
É hora de recuperar o que é nosso, de reapropriar os muitos fragmentos de nosso legado popular de boa rebeldia.
Por Cindy Barukh Milstein
O texto a seguir é um trecho adaptado de “Be Gay, Do Crime: Everyday Acts of Queer Rebellion” (Seja gay, cometa crimes: atos cotidianos de rebelião queer), editado por Riley Clare Valentine, Blu Buchanan, e Zane McNeill, colaborador da LGBTQ Nation.
Esses dias, frequentemente se encontra o slogan “Proteja crianças trans” em camisetas, pintado em banneres, ou entoado nas ruas durante manifestações. Os radicais acrescentaram um toque especial, intercalando ilustrações de uma rosa e uma adaga entre essas três palavras simples, dando-lhes um toque mais ousado. Mas ume amigue minhe anarquista de quinze anos recentemente compartilhou sua crítica sobre essa frase popular, declarando categoricamente que: “Nós podemos nos defender!”.
Sua afirmação aponta para os superpoderes de muitos jovens de hoje, ao menos a partir de meu ponto de vista como pessoa queer mais velha e anarquista em Turtle Island. Elus já sabem, desde cedo, que não se encaixam nos padrões heteronormativos. Elus já parecem abertamente confortáveis com quem são, de tantas maneiras fabulosas que não se enquadram nos padrões de gênero e até mesmo que aboliram o gênero. E, como adolescentes e até pré-adolescentes, elus já estão reagindo e se esforçando para criar suas próprias utopias queer.
Todavia, essas juventudes frequentemente não percebem que seu espírito de luta não é tão diferente do de seus antepassados, nem sua dedicação à autodefesa da comunidade. Basta dar uma olhada em apenas uma citação desta ampla amostra de atos cotidianos de resistência e rebelião queer, proclamada pelo antifascista gay Willem Arondeus quando enfrentada a execução por ações militantes diretas contra o nazismo… “Homossexuais não são covardes.” Na verdade, muitos de nós, adultos, também não conhecemos nossas próprias histórias vindas de baixo.
A história, como diz o ditado, é escrita por aqueles que estão no poder, que intencionalmente conspiram para solidificar seu domínio coercitivo e violento, apagando tudo o que não se conforma à sua narrativa. Os hegemônicos vitoriosos — sejam eles o colonialismo e o capitalismo; os Estados, a polícia, e as prisões; ou os homofóbicos, transfóbicos, e fascistas —, em essência, colocam nossas histórias populares em um armário e trancam a porta.
Ou é isso o que eles pensam.
Be Gay, Do Crime, com sua abundância de ofertas calendáricas, age como um alicate de corte. Cada entrada abre outro cadeado, permitindo-nos roubar de volta o que é nosso. Para reapropriar os muitos fragmentos de nossos legados de boa rebeldia, que de outra forma seriam “perdidos” para as histórias impostas de cima para baixo, e usar esses gloriosos remanescentes, essas pontas soltas, para criar figurativamente nossos próprios amuletos de proteção mútua. E para compartilhar esses talismãs da lembrança livremente com cúmplices, co-conspiradores e outros hereges visionários como o material que sustenta nossa construção de mundo não sancionada e descaradamente mágica.
Este livro é de fato uma forma de proteção comunitária – um tema que permeia todas as suas páginas. É o tipo de proteção que vem do aprendizado sobre a história radical e os antecessores revolucionários, tirando força do conhecimento de que já fizemos isso antes, e não apenas uma ou duas vezes. Durante séculos, resistimos e nos revoltamos, fizemos avanços, choramos entes queridos, experimentamos e às vezes falhamos, criamos espaços autônomos, grafamos paredes e bloqueamos prédios, escolhemos nossos próprios parentes, emprestamos nossos corações e solidariedade, vivemos perigosamente e dançamos ilegalmente, nos rebelamos e nos assumimos, lutamos, desafiamos fronteiras e quebramos binários, permanecemos ilegivelmente subversivos e muito mais.
Como cada capítulo nos lembra, quando chega a hora da verdade, defendemos uns aos outros, e a sabedoria não desaparece, mesmo que os poderes constituídos conspirem para enterrar nossas histórias. “Estamos aqui, somos queer, não vamos desaparecer” (Noruega, 25 de junho de 2022). E quer sejamos jovens, idosos ou qualquer coisa entre os dois, como este livro sublinha, persistimos em atos diários de reciprocidade que reduzem os danos e aliviam o sofrimento, dentro e fora dos nossos círculos.
Ou como o poeta Federico García Lorca diz… “Eu sempre estarei do lado daqueles que não têm nada e que nem sequer podem desfrutar em paz do pouco que têm”.
Tradução > Lagarto Azul / acerto trans-anarquista
agência de notícias anarquistas-ana
Lua de primavera.
O teu brilho não permite
que eu aperte o passo.
Neide Portugal
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.
Um grande camarada! Xs lutadores da liberdade irão lhe esquecer. Que a terra lhe seja leve!