
Por Javier Bedía Prado | 18/08/2025
As comunidades mapuches da província argentina de Neuquén estão em alerta para defender os lagos Mari Menuco e Los Barreales, localizados em uma área entregue ao megaprojeto Vaca Muerta, iniciativa para a exploração de hidrocarbonetos não convencionais (extraídos pela técnica de fracking) na formação geológica Vaca Muerta, zona de importantes fontes de água da Patagônia norte argentina.
Nesta quarta-feira, 13 de agosto, a petrolifera estatal argentina YPF anunciou a decisão de iniciar o desenvolvimento de uma locação de fracking no istmo que une os reservatórios Los Barreales e Mari Menuco, após meses de tensões no território ancestral.
Em Loma La Lata, líderes da comunidade Kaxipayiñ reiteraram aos funcionários da YPF que não permitirão que trabalhem até que o governo provincial cumpra o compromisso de realizar uma consulta prévia à população. Tem-se que a empresa entre na área por meio de repressão letal contra os guardiões dos lagos.
“A YPF vai criando condições para conseguir o aval da justiça e entrar à força no território comunitário. Responsabilizamos o presidente da YPF, Horacio Marin, pelas consequências”, afirmou a Confederação Mapuche de Neuquén.
A exploração de hidrocarbonetos no território onde se encontram os reservatórios que armazenam água do rio Neuquén faz parte da expansão de Vaca Muerta em Neuquén, autorizada pelo governador Rolando Figueroa. O crescimento do projeto também compreende a construção de 800 quilômetros de oleodutos e instalações em reservas marítimas em outras províncias do país.
“Este é um nível de aproximação inédito, querem perfurar a lagoa. Excluíram a consulta prévia, não há estudos de impacto ambiental. Em Vaca Muerta não há qualquer regulação, políticas de conservação. No Rio Negro havia uma norma para que não se explorem hidrocarbonetos, anularam-na”, declarou à Avispa Mídia Leonora Jáuregui, integrante do Observatório Petrolero Sul.
Personalidade jurídica indígena
Há algumas semanas, uma manifestação na Governação de Neuquén pelo reconhecimento das personalidades jurídicas indígenas foi reprimida com uma violenta operação policial que deteve 18 pessoas, entre elas um menor de idade.
Por decreto da justiça, em 2023, foi estabelecido um prazo de noventa dias para criar o Registro de Comunidades Indígenas de Neuquén. O governo provincial procrastina este processo porque implicaria a aceitação formal de territórios ancestrais que são cobiçados por Vaca Muerta.
A este respeito, o Observatório de Direitos Humanos dos Povos Indígenas (ODHPI) da Argentina recorda que a província de Neuquén foi sentenciada pela Corte Suprema da Nação, em 2013, por violar direitos relativos à personalidade jurídica.
“Reafirmamos nossos direitos dentro da área. A YPF também reconhece a posse e o direito comunitário em diferentes acordos onde inclusive coordenou tarefas com a comunidade”, salienta a organização mapuche, respaldada por atas fiscais que reconhecem a existência da comunidade Kaxipayiñ.
Sob o solo de Kaxipayiñ expandiram-se combustíveis devido a operações da YPF. No dia 5 de agosto, a Unidade Fiscal de Crimes Ambientais comprovou a falta de fornecimento de água potável à comunidade, motivo de uma denúncia penal contra a petrolífera e o governo provincial de Neuquén.
12 anos de Vaca Muerta
Aos 12 anos da inauguração de Vaca Muerta, o megaprojeto situado em uma área agrícola causou mais de 500 terremotos – interrompidos quando a produção foi parada. O acaparamento de água e o colapso do transporte na província afetam uma população que nem sequer conta com o gás que extraem de seu território.
“Entregam-se os territórios com marco legal para o saque e destruição. Vaca Muerta cresce, expande-se, vai se entrelaçando com outras políticas, com o pacote de leis, a lei de bases, os incentivos a grandes investimentos. Os riscos de contaminação aumentam, a gestão da YPF hoje é mais violenta, o governo provincial não põe limites. No último ano é notável que há mais extração e sua capacidade está limitada ao transporte”, acrescenta a especialista do Observatório Petrolero Sul.
É insustentável, segundo ela, a narrativa de que Vaca Muerta garantirá a soberania energética, quando a população argentina enfrenta altas de combustível, e a entrada de dólares frente ao endividamento externo, ao que recorreu a administração de Milei.
“Há uma continuidade do modelo de hidrocarbonetos, mas a inédita desregulamentação legal mudou as condições internas. Até o ano passado havia uma proteção para o acesso interno do combustível frente a preços internacionais; hoje, sob um marco de ajuste e empobrecimento, seu valor aumenta”, indica a investigadora.
Enquanto a extração de petróleo em Vaca Muerta mediante o fracking se expande e ameaça mais fontes de água, consolida-se sua orientação para a exportação.
Em julho anunciou-se a construção de um novo oleoduto de 207 quilômetros que conectará Puesto Hernández (Neuquén) com a estação de bombeamento em Allen (Rio Negro). Pluspetrol, Chevron, Tecpetrol e Gas y Petróleo del Neuquén serão os investidores. Esta rede se somará ao projeto do duto Vaca Muerta sul, que percorrerá 600 quilômetros até a costa do Rio Negro, onde se planeja instalar um porto de exportação perto do golfo San Matías, de grande biodiversidade marinha.
Fonte: https://avispa.org/argentina-mapuches-en-resistencia-contra-fracking-en-la-patagonia/
Tradução > Liberto
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agência de notícias anarquistas-ana
Imenso jardim,
e sobre flores diversas
enxame de abelhas…
Analice Feitoza de Lima
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!
segue a página: https://urupia.wordpress.com/
Como ter contato com a comuna?
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