
Na semana passada, a CNN noticiou que Donald Trump anunciou planos para designar a Antifa como uma “grande organização terrorista”, que descreveu como um “desastre doentio, perigoso e radical da esquerda” e apelou a investigações sobre os seus alegados financiadores. Ontem, Trump assinou uma ordem executiva tornando essa designação oficial. No site da Casa Branca, datado de 22 de setembro de 2025, em Ações Presidenciais, o governo destaca a ordem “Designando a Antifa como Organização Terrorista Doméstica”.
No entanto, a Antifa não é uma organização estruturada, nem mesmo uma organização não estruturada. Talvez seja mais bem descrita como um movimento vagamente afiliado ou mesmo uma ampla identidade cultural e política, tornando tal designação juridicamente obscura e conceitualmente equivocada. Os críticos argumentam que a medida é inconstitucional e politicamente motivada. Nosso projeto, Agency, trabalha para abordar a caracterização errônea das ideias e da organização anarquistas. Sabemos em primeira mão que quase tudo o que Trump diz sobre a Antifa é errado. Desde o primeiro mandato como presidente, Donald Trump tem caracterizado repetida e falsamente a Antifa como organização terrorista doméstica violenta. Trump culpou a Antifa por tudo, desde movimentos de protesto liberais moderados até revoltas urbanas, sem apresentar provas e, muitas vezes, indo em contra o consenso dos especialistas.
A Antifa não é uma organização
Uma das alegações mais persistentes e enganosas de Trump é que a Antifa é uma organização formal. Este recente anúncio do plano para designar a Antifa como organização terrorista não é único. Por exemplo, em tuíte de 31 de maio de 2020, Trump afirmou: “Os Estados Unidos da América designarão a ANTIFA como Organização Terrorista”.
Antifa significa antifascista. É uma ideia com a qual milhões e milhões de pessoas se identificam globalmente. Antifa também se tornou uma abreviação para um conjunto de táticas e abordagens organizacionais para confrontar organizações e manifestações fascistas, e as pessoas que resistem ativamente ao fascismo, à supremacia branca e outras formas de opressão. Como explica o historiador e autor Mark Bray em “Antifa: The Anti-Fascist Handbook” (Antifa: O Manual Antifascista), a Antifa não é uma organização, mas, sim, uma rede descentralizada e vagamente afiliada de indivíduos e grupos unidos pela oposição ao fascismo, à supremacia branca e ao autoritarismo. “Não existe um comando central da Antifa”, escreve Bray. “Não há cartões de filiação à Antifa. Não existe sede de Antifa. Antifa é um conjunto de táticas e princípios compartilhados ao longo do tempo e pelo espaço.”
A organização antifascista é uma prática popular. Aqueles que se organizam ativamente como antifascistas não têm financiamento profissional para esse trabalho, e o trabalho não tem vínculos com organizações formais; são voluntários, seu trabalho tende a ser muito local, descentralizado e em desacordo com abordagens profissionais de militância ou organização comunitária. Isso contradiz diretamente a imagem que Trump e aliados promovem de organização extremista obscura e bem financiada que sustenta uma vasta rede de organizações profissionais. Na verdade, Antifa é uma ideia ampla e multifacetada que assume muitas formas diferentes. Rotulá-la como organização terrorista é como declarar o punk rock ou o hip hop como organizações terroristas.
Bodes expiatórios criados
O desejo de retratar Antifa como o rosto da “violência de esquerda” tem sido uma estratégia conveniente para Trump, especialmente em momentos de crise nacional. Durante os protestos do Black Lives Matter, em 2020, Trump afirmou repetidamente que a Antifa era responsável por incitar a violência e os saques, mesmo quando investigações federais não encontravam evidências para sustentar essa alegação. Avaliações semelhantes foram feitas em outras cidades. No entanto, Trump continuou a promover essa narrativa falsa, tuitando em letras maiúsculas: “Anarquistas e saqueadores liderados pela ANTIFA estão tomando conta das nossas cidades”. Esse tipo de desinformação não só desvia a atenção das verdadeiras intenções de movimentos de protesto importantes, como alimenta a paranoia e abre caminho para repressões mais amplas à dissidência.
A jornalista e repórter trabalhista, Kim Kelly apontou os perigos dessa retórica. Escrevendo na Vice e na Medium, entre outros veículos, Kelly enfatiza que a obsessão da direita com a Antifa serve para distrair da ameaça muito maior representada pelos grupos supremacistas brancos e extremistas de extrema direita, responsáveis pela grande maioria dos ataques terroristas domésticos das últimas décadas. Um estudo do Instituto Nacional de Justiça americano, publicado em junho de 2024 e divulgado no site do Departamento de Justiça americano, afirma que “desde 1990, extremistas de extrema direita cometeram muito mais homicídios motivados ideologicamente do que extremistas de extrema esquerda ou islâmicos radicais, incluindo 227 eventos que tiraram mais de 520 vidas”. No entanto, esse estudo foi removido do site do Departamento de Justiça americano poucos dias após o tiro contra Kirk. O vice-presidente J.D. Vance, então, afirmou falsamente, no podcast de Kirk que, “as pessoas de esquerda são muito mais propensas a defender e celebrar a violência política… é um fato estatístico que a maioria dos lunáticos na política americana atual são membros orgulhosos da extrema esquerda”.
Violência: enquadramento enganoso
Trump cita muito a violência como justificativa para rotular a Antifa como grupo terrorista. Aponta os confrontos em protestos ou destruição de propriedade como evidência de campanha violenta organizada. Mas essa interpretação é enganosa e hipócrita.
Embora alguns ativistas que se identificam como antifascistas realmente se envolvam em táticas de confronto, incluindo destruição de propriedade e autodefesa contra extremistas de extrema direita, essas ações geralmente não são preventivas ou em grande escala. Bem diferente disso, são, na maioria das vezes, respostas a ameaças fascistas percebidas, como comícios neonazistas ou eventos de discurso de ódio. Como explica Mark Bray, “a abordagem da Antifa se baseia na ideia de que o fascismo deve ser confrontado e detido antes que se transforme em algo mais perigoso”.
A maior parte do trabalho feito sob a bandeira Antifa, deve-se ressaltar, inclui monitorar grupos de extrema direita, expor neonazistas e as ameaças que representam para impedir que recrutem novos membros e aumentem a capacidade de praticar violência, além de se opor à violência nas ruas e às demonstrações de força. Essa organização é uma forma de defesa comunitária e ajuda mútua. Bray enfatiza que a atividade militante expressa é uma pequena parte de um conjunto muito maior de atividades focadas em resistir ao fascismo em todas as suas formas. Retratar o movimento como violento não é só impreciso, é intelectualmente desonesto.
Basta comparar com a violência documentada de grupos de nacionalistas brancos com organizações reais, com liderança formal e financiamento, como os Proud Boys ou os Oath Keepers, ambos com membros envolvidos na insurreição de 6 de janeiro. Trump não só se recusa a condenar esses grupos, ele concedeu perdões amplos e libertou os seus membros da prisão.
Quem se beneficia com a demonização?
É importante perguntar por que Trump e outras figuras da direita investiram tanto em demonizar a Antifa. O governo e os líderes republicanos americanos têm os recursos de inteligência para entender o que realmente a Antifa é. Eles sabem que não é a vasta organização obscura que descrevem. Perpetuar essa narrativa desonesta, entretanto, tem utilidade política. Pintar Antifa dessa forma permite que políticos com mentalidade autoritária justifiquem a expansão da vigilância, dos poderes policiais, a repressão aos movimentos sociais e uma miríade de ataques aos direitos civis e à liberdade de expressão.
Ao invocar o espectro da Antifa, Trump recorre a uma longa tradição de perseguição aos comunistas e propagação do medo, que lembra o macarthismo. Isso serve como apelo velado aos eleitores de extrema direita que veem os movimentos de esquerda como inimigos, encorajando ainda mais aqueles inclinados à violência política. Também oferece aos centristas e liberais do regime uma oportunidade de se insinuarem junto ao partido no poder, tornando-se cúmplices involuntários do poder da extrema direita.
A real ameaça
A real ameaça à segurança e à democracia nos Estados Unidos nunca foi uma rede antifascista mal organizada. A real ameaça é a normalização da supremacia branca e o uso do poder estatal para silenciar a dissidência política. A fixação de Trump com a Antifa não tem a ver com proteger ninguém do terrorismo. Tem a ver com distrair e proteger a ascensão do fascismo, que exatamente aquilo que fez com que a Antifa surgisse e fizesse resistência.
As mentiras de Trump sobre a Antifa revelam mais sobre suas próprias tendências autoritárias do que sobre o movimento. Como acadêmicos, jornalistas e até mesmo órgãos de segurança pública deixaram claro, a Antifa não é a ameaça que ele afirma ser. Além disso, muito pouco ou nada do que ele diz sobre a Antifa é remotamente verdadeiro. A verdade é que, se o governo considera o antifascismo como terrorismo, então, acredita que o fascismo é aceitável. Esta é uma forma real de terror, que nos mostra que Antifa é necessária, agora mais do que nunca. O maior terrorista doméstico do nosso tempo é Donald Trump, precisamos resistir a ele e ao seu regime de todas as formas que pudermos.
Fonte: https://anarchistagency.com/everything-trump-says-about-antifa-is-wrong/
Tradução > CF Puig
agência de notícias anarquistas-ana
As marcas do tempo
apenas em meu rosto —
Lua de primavera!
Teruko Oda
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!