[EUA] Obituário: Vincent Scottie Eirene, um anarquista católico que dedicou sua vida aos pobres, morre aos 73 anos

27 de março de 1952 — 11 de setembro de 2025

Por Jeremy Reynolds | 10/10/2025

Vincent Scottie Eirene abriu sua casa para moradores de rua e pessoas com deficiência e não era estranho que fosse preso por desobediência civil.

Nascido em Brookline, ele se tornou uma figura conhecida por décadas no bairro de Manchester, na zona norte, e faleceu em 11 de setembro. Ele tinha 73 anos.

Ele frequentou a Upper St. Clair High School, onde se envolveu com o ministério cristão Young Life. Isso lhe proporcionou uma experiência de conversão que moldaria o resto de sua vida.

O Sr. Eirene — nome que adotou legalmente e que significa “paz” em grego antigo — frequentou a Ohio State University, mas abandonou os estudos para se dedicar ao ativismo, concentrando-se em causas contra a guerra e a pobreza.

Ele se inspirou na vida de Dorothy Day, uma ativista social e anarquista que se converteu ao catolicismo tardiamente.

Ele morou em uma casa no bairro de Manchester por quase 50 anos, viajando para protestos em todo o país e chegando até mesmo a Bagdá durante a Guerra do Golfo.

“No começo, ele tinha uma tendência a insultar as pessoas por causa de seu poder e riqueza”, disse Byron Borger, amigo de longa data e colega ativista do Sr. Eirene, que agora é dono de uma livraria em York, Pensilvânia. “No início, ele não fez muitos amigos.”

Depois de fazer um voto de pobreza, o Sr. Eirene passou a frequentar eventos comunitários e protestos. Ele tinha um senso de humor sarcástico e irônico que muitas vezes aparecia em suas manifestações. Quando protestou contra a guerra de Granada em 1983, seu grupo ocupou uma pequena ilha de trânsito para simbolizar a ilha.

“Eu mesmo era um pouco ativista na Universidade de Indiana da Pensilvânia”, disse o Sr. Borger. “Um amigo me contou sobre esse fanático maluco e disse que eu precisava conhecê-lo. Nós brincávamos muito, mas levávamos isso muito a sério.”

Eirene fez jejuns na Universidade Carnegie Mellon porque a universidade estava envolvida no desenvolvimento de armas. Ele comprou ações da Rockwell International, a empresa que já produziu bombardeiros B-1 Lancer, para poder participar das reuniões de acionistas e protestar. A sede da empresa ficava no U.S. Steel Building, no centro da cidade.

Não é de surpreender que o Sr. Eirene não fosse um desconhecido do sistema judicial e penitenciário.

“Lembro-me de uma vez em que ele foi multado por invasão de propriedade, o que o magistrado reduziu a conduta desordeira”, disse David Scottie, advogado e irmão mais novo do Sr. Eirene, que ocasionalmente o representava em audiências no tribunal.

“Quando o magistrado percebeu que Vince não pagaria a multa, ele simplesmente retirou as acusações. Ele tinha um temperamento especial.”

O Sr. Eirene sustentava-se fundando uma empresa de mudanças chamada Second Mile Light Hauling, uma referência ao Sermão da Montanha de Jesus na Bíblia. Ele contratava jovens locais, particularmente homens afro-americanos, que ele acreditava precisarem de trabalho.

“Ele criou um slogan engraçado para a empresa: Se não conseguirmos transportar, contrate outra pessoa”, disse Mark Vander Vennen, psicoterapeuta e assistente social que estudou na Universidade Duquesne e mora no Canadá.

O Sr. Vennen conheceu o Sr. Eirene no final da década de 1970 e manteve contato diário com ele até sua morte.

“Ele tinha um senso de humor incrível que equilibrava seu lado sério. Sua nervosidade foi diminuindo com a idade.”

O Sr. Eirene não era assistente social e não se juntou a nenhuma organização formal de abrigo — “os anarquistas não veem com bons olhos as organizações formais”, disse o Sr. Vennen — mas abriu as portas da sua casa à população em situação de rua e aos pobres, acolhendo tantos quantos pôde ao longo de décadas, proporcionando um refúgio aos necessitados.

Ele chamou à sua casa de Duncan and Porter House (Casa Duncan e Porter).

No ensino médio, o Sr. Eirene ganhou um concurso de rádio com uma piada do tipo “Confucius diz” quando ligou com a frase: “Confucius diz: um homem que trabalha para a companhia telefônica tem muitas conexões na vida”.

Ele fez muitos contatos, incluindo com o ator Martin Sheen, que se interessou pelos protestos do Sr. Eirene e fez amizade com ele enquanto estava em Pittsburgh para uma filmagem. O Sr. Eirene também fez amizade com a escritora Naomi Klein, bem como com membros da banda Rusted Root, de Pittsburgh, que tocaram em seus eventos e em seu funeral.

“Ele era muito bom em arrecadar dinheiro, em parte porque o que fazia era muito convincente, mas sua personalidade era muito envolvente e divertida”, disse o Sr. Vennen.

O Sr. Eirene tinha orgulho dos quatro livros que publicou, incluindo “The Day the Empire Fell” (O dia em que o império caiu), uma coleção de vinhetas sobre sua própria desobediência civil.

Ele também se orgulhava das relações respeitosas que desenvolveu com figuras de autoridade enquanto protestava pacificamente. Durante um incidente desagradável em que o Sr. Eirene foi falsamente acusado de agredir um policial, o próprio chefe de segurança aposentado da U.S. Steel interveio como testemunha de caráter, o que levou à retirada das acusações.

Em seus últimos anos, sua família e amigos o ajudaram a cultivar um jardim de tomates, morangos e amoras em seu quintal. Vários acidentes de carro tornaram difícil para ele viajar, e “ele passou a valorizar aquele jardim”, disse o Sr. Scotti, seu irmão.

O Sr. Scotti encontrou seu irmão sentado em sua cadeira em 11 de setembro. “Ele simplesmente se foi”, disse ele.

O Sr. Eirene, que era divorciado, deixa duas filhas: Caitlin, que mora em Londres, e Chenoa, que mora em Pittsburgh; seu irmão, David, de Mt. Lebanon, e sua irmã, Genevieve Schroeder, que mora em St. Petersburg, Flórida.

A missa de corpo presente foi celebrada no dia 26 de setembro na Igreja de São Bernardo.

Fonte: https://www.post-gazette.com/news/obituaries/2025/10/10/vincent-scotti-eirene-obituary/stories/202510090085

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

brasa do tempo
acende quando passas
no pensamento

Carlos Seabra

Leave a Reply