[Espanha] Um mundo viciado em plástico

A cada ano se produz uns 430 milhões de toneladas de plástico, boa parte deles destinados a produtos de apenas um uso, que alimentam o sistema de “usar e jogar fora”, provocando enormes impactos ambientais.

Por Aurora M. Alcojor | 16/02/2025

Já faz algumas décadas, a proliferação de diferentes tipos de plásticos começou a mudar nossas vidas. O aparecimento deste material trouxe alguns benefícios tanto para as pessoas como para a indústria, facilitando o acesso a numerosos produtos. No entanto, seu uso e abuso se converteu em um problema de enormes dimensões que nem governos nem organismos internacionais sabem bem como abordar. Na atualidade se produzem uns 430 milhões de toneladas de plásticos por ano, segundo as Nações Unidas, e trata-se de um material que leva entre cem e mil anos para se decompor, dependendo de sua composição química.

O problema é que os plásticos são a linha de flutuação de um sistema que se baseia em usar e jogar fora e que tem um impacto ambiental de grande magnitude. Seja nos desertos mais áridos, nas profundezas marinhas ou no pico mais alto do mundo; ali aonde chegou o ser humano chegou o plástico, inundando tudo em forma de sacolas, resíduos ou qualquer tipo de utensílio descartável.

O resultado se pode ver nas enormes ilhas de plástico que proliferam nos oceanos, nos grandes aterros ao ar livre, na acumulação de microplásticos e nos animais marinhos que morrem sufocados ao ingerir resíduos plásticos. Estima-se que a cada ano são jogados nos oceanos ao menos 1,5 milhões de toneladas de plástico — ainda que outros estudos elevem a cifra até ao menos 4,7—, seja diretamente ou através dos rios. Uma vez que chegam ao mar, estes resíduos vão se decompondo em milhares de pedaços menores que são canalizados através das correntes marinhas e terminam provocando essas enormes concentrações que chamamos “ilhas de plástico” e das quais se identificaram até sete. A maior delas é a que se situa no Pacífico e seu tamanho é três vezes maior que toda a França.

Relação com a pobreza

Um estudo da WaterAid e outras organizações calculava em 2019 que até um milhão de pessoas poderiam morrer por ano nos países em desenvolvimento por viver em zonas contaminadas. A relação dos plásticos com a pobreza é chave, pois nos territórios mais empobrecidos estão se produzindo dois fenômenos simultâneos. Por um lado, um brutal desembarque de plásticos em forma de produtos vendidos em dose única — desde bebidas alcoólicas a minúsculas sacolas de frutas secas —, o que facilita a aquisição dos produtos para quem tem um menor poder econômico. Ao mesmo tempo, isto provoca a geração de numerosos lixos em um entorno no qual não existem serviços de coleta de resíduos. Ademais, existe um imenso circuito de comércio internacional, entre legal e ilegal, que não para de crescer — segundo assinala a própria Interpol — pelo qual os países mais ricos, Europa inclusive, enviam seus resíduos plásticos a outros lugares, como Turquia, onde já se registraram casos de trabalho infantil no setor.

Tudo isto provoca a acumulação de resíduos em qualquer lugar, formando lixeiras ao ar livre que, ou se perpetuam durante anos, ou terminam sendo incinerados, com o consequente perigo para a população e o meio ambiente. Em ambos os casos, o processo supõe a emissão de milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, que se somam às registradas pelas indústrias do plástico e petroquímica. Segundo o de informe Plastic & Climate: The Hidden Costs of a Plastic Planet, se ambas as indústrias continuarem sua trajetória de crescimento atual, em 2030 suas emissões alcançarão as 1,34 giga toneladas por ano, o que equivale a mais de 295 usinas de carvão de 500 megawatts.

Enquanto isso, apesar de algumas proibições, tanto na Europa como na Espanha os plásticos descartáveis seguem fazendo parte do dia a dia em forma de recipientes (copos, pratos, vasilhas para viagem), sacolas e envoltórios de todo tipo, cada vez mais demandados pelo comércio a domicílio. O problema, no entanto, é que não se reduz seu uso, mas, simplesmente, vão se substituindo — muito pouco a pouco —, por outros materiais que, embora possam ser mais aceitáveis para o meio ambiente, seguem sendo um enorme problema de gestão de resíduos.

A magnitude do problema é tal que, em fevereiro de 2022, a Nações Unidas começou um processo para pôr em marcha um tratado internacional — que em princípio deveria ser de caráter vinculante — para reduzir a contaminação por plásticos. O último dos encontros deste processo aconteceu em princípios de dezembro em Busan (República da Coreia). Lamentavelmente, entre pressões da indústria e de diferentes Governos, acabou em fracasso. O Tratado Global de Plásticos terá que esperar.

Fonte: https://www.elsaltodiario.com/carro-de-combate/mundo-viciado-plastico

Tradução > Sol de Abril

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De traje a rigor
os urubus em meneios
bailando nas nuvens.

Anibal Beça

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