
A adoção de um programa mínimo comum de construção de um sistema tecnológico básico de obtenção de autonomia relativa (o que poderia ser denominado de Programa “Pró Comum”) por parte dos entes comunitaristas ácratas, em todos os níveis, é algo altamente desejável, por se configurar em uma meta e desafio unívoco que por isto mesmo comporta o potencial de mobilizar conjuntamente as energias dos entes diversos das redes em torno da concretização ágil de estruturas de sustentabilidade fundamentais para a sua consolidação inicial e posteriores desenvolvimentos. Tal sistema tecnológico, para ser minimamente sustentável, deveria abranger todo um conjunto de necessidades básicas prioritárias, tais como água, energia e alimento, perfazendo todo um ciclo completo e fechado que permita a retroalimentação conjunta dos estágios produtivos da cadeia, de forma que os subprodutos de um estágio sirvam de matéria prima para outro estágio, e assim sucessivamente, até que se configure um circuito fechado, minimizando as perdas do processo. O tipo de engenho básico clássico que atende a estas características é a conhecida articulação em um mesmo circuito de equipamentos de horta artesanal – ou conjunto de cultivos por germinação, no caso de insuficiência de espaço, com sistemas de captação de águas das chuvas (ou de poços artesanais) e de filtragem/reaproveitamento naturais de água servida e equipamentos de compostagem e de biodigestores; de forma que a água servida naturalmente filtrada/reaproveitada, aliada aos produtos dos processos de compostagem, além de prover o consumo humano e/ou animal (no caso das águas pluviais ou de poços naturalmente filtradas), possam também servir de insumos para a produção artesanal de hortaliças (no caso das águas servidas naturalmente filtradas e dos produtos dos processos de compostagem), ao passo que os subprodutos destas, por sua vez, se prestam a suprir os precedentes sistemas de reaproveitamento de água e equipamentos de compostagem, bem como estes também suprem equipamentos de biodigestores, que fornecem energia de fonte biológica para, inclusive, fazer funcionar engenhos outros possivelmente necessários para incrementar o funcionamento do circuito.
Acrescente-se a este circuito de produção básica (que poderíamos chamar de “Circuito Básico de Produção”) uma tecnologia de relações econômicas comunitárias – a qual denominaremos de tecido “Ponto Com Nós” -, que se caracterizaria simplesmente pela associação de entes de redes comunitaristas ácratas de todos os níveis em torno de redes de trocas diretas (não intermediadas por nenhum tipo de moeda) de produtos por produtos, produtos por serviços e/ou serviços por serviços. A única regra regulando as relações de trocas nestes tecidos sociais seria a do “ponto único”: isso significa que todas as entidades que os integram, ao oferecerem algum produto e/ou serviço para o tecido e efetuarem uma transação de troca, obteriam um ponto de crédito que lhes permitiria continuar integrando as relações de trocas, porém, mesmo que qualquer ente ofereça vários produtos e/ou serviços e realize várias transações, só poderá obter apenas um ponto de crédito, ou seja, a pontuação máxima permitida é sempre um ponto, que se renova a cada nova oferta de produtos e/ou serviços e/ou a cada nova transação, e que permite continuar integrando o tecido, e assim celebrar qualquer tipo, número ou quantidade de trocas, ilimitadamente, contanto que livremente acordadas entre as partes (o “fiador” de toda e qualquer “negociação” deverá ser sempre a confiança mútua entre as partes e qualquer desacordo ou descontentamento em relação a alguma transação teria na “okara” da rede o fórum apropriado para a busca por uma resolução). Porém, caso algum ente ultrapasse um período de tempo mínimo sem oferecer nenhum produto e/ou serviço – que seria um período pré-estipulado pelo tecido social como sendo um prazo limite de inatividade (para o que pensamos que seis meses seja um prazo razoável) – então, isto acarretaria a anulação de seu ponto de crédito, e seu consequente afastamento do tecido por um período de tempo equivalente ao período em que ficou inativo (salvo se houver uma justificativa aceitável para a inatividade).
Com esta tecnologia de relações econômicas comunitárias – o tecido “Ponto Com Nós”, associada ao “Circuito Básico de Produção”, se completaria o programa mínimo comum (“Pró Comum”), de modo que, por um lado, haveria a previsão da construção de estruturas de produção que abrangessem um conjunto mínimo de necessidades básicas prioritárias, enquanto por outro lado haveria a previsão da construção de tecidos sociais de relações econômicas de trocas diretas que permitiriam assim multiplicar e fortalecer as capacidades de sobrevivência das redes comunitaristas ácratas, por facultarem a todas o acesso franco a produtos e serviços que atendam a outras necessidades diversas não garantidas de imediato por seus circuitos de produção, mas possivelmente atendidas em graus e diversidades tanto maiores quanto maiores forem os “tecidos” assim constituídos.
Trecho do “Manifesto Anarquista Ácrata”, de autoria de Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira.
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ri-se e flutua…
Goulart Gomes
ESTIMADAS, NA MINHA COMPREENSÃO A QUASE TOTALIDADE DO TEXTO ESTÁ MUITO BEM REDIGIDA, DESTACANDO-SE OS ASPECTOS CARACTERIZADORES DOS PRINCÍPIOS GERAIS…
caralho... que porrada esse texto!
Vantiê, eu também estudo pedagogia e sei que você tem razão. E, novamente, eu acho que é porque o capitalismo…
Mais uma ressalva: Sou pedagogo e professor atuante e há décadas vivencio cotidianamente a realidade do sistema educacional hierárquico no…
Vantiê, concordo totalmente. Por outro lado, o capitalismo nunca gera riqueza para a maioria das pessoas, o máximo que ele…