[Reino Unido] Élisée Reclus sobre a anarquia e a natureza

Para o grande geógrafo anarquista, a anarquia está presente em toda relação natural baseada na solidariedade

~ Fabio Carnevali ~

Reclus foi o anarquista que “nunca deu ordens a ninguém, e nunca dará”, como disse seu amigo de juventude Kropotkin, assim como o geógrafo em defesa do qual importantes cientistas – incluindo Charles Darwin – se mobilizaram quando ele enfrentou a deportação para a Nova Caledônia após a Comuna de Paris.

Na obra de Reclus, anarquia e estudo da natureza estavam unidos por um vínculo estreito. Seus estudos políticos e geográficos remontam à sua juventude, e logo ele passou a relacioná-los. Após o golpe de Estado de Luís Bonaparte em 1851, Élisée e seu irmão Élie exilaram-se. Nesses anos, Élisée viveu primeiro na Irlanda, depois na Louisiana e finalmente na Colômbia. Isso permitiu-lhe reunir material para suas primeiras obras geográficas enquanto desenvolvia sua crítica à escravidão nos Estados Unidos.

Reclus não concebia a anarquia como uma utopia futura, mas como a forma de todas as relações que praticam a ajuda mútua – o “fator iluminado da evolução” –, mostrando sua afinidade com Piotr Kropotkin. Para ambos, uma compreensão adequada da natureza e da relação entre humano e não humano fomentaria a solidariedade e ajudaria a desmistificar ideologias que ocultam o verdadeiro papel da humanidade na natureza.

Num discurso proferido em uma loja maçônica de Bruxelas em 1894, Reclus definiu a ideia anarquista de liberdade como uma coexistência pacífica que não deriva da obediência à lei nem do medo de punições, mas do “respeito mútuo pelo interesse de todos e do estudo científico das leis naturais”. Para ele, a anarquia está em jogo em toda relação natural baseada na solidariedade. Promover mudança social significa criar grupos que pratiquem a solidariedade e escolham viver segundo esse princípio. Nesse sentido, “educação” significa formar pessoas e comunidades livres e dispostas a lutar por sua liberdade.

“A natureza toma consciência de si mesma”

Reclus pensava a anarquia como a forma mais natural de relação, e certamente a única que permite verdadeira liberdade. Ao retornar à França após seu exílio nas Américas, Reclus escreveu ao diretor da Revue Germanique propondo colaboração. Na carta afirmava: “filosoficamente, filio-me à escola de Spinoza”. De fato, as ideias desse pensador sobre natureza, conhecimento e liberação ecoam fortemente no pano de fundo do pensamento de Reclus.

Sua principal obra, L’Homme et la Terre, inicia-se com uma imagem da Terra sustentada por mãos humanas. Abaixo da imagem lê-se:

“A humanidade é a natureza tomando consciência de si mesma”.

Para a humanidade, compreender seu papel na natureza implicaria repensar as bases de sua ética, considerando a interconexão que a une a todo o mundo não humano.

Essa perspectiva ética levou Reclus a adotar posições antiespecistas, defendendo um vegetarianismo ético que se recusa a ver animais como meras fontes de alimento. Ele acreditava que o crescimento moral da humanidade depende da compreensão de nossa união com o conjunto da vida e do fortalecimento dessa conexão.

No 120º aniversário de morte de Élisée Reclus, abordar sua vida e pensamento nos permite refletir sobre sua contribuição e relevância tanto teórica quanto militante. Muitas de suas ideias permanecem atuais, especialmente sobre as relações entre sociedades e natureza. Quanto a conceitos ecológicos que mais tarde seriam centrais para anarquistas como Murray Bookchin e John Clark, ele foi pioneiro e fonte de inspiração.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/04/elisee-reclus-on-anarchy-and-nature/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Sob a garoa fria
Vagam pelas ruas vazias
Um velho e o cão.

Hazel de São Francisco

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