
Por Ryan Only e Eric Laursen
Em 14 de junho de 2025, milhões de pessoas tomaram as ruas em uma poderosa demonstração de protesto contra a crescente consolidação de poder nas mãos de Donald Trump. Os protestos “Sem Reis”, realizados em mais de 2.100 cidades, foram uma resposta direta ao desfile militar do presidente Trump celebrando os 250 anos do Exército dos EUA, coincidindo com seu 79º aniversário.
Organizado por uma coalizão de mais de 200 grupos, o protesto reuniu participantes para afirmar que os Estados Unidos não toleram reis, e tampouco deveriam aceitar qualquer líder que busque centralizar o poder e minar instituições democráticas. Os protestos foram um chamado à ação, conclamando os cidadãos a garantir que o poder permaneça com o povo, não com um governante singular.
Mas se a monarquia é obsoleta, por que ainda toleramos presidentes? Figuras de autoridade revestidas de democracia, mas que manifestam hierarquia e centralização? O culto à presidência reproduz estruturas baseadas na obediência a um poder distante, fé cega na liderança e a ilusão de que a libertação pode ser concedida de cima.
“Sem Reis!”? Que tal “Sem Presidentes!”? Donald Trump não é um rei. Ele é um presidente e esse é o problema, em certos aspectos.
Muitas sociedades ainda têm reis e ironicamente algumas dessas sociedades oferecem um padrão de vida que os progressistas nos EUA costumam apontar como modelo. Países como Noruega, Suécia, Holanda e Dinamarca mantém monarquias constitucionais e ao mesmo tempo estão entre os mais bem classificados em acesso à saúde, igualdade de renda, educação e mobilidade social.
Essa contradição aparente revela uma verdade mais profunda: a presença de um monarca não equivale automaticamente à tirania, assim como a presença de um presidente não garante liberdade. De fato, isso expõe o vazio da distinção simbólica entre monarquia e democracia quando o poder real está concentrado em instituições de elite, independentemente do título do líder. Não é a coroa nem o cargo que determinam a justiça; é o fato de as pessoas terem ou não controle real sobre os sistemas que governam suas vidas.
À medida que o movimento “Sem Reis!” ganha força, liberais e outros ativistas nos EUA deveriam considerar a verdadeira questão: como chegamos até aqui e como podemos avançar, rompendo de vez com o autoritarismo de Trump. A questão não é monarquia versus presidência, mas o próprio mito da representação.
A política eleitoral nos EUA há muito promete dar voz ao povo, mas, na prática, falha continuamente em envolvê-lo nas decisões que moldam seu cotidiano. Votar a cada poucos anos em candidatos previamente aprovados por máquinas partidárias e financiados por interesses corporativos oferece pouco mais que a ilusão de escolha. Enquanto isso, o sistema econômico que sustenta essa estrutura política, movido pelo lucro, pela concentração de riqueza e pelas exigências implacáveis do capitalismo, torna quase impossível para as pessoas comuns exercerem influência significativa.
A maioria das pessoas está sobrecarregada com dívidas, insegurança habitacional, empregos precários e distrações da mídia de massa para conseguir se organizar de forma eficaz, quanto mais navegar pelos labirintos burocráticos projetados para despotencializá-las. Nesse cenário, a democracia se torna um ritual vazio, enquanto as decisões reais são tomadas em salas de diretoria, escritórios de lobby e reuniões a portas fechadas, longe de qualquer prestação de contas ao público.
Pode parecer esmagador, até ingênuo, imaginar um movimento popular capaz de transcender a ordem política estabelecida, especialmente quando fomos ensinados que mudanças só acontecem dentro dos limites estreitos das eleições e dos partidos. Mas a história nos lembra que houve um tempo em que a ideia de um mundo sem monarquia absoluta parecia igualmente impossível.
O fim da era da monarquia como ordem dominante não veio por meio de petições educadas ou do voto, mas sim por mobilizações massivas, recusas coletivas e ousadas reinvenções do próprio conceito de poder. Hoje, à medida que o poder presidencial cresce de forma cada vez mais descontrolada, a ameaça não é um retorno à monarquia, mas o aprofundamento do tipo de autoritarismo disfarçado de legitimidade democrática que nosso sistema atual de presidentes e “democracia representativa” tem nos conduzido.
Em vez de nos preocuparmos com um suposto retorno à era dos reis, deveríamos nos concentrar em construir um futuro no qual nenhuma pessoa, rei ou presidente, possa reivindicar o direito de governar milhões. Isso implica rejeitar a forma cada vez mais autoritária de governo sob a qual vivemos hoje e construir algo melhor, uma sociedade baseada na autodeterminação real, na tomada de decisões descentralizada e não hierárquica, e em uma economia cooperativa.
Só desmontando os mitos que sustentam nossa realidade política, como a liderança benevolente e a liberdade por meio da representação eleitoral, é que podemos começar a imaginar algo radicalmente diferente. Como os movimentos que paralisaram a OMC em 1999 ou ocuparam Wall Street em 2011, precisamos de protestos de massa que não apenas rejeitem Trump ou qualquer presidente individualmente, mas que confrontem todo o sistema que concentra o poder e pacifica o público com encenações e espetáculos. A verdadeira democracia não é concedida de cima, ela é construída e vivida de baixo. Um outro mundo se torna possível e inevitável, quando as pessoas deixam de esperar permissão para se autogovernar.
Fonte: https://anarchistagency.com/no-kings-how-about-no-presidents/
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agência notícias anarquistas-ana
Garoinha fina —
Alguns abrem, outros fecham
guarda-chuvas pretos
Tania D’Orfani
Parabéns, camarada Liberto! O pessoal da Ana poderia informar como adquirir a obra. Obrigada!
Obrigado pela traduçao
Oiapoque/AP, 28 de maio de 2025. De Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque – CCPIO CARTA DE REPÚDIO…
A carta não ta disponível
UM ÓTIMO TEXTO!