
42 pessoas de redes antiautoritárias nomeadas como suspeitas após manifestações #bubarkanDPR (abolir o parlamento)
De 25 de agosto a 5 de setembro, a Indonésia foi um mar de fogo. Uma onda de manifestações simultâneas terminou em batalhas de rua, incêndio de prédios governamentais e delegacias, além do saque de casas de políticos. Um total de 3.195 pessoas foram detidas em vários locais durante esse período. Isso sem contar as prisões posteriores.
Como parte das operações pós-manifestação, a polícia investigou e prendeu ativistas, administradores de contas de redes sociais de movimentos sociais e influenciadores. Esses receberam certa visibilidade, além do apoio merecido. Mas, ao mesmo tempo, na base, no nível popular, dezenas ou talvez centenas de pessoas foram presas, espancadas, isoladas do contato com suas famílias e privadas de assistência jurídica da Lembaga Bantuan Hukum – LBH (Instituto de Assistência Jurídica). Algumas foram noticiadas pela mídia local, mas a maioria permaneceu no silêncio: desapareceram de repente, e o movimento inteiro imediatamente foi forçado à clandestinidade, dominado pela paranoia.
Nossos temores são bem fundamentados. Sabemos que o Estado pode ser o perpetrador de violações de direitos humanos e de terrorismo. Temos memórias coletivas dos massacres de 1965, dos desaparecimentos de ativistas em 1998, do assassinato do ativista de direitos humanos Munir, de tudo de ruim que acontece a quem ousa lutar. Quem ousaria negar que a mesma coisa não pode acontecer novamente hoje?
Finalmente, na terça-feira, 16 de setembro de 2025, a Polícia Regional de Java Ocidental realizou uma coletiva de imprensa anunciando 42 suspeitos envolvidos em atos de vandalismo em Bandung. No entanto, todos foram resultado de uma investigação e prisões em nível nacional, realizadas até em Jombang e Makassar. Foram acusados de serem anarquistas.
Durante a coletiva, a Polícia Regional de Java Ocidental declarou que grupos anarquistas estavam envolvidos em atos de vandalismo, incitação à violência, distribuição de materiais sobre como montar coquetéis molotov e captação/gestão de fundos de organizações anarquistas internacionais no valor de 1 bilhão de rupias indonésias (60.795 dólares).
Nós não negamos essas acusações. Apenas destacamos como o governo tenta convencer o público de que a onda de revolta popular não se deve inteiramente à raiva do povo. O governo sempre pensa em uma lógica centrada no titereiro: acreditando que tudo é mobilizado centralmente por um punhado de atores intelectuais. Alguns acreditam que isso é orquestrado pela oposição política, o que é impossível, considerando a coalizão sólida de Prabowo que abarca toda a elite predatória. Outros acusam que seja obra de capangas financiados do exterior. Alguns conspiram sobre operações de inteligência militar. Ou então, que 42 anarquistas orquestraram os distúrbios.
Digamos que as acusações contra os anarquistas sejam verdadeiras. Mesmo assim, o governo ainda busca um bode expiatório, subestimando o raciocínio popular. Acham que, se milhares de membros do Partido Comunista da Indonésia (PKI), milhares de anarquistas, ou agentes estrangeiros, ou a oposição forem presos, milhões de outros indonésios, como motoristas de aplicativo (ojol), estudantes, universitários e donas de casa, não carregarão paus, não lançarão pedras, nem prepararão garrafas de vidro cheias de gasolina? Nosso governo não é estúpido. Eles negam deliberadamente e dizem: “está tudo bem.” Têm medo de admitir que o povo, isto é, todos nós, somos os titereiros.
Somos todos titereiros. Esta insurreição é a mais magnífica performance política que já encenamos. Nossa história é um roteiro ainda não escrito. Nosso diálogo começa com as palavras “Cukup!” (Basta!) e termina com “Merdeka 100%” (Independência 100%). Nosso papel é ser protagonistas de nossa própria libertação.
Em pouco tempo, a insurreição vai arrefecer, o fogo se apagará, a fumaça será levada pelo vento. Os prédios do parlamento (DPR) serão reconstruídos ainda mais fortes, o orçamento militar pós-insurreição disparará, mas as florestas dos povos indígenas continuarão a ser desmatadas, os trabalhadores ainda terão salários baixos, e o um por cento, a classe dominante, continuará a se beneficiar desse sistema explorador.
Organizemo-nos novamente, unamo-nos em sindicatos, fóruns comunitários e alianças estudantis. Vamos ler e debater, realizar formações, recrutamento e kaderisasi (regeneração/militância). Mostrar que as prisões não nos intimidam.
O Serikat Tahanan (Sindicato dos Prisioneiros) é um coletivo de prisioneiros antiautoritários. Organizamo-nos principalmente dentro, mas também fora das prisões em toda a Indonésia, para apoiar companheiros ativistas antiautoritários que foram encarcerados e para educar o público sobre as condições prisionais na Indonésia. Essa iniciativa, impulsionada por prisioneiros, começou como um simples ato de solidariedade entre nós, para cultivar esperança, para que não nos sintamos marginalizados nem saiamos da prisão mais destruídos do que entramos. Ao nos organizarmos, somos constantemente lembrados do porquê de termos começado nossa luta. Entre em contato conosco para mais informações em sociabuzz.com/serikattahanan.
Fonte: https://sea.theanarchistlibrary.org/library/serikat-tahanan-we-are-all-puppeteers-en
Tradução > Contrafatual
Conteúdos relacionados:
agência de notícias anarquistas-ana
Desfile de máscaras:
os tiranos são palhaços
quando o circo pega fogo.
Liberto Herrera
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!