[Argentina] Completamos 100 edições e não adormecemos

É uma alegria manter a constância na periodicidade do boletim durante todos esses anos e compartilhar a significativa centésima edição. Orgulhamo-nos de seguir adiante com uma voz dissidente, reflexiva e revolucionária; continuar graças ao esforço de todas as pessoas que consideram necessário que este boletim exista.
 
Desde o início de 2012, nos propusemos a compreender o mundo que habitamos, agitar, apontar as causas profundas dos mal-estares sociais, participar das lutas em curso, solidarizar-nos e dar visibilidade. Permitimo-nos duvidar, discordar, afirmar, negar e comunicar isso. Continuamos sustentando que outro mundo é possível, que outras formas de luta são possíveis. Que há vida além do Capital e do Estado, da propriedade privada e do dinheiro.
 
Mantemos a perspectiva histórica do movimento pela superação das condições existentes, ao mesmo tempo que tentamos contribuir para sua atualização, para caminhar no ritmo do nosso tempo.
 
A Ovelha Negra não se vende
 
Nas culturas ocidentais, o branco geralmente foi associado à pureza, à inocência e ao correto, enquanto o preto representou o desviante ou o negativo. Assim, quem não seguia as normas, desviava-se do socialmente aceito ou causava problemas podia ser considerado uma “ovelha negra”. É provável que isso derive da presença incomum e indesejada nos rebanhos de ovelhas cuja lã preta não era bem cotada no mercado. Segundo diversas fontes, pode-se ler que a lã preta não podia ser tingida; outras dizem que não podia ser vendida porque a Igreja costumava reclamá-la dos fazendeiros como imposto, supostamente para confeccionar sotainas. Seja como for, A Ovelha Negra não se vende. Em sua dupla acepção, nosso boletim é incorruptível e de distribuição gratuita. Apesar da sociedade mercantil generalizada em que se escreve, A Ovelha Negra não é uma mercadoria.
 
Esta folha impressa em ambas as faces tem a qualidade de circular facilmente de mão em mão, por diferentes cidades. Apostamos em continuar publicando este boletim em papel, ao mesmo tempo que o compartilhamos por meios digitais. A Ovelha Negra é gratuita, mas isso não significa que não custe dinheiro fazê-la. Em tempos em que quase tudo se faz por dinheiro e há uma tendência a considerar toda atividade humana como trabalho, escolhemos ir contra a corrente. Fazemos um esforço para cobrir os gastos de impressão, roubando tempo do trabalho ou do lazer para pensar, conversar, escrever, desenhar, diagramar, distribuir e difundir estas reflexões.
 
Outras pessoas que não participam do grupo editor, mas consideram importante a existência deste boletim, colaboram como e quando podem, seja financeiramente ou divulgando nos lugares que frequentam, para amigos e conhecidos; assim como outras imprimem por seus próprios meios, inclusive em outras cidades e países. Da mesma forma, companheiros desconhecidos de outras regiões do planeta traduzem artigos d’A Ovelha Negra para o grego, italiano, francês, inglês ou alemão, colocando-os a circular pelas ruas ou pela web.
 
Sair do rebanho?
 
Uma rápida busca na web diz que na Inglaterra, durante os séculos XVIII e XIX, a cor preta das ovelhas era vista como uma marca do diabo. O primeiro registro conhecido de “ovelha negra” em sentido depreciativo provém dos escritos de um puritano chamado Thomas Shepard que, em seu texto evangélico The Sincere Convert (1640), escreve: “Expulsai todos os ímpios que há entre nós, como bêbados, blasfemos, prostitutas, mentirosos, aqueles que as Escrituras classificam como ovelhas negras e condenam em cem lugares.”
 
Atualmente, a expressão é usada para se referir a membros de um grupo humano que possuem características diferentes de seus semelhantes. Da diversidade progressista à rebeldia neodireitista, aquilo que sai de certos cânones pode ser catalogado dessa forma e até mesmo assumido como identidade… uma questão de escolha. O Estado democrático se apresenta como o Bom Pastor: todas as ovelhas desgarradas devem ser integradas.
 
Ovelha branca, ovelha preta, rebanho no fim das contas. Há quem suponha “sair do rebanho”, pensar-se fora, perceber-se completamente diferente; outros assumimos a condição de rebanho imposta e agimos a partir desse lugar, dessa experiência.
 
Existe uma tentação e certo orgulho no lugar da excepcionalidade, que costuma levar a uma posição de exterioridade. Se pensamos diferente e buscamos algo diferente, é necessário perguntarmo-nos por que fazemos isso, e sobre as possibilidades de que essa vontade de mudança se generalize nas condições atuais. Trata-se de compreender as determinações materiais sobre as consciências. Não podemos escapar da sociedade capitalista, mas podemos superá-la.
 
Continuamos
 
Desejamos de todo o coração seguir contribuindo nessa mesma direção. Queremos colaborar com a luta contra o Capital e seu Estado, tanto para companheiros próximos quanto distantes, conhecidos e desconhecidos, venham de tal ou qual movimento. Para ser e fazer a revolução. Que sentido pode ter refletir sobre este mundo se não for para transformá-lo?
 
Fonte: https://boletinlaovejanegra.blogspot.com/2025/07/contamos-100-numeros-y-no-nos-dormimos.html 
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Garoinha fina —
Alguns abrem, outros fecham
guarda-chuvas pretos
 
Tania D’Orfani

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