Sobre o Comunitarismo Ácrata 4

Ainda seguindo a ponderação enunciada no penúltimo parágrafo – de que o desenvolvimento de situações de autonomia absoluta em relação às forças dominantes seja, provavelmente, inviável -, dois temas associados emergem demandando elucidação a respeito de coerente posicionamento possível em relação a eles. São: a questão da relação entre as redes comunitaristas ácratas e as demandas ‘políticas’ (institucionalizadas ou não) das sociedades, e a questão da sua relação com os tipos de regimes e/ou sistemas políticos e/ou econômicos.

Com relação à primeira questão, parecendo evidente que as redes não poderão escapar sempre e/ou completamente das consequências de ‘políticas’ adotadas pela/os de cima sobre as sociedades em que se inserem – e mesmo que pudessem, sendo libertárias, não seria desejável eximir-se da atitude de empatia e solidariedade devidas em relação às possíveis consequências de tais ações políticas sobre a/os de baixo -, a conclusão para a qual se aponta é a de que as redes precisarão encontrar formas de intervir sobre estes processos. Tais formas de intervenção, porém, sendo an (não) anarquistas (governistas), para serem coerentes, não podem, obviamente, serem formas do tipo integração em – e/ou colaboração/apoio com/a – organizações e/ou grupos/indivíduos partidárias e/ou eleitorais. A história dos movimentos anarquistas está plena de lições sobre formas de intervenção sobre os rumos tomados pelas instituições econômicas/políticas formais, sem que para isto se faça concessões espúrias com relação aos princípios ácratas. Classicamente, p.ex., tem-se as manifestações, as greves e os boicotes vinculados à chamada ‘luta de classes’ – ou, pelos interesses da classe trabalhadora – e o lócus apropriado da luta libertária neste campo é o sindicalismo auto gestionário: porém, no contexto de uma arrastada e pouco profícua tentativa de reerguimento do sindicalismo auto gestionário em nível internacional, bem como da emergência do fenômeno da precarização universal do trabalho – como se caracteriza o cenário enfrentado pelo anarco sindicalismo neste momento histórico, pode-se vislumbrar possibilidades de que as redes, adicionalmente, contribuam para a geração de organizações de trabalhadora/es precarizada/os – visto que, como já foi desenvolvido anteriormente, esta/es seriam provavelmente os grupos mais atraídos pelas ‘saídas’ de sobrevivência possibilitadas pela tática (sugere-se aqui uma “Internacional da/os Deserdada/os” – I.D. -, que incluiria também populações de ‘vagabunda/os’) -, ao passo que, pontualmente, possam também promover informalmente intervenções e polemizações “ad hoc” (momentâneas) em eventos e discussões promovidos por organizações sindicais hierárquicas, centralistas e burocráticas (aqui, o cuidado para não serem atraídas pelo ‘campo gravitacional’ da/os autoritária/os, tornando-se assim ‘manobradas’ por esta/es ‘raposas’, deve ser investido de atenção redobrada: por isto a manutenção do distanciamento na relação, pela forma de intervenções ‘ad hoc’, rejeitando qualquer estabilização e/ou formalização das relações), com o fito de, desse modo, levar a/os trabalhadora/es ali arregimentada/os a tomarem conhecimento sobre as análises libertárias em relação aos temas que lhes mobilizam no momento.

Continuando nesta linha, por outro lado, ainda em relação à primeira das questões colocadas no parágrafo anterior a este acima (sobre a relação entre as redes comunitaristas ácratas e as demandas ‘políticas’ – institucionalizadas ou não – das sociedades), no que concerne a temas de lutas mais recentes historicamente, tais como, p.ex., as chamadas lutas de ‘minorias’ (negros, LGBT+, comunidades tradicionais etc.), as redes poderão criar fóruns próprios de discussões e intervenções sobre estes temas e lutas, obviamente, para tratá-los segundo uma perspectiva ácrata, ao passo que, pontualmente, possam também promover informalmente intervenções e polemizações “ad hoc” (momentâneas) em eventos e discussões promovidos por organizações de movimentos sociais hierárquicos, centralistas e burocráticos (mais uma vez, aqui, o cuidado para não serem atraídas pelo ‘campo gravitacional’ da/os autoritária/os, tornando-se assim ‘manobradas’ por esta/es ‘raposas’, deve ser investido de atenção redobrada: por isto a manutenção do distanciamento na relação, pela forma de intervenções ‘ad hoc’, rejeitando qualquer estabilização e/ou formalização das relações), com o fito de, desse modo, levar as ‘minorias’ ali arregimentada/os a tomarem conhecimento sobre as análises libertárias em relação aos temas que lhes mobilizam no momento. Assim como classicamente tem-se as manifestações, as greves e os boicotes vinculadas à chamada ‘luta de classes’ como formas de intervenções libertárias sobre os rumos tomados pelas instituições econômicas/políticas formais sem que para isto se faça concessões espúrias com relação aos princípios ácratas, no que concerne a estas temáticas de lutas mais recentes historicamente (as chamadas lutas de ‘minorias’), experiências de expressões libertárias contemporâneas – tais como a do Movimento Anarco Punk em nível internacional, p.ex. – têm demonstrado a perfeita viabilidade de modos de ação e objetivos fundamentalmente distintos em relação àqueles das organizações e movimentos de cariz hierárquico/autoritário associadas a estas temáticas de lutas: estas, normalmente, se pautam por lutas que visam, em última instância, a legitimação dos sistemas hierárquicos ditos ‘democráticos’, demandando uma maior abertura destes para a ‘inclusão’ das suas ‘minorias’ em suas estruturas formais e/ou informais, enquanto que, por outro lado, experiências como as de campanhas internacionais de lutas anti racismo, anti homofobia, anti machismo, anti fascismo etc., desenvolvidas pelo M.A.P. ao redor do mundo, têm se pautado, de forma diversa – e divergente -, não pela proposição de criação de dispositivos de ‘inclusões’, de ‘punições’ e/ou de estabelecimento de ‘programas governamentais’ (orientações ‘de luta’ estas que, ao fim e ao cabo, têm desempenhado o papel de retroalimentar e perenizar o sistema pela produção de ‘novas elites’ administrativas e/ou nichos de consumidores oriundos das poucas parcelas das ‘minorias’ que são ‘pinçadas’ como ‘vitrine’ para a promoção da sua imagem de ‘democrático’ e ‘includente’ – enquanto a grande maioria permanece subordinada aos mecanismos de dominação e exploração discriminatórias de sempre) mas, opostamente, (as campanhas do M.A.P. têm se pautado) pela promoção de processos de reflexões coletivas desconstrutoras de culturas de dominação/hierarquia entre a/os de baixo, assim como pela construção de redes de potencialização das capacidades dos ditos grupos ‘minoritários’ de se auto afirmarem em sentido autônomo. Eis aqui formas de intervenções an (não) arquistas (governistas) coerentes, no que se refere às modalidades de lutas sociais em pauta.

Trecho do “Manifesto Anarquista Ácrata”, de autoria de Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira.

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