
Você poderia compartilhar um pouco mais sobre seu trabalho de organização e mídia?
Sim, olá! Meu nome é Pearson Bolt (ele/elu). Sou escritor, professor, pai, queer e anarquista, entre muitas outras coisas maravilhosas. Atualmente, faço muito trabalho de organização sindical com a AAUP (Associação Americana de Professores Universitários) e trabalho de ajuda mútua com a MADR (Ajuda Mútua em Situações de Desastre). Também reativamos um grupo do Food Not Bombs (Comida, e Não Bombas) em nossa comunidade local no centro-oeste. No que diz respeito ao trabalho na mídia, eu costumava apresentar um podcast chamado Coffee with Comrades (Café com Camaradas), que você pode encontrar em qualquer lugar onde se ouve podcasts. Também estou constantemente escrevendo. Tenho alguns livros de poesia publicados pela Rebel Hearts Publishing e estou sempre trabalhando em um romance de fantasia que (espero) verá a luz do dia em algum momento no futuro.
Como você descreveria suas opiniões/orientação política e por quê? Você tem influência de algum/a/e teórico/a/que ou movimento?
Como eu disse, sou anarquista. Quando observo com sobriedade as ramificações materiais dos sistemas hierárquicos do mundo atual, sou tomado por um desejo irresistível não apenas de derrubá-los, mas de construir alternativas mais criativas, solidárias e centradas no ser humano. O poder é uma força corrosiva no mundo quando é acumulado para benefício próprio. Quando compartilhado, porém, o poder pode ser emancipador e transformar vidas. Sempre nutri uma forte repulsa pela injustiça e uma curiosidade constante que busca a verdade, não importa aonde ela me leve. Como regra geral, acho que as pessoas agem da melhor maneira possível, dadas as circunstâncias em que se encontram. Se construirmos um mundo que incentive e recompense a compaixão, a solidariedade, a justiça e a libertação, em vez da misantropia, do individualismo implacável, da corrupção e das prisões, então a humanidade estará muito mais propensa a buscar maneiras de viver, pensar e ser que estejam em harmonia com este planeta e com todos os seres vivos que o habitam.
A anarquia é uma rica tapeçaria de vozes, perspectivas e tradições. Não existe uma concepção monolítica do que a anarquia deve ser ou significar. Isso torna a anarquia única nos espaços de esquerda, já que muitas tradições radicais de esquerda tendem a traçar sua linhagem ideológica até uma pessoa específica ou um pequeno grupo de pessoas. Gosto de pensar no anarquismo como esporos fúngicos, propagando-se e transformando os resíduos mortos do mundo em algo novo e belo. Como tal, há muitos teóricos ou filósofos que me vêm à mente. Mas, para fins de conversa, listarei alguns dos meus favoritos antiautoritários: Albert Camus, Ursula K. Le Guin, Gilles Deluze, Robin Wall Kimmerer, Francisco Ferrer, Carla Joy Bergman, Paulo Freire, bell hooks, etc. Dito isso, muitas vezes procuro meus amigos e companheiros em busca de inspiração e conhecimento, pois a melhor análise para os dias de hoje é frequentemente forjada no cadinho da luta mútua pela emancipação universal.
Em quais projetos anarquistas (incluindo seu podcast) você participou e como foi essa experiência? Quais experiências você considerou significativas e produtivas, e por quê?
Nossa, são tantas que nem consigo contar. Sempre acho estranho e um pouco presunçoso “exibir” toda a minha credibilidade anarquista nas ruas, mencionando todos os diferentes encontros, mobilizações, projetos e comunidades que frequentei (além disso, há vários que simplesmente não devo relatar publicamente aqui). Mas fico mais do que feliz em falar sobre as experiências que foram pessoalmente significativas e produtivas, na esperança de que elas possam ressoar em outras pessoas e inspirar ações, análises ou a construção de comunidades.
A grande experiência que me vem à mente é o MADR. Tendo crescido na Flórida, éramos constantemente assolados pelo horror dos furacões. A magnitude da destruição pode ser aterrorizante de se ver no silêncio após a passagem do furacão. Mas uma das coisas que o MADR faz é organizar ajuda para as pessoas afetadas pelos furacões. Como eu mesmo precisei de ajuda quando era jovem, senti-me atraído por esse trabalho. Poucas coisas são tão gratificantes e enriquecedoras quanto ouvir as necessidades das pessoas e ajudar a atendê-las com um pequeno grupo de companheiros. Também acho a ideia de “solidariedade, não caridade” especialmente edificante.
Qual foi a ação ou projeto mais recente do qual você participou e como foi essa experiência?
Bem… para ser sincere, tem sido bastante decepcionante.
O estado de Ohio aprovou recentemente uma legislação abertamente fascista que visa privar professores e alunos de seus direitos e dar poder à direita reacionária para perseguir professores com assédio e possível demissão, sob o pretexto de um projeto de lei do Senado “anti-woke” e “anti-DEI”. A administração da nossa universidade tem sido (na melhor das hipóteses) totalmente covarde ou (na pior das hipóteses) ativamente cúmplice diante desses acontecimentos, optando por se curvar ao estado em vez de proteger nosso corpo docente e nossa comunidade estudantil.
Eu me envolvi com o grupo Food Not Bombs (Comida, Não Bombas) de Orlando, Flórida, quando tinha 15 ou 16 anos, logo depois que a polícia prendeu alguns companheiros do FNB por compartilhar comida com moradores de rua sem permissão. A desumanidade de tal ato me chocou e me levou às ruas. O FNB continuou seu bom trabalho, desafiando as autoridades e escolhendo a convicção moral em vez da legislação mesquinha do estado. As fileiras da filial cresceram. A repressão da polícia saiu pela culatra de forma espetacular, fortalecendo a filial e criando um verdadeiro senso de solidariedade entre pessoas com casa e em situação de rua daquela comunidade. Embora a justificativa da administração para isso seja: “Oh, temos que seguir a lei, caso contrário perderemos nosso financiamento”, qualquer pessoa com dois neurônios funcionando sabe que isso é apenas uma desculpa conveniente para abdicar de qualquer responsabilidade pela proteção da vida, educação e interesses de pesquisa dos professores e alunos no campus. Além disso, a administração não está apenas “cumprindo” a lei. Ela está se apressando para cumprir e, em muitos casos, excedendo o cumprimento da lei para apaziguar o Conselho de Curadores, que é composto por conservadores idiotas nomeados para seus cargos pelo governador conservador de Ohio. Junte isso a um ano de negociações incrivelmente difíceis, enquanto tentávamos elaborar um novo CBA (acordo coletivo de trabalho) com a administração, e o resultado foi… um ano bastante adverso!
Para ser sincero, oscilo entre a raiva e a desilusão. Embora tenha sido encorajador ver muitos dos meus colegas e camaradas unirem-se à causa dos direitos dos professores e dos estudantes, simplesmente não éramos suficientes. Na imaginação popular dos liberais e outros idiotas de direita, a universidade é um bastião da ideologia esquerdista. Como alguém que leciona há mais de uma década no sistema universitário público dos Estados Unidos, eu ficaria feliz em desmistificar essa noção tola e insípida para qualquer um dos seus leitores, mas acho que estaria apenas pregando para convertidos. A realidade, como todos sabemos, é que o “ensino superior” há muito foi capturado pela classe capitalista e é usado não como uma instituição de exploração, educação e crescimento, mas como uma ferramenta para explorar impiedosamente as pessoas com mensalidades altíssimas. Digo tudo isso para enfatizar que não existe uma grande conspiração marxista na academia. Na verdade, a universidade é composta principalmente por liberais e progressistas bem-intencionados que muitas vezes carecem de uma análise crítica real do capitalismo. Embora isso esteja mudando à medida que mais e mais pessoas — de todas as classes sociais — se radicalizam pelas contradições atuais de nossos tempos contemporâneos, simplesmente não éramos suficientes para impedir o estado de aprovar essa lei incrivelmente impopular, muito menos para impedir a administração de ceder covardemente.
Então, é. Não tão bom.
Que conselho você daria para novos anarquistas ou para aqueles que estão em dúvida se querem se envolver?
Não gostaria de terminar com um comentário negativo, então vou pegar emprestada uma ideia dos camaradas da CrimethInc. “Para mudar tudo”, diz seu elogiado tratado anarquista, “comece em qualquer lugar”. Acho que muitas vezes esquecemos que o anarquismo não é apenas uma ideologia política. A beleza disso, na minha opinião, é que a anarquia nos pede para repensar nossa relação com todos os seres (humanos e não humanos) e nos entender como semelhantes. A anarquia é um convite para derrubar muros, como observou Ursula K. Le Guin em Os Despossuídos, e derrubar hierarquias sociais. O patriarcado, a cisheteronormatividade, a supremacia branca, o colonialismo, o capacitismo, o etarismo e uma série de outras hierarquias sociais invadem nossas vidas, de forma generalizada e muitas vezes devastadora. Mas é nossa obrigação moral, como anarquistas, lutar contra essas estruturas onde quer que elas apareçam e derrubá-las antes que possam cuspir veneno em nossos olhos e nos roubar a capacidade de ver um amanhã mais brilhante surgindo no horizonte.
Fonte: https://debatemebro.substack.com/p/interview-with-pearson-bolt
Tradução > transanark/acervo trans-anarquista
agência de notícias anarquistas-ana
Paira no ar por um instante
A figura de um menino,
Saltitante.
Sérgio Sanches
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!
segue a página: https://urupia.wordpress.com/
Como ter contato com a comuna?