
Foi uma das figuras mais importante do ateneismo libertário durante a guerra. A publicação recente de dois trabalhos recupera parte de seu vestígio junto com o de outros militantes anônimos de vida incrível que também precisam de uma urgente valorização histórica
Por Luis de la Cruz | Madrid — 6 de abril de 2025
A história deste país é tecida por uma lista infindável de biografias notáveis que quase ninguém conhece. Avôs e avós que nos deixaram sem receber suas merecidas homenagens nem, o que é pior, a escuta atenta que a sociedade necessitava. É o caso de Consuelo Zabalza Martínez (1920-2004), uma mulher que, sendo quase uma menina, foi pioneira no campo político e da cultura obreira.
Em 2024 saíram dois livros que, ao menos parcialmente, recuperam os vestígios de Consuelo Zabalza. Sua figura está presente em “La voz de los vencidos: doce entrevistas con anarquistas que vivieron la Guerra Civil en Espanha”, de Lily Litvak, e “Los ateneos libertários de Madrid. Desde sus orígenes hasta 1939″, de Francisco Javier Antón Burgos.
No primeiro capítulo da monografia de Litvak acessamos as vivências de Zabalza através de suas próprias palavras e as de seu parceiro, o destacado militante da CNT Ángel Urzaiz. Consuelo nasceu na Rua Tribulete em 1920 em uma família humilde. Seu pai, Francisco Zabalza, trabalhava no Mercado Central de Frutas e Verduras, um dos principais centros laborais do sul de Madrid, onde era conhecido por suas veleidades sindicalistas. Foi comunista – durante a ditadura de Primo de Rivera foi encarcerado por sua militância–, ainda que logo ingressasse no Sindicato Único da construção da CNT.
Consuelo foi pega pelo golpe de Estado franquista com apenas dezesseis anos e foi para a rua e para a cena política obreira. Devia viver na ocasião no norte de Madrid, pois contava que se alistou nas Juventudes Libertárias de Chamartín de la Rosa (chegou a ser sua secretária geral) e ingressou no Ateneu Libertário de la Ventilla, onde também foi secretária.
“Procurando uma figura ateneísta feminina notável, essa seria a da reconhecida anarquista Consuelo Zabala Martínez”, explica Antón Burgos em seu estudo sobre os ateneus madrilenhos, onde detalha como Zabalza se empenhou em conseguir da municipalidade um local amplo para as escolas do ateneu da Rua Cedros, que então se chamava de Fermín Galán.
O autor faz referência a outras mulheres destacadas no trabalho ateísta durante os anos trinta em toda a geografia madrilenha, todas trabalhadoras. Algumas delas ocuparam também cargos, como Cristina Martín, que foi secretária do vizinho Ateneu Libertário do bairro de La Viña.
Ao terminar a guerra, se viu junto com outros jovens em uma delegacia da Rua Jorge Juan. Ali, a desnudaram, a raparam e golpearam. Os policiais diziam “estas mulheres livres são umas zorras”, recordava na entrevista de Litvak.
Foi julgada por Auxilio à rebelião por sua militância e por haver falado em três ocasiões na seção semanal reservada aos ateneus na Rádio Madrid. Se viu com o juiz militar quase ao mesmo tempo em que as famosas Treze Rosas e, sendo menor de idade, esteve seis meses na prisão das Ventas.
Estando presa, uma companheira lhe sugeriu que começasse a escrever para um companheiro que estava cumprindo pena de prisão nesse momento, Ángel Urzaiz Simón, militante de Guindalera e Prosperidad, a quem nesse momento ainda não tinham comutado a pena de morte à qual havia sido condenado.
Quando sai do cárcere, Zabaleta continua colaborando com a organização na clandestinidade, ajudando os presos políticos. Reúne-se com Ángel, que será seu companheiro de toda a vida e com quem teve dois filhos. Ele será detido de novo em 1947 (permanecerá confinado até 1959) e transladado a um cárcere valenciano, o que fará com que se translade para viver ali, onde trabalha em um restaurante enquanto continua com seus trabalhos políticos. Em sua casa, por exemplo, se refugiou o anarquista Cipriano Mera a caminho do exílio francês.
Depois da morte de Franco, o casal contribuiu para a reconstrução de sua organização e participou do encontro intergeracional que permitiu romper a censura histórica provocada pelo sinistro poço do franquismo. Em 1996, fez o prólogo do livro “La mujer en la prensa anarquista.” Espanha (1900-1939), de María A. García-Maroto. Ángel Urzaiz havia falecido em 1988 e ela nos deixou em 2004 na cidade de Madrid. Consuelo Zabalza merece um trabalho monográfico que ponha seu nome no lugar que merece. Muitas, muitos, também esperam o resgate de sua memória e os ensinamentos que, sem fazer-se notar demasiado, nos deixaram de herança.
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Na carroceria
sobre as sacas de algodão
cochila o carona.
Alberto Murata
Excelente
Esquerdistas não são anarquistas. Lulistas muito menos. Uma publicação desacertada que não colabora com a coherencia anarquista.
ESTIMADAS, NA MINHA COMPREENSÃO A QUASE TOTALIDADE DO TEXTO ESTÁ MUITO BEM REDIGIDA, DESTACANDO-SE OS ASPECTOS CARACTERIZADORES DOS PRINCÍPIOS GERAIS…
caralho... que porrada esse texto!
Vantiê, eu também estudo pedagogia e sei que você tem razão. E, novamente, eu acho que é porque o capitalismo…