológico e ético. Como Kinna parafraseia, “Biologicamente, a ajuda mútua era um sentido instintivo de cooperação. A ajuda mútua ética, por outro lado, foi criada pelos hábitos que resultam da prática biológica. Ao cooperar, as espécies formulam códigos de comportamento, línguas e senso de interesse comum.”

Kropotkin retornou à Rússia após a Revolução de Outubro de 1917, mas o estado bolchevique resultante acabou sendo exatamente o que ele sempre argumentou contra. Seu funeral em 1921 seria a última reunião anarquista permitida na União Soviética — depois disso, o anarquismo russo seria implacavelmente suprimido.

A ajuda mútua, no entanto, continua viva — precisamente porque faz parte da vida.

Fonte: https://daily.jstor.org/peter-kropotkin-the-prince-of-mutual-aid/

Tradução > Bianca Buch

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