Os protestos indígenas no Equador completam um mês com três mortos e o diálogo rompido

Os protestos indígenas no Equador completam um mês com ao menos três manifestantes mortos, 15 desaparecidos, quase 300 feridos e 377 violações dos direitos humanos.

Por Martín Cúneo | 22/10/2025

Em 16 de setembro o poderoso movimento indígena se lançava às ruas e a bloquear estradas em várias províncias da serra equatoriana. O paro indefinido decretado pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) três dias depois foi contestado com a declaração do estado de exceção em sete províncias e com uma repressão sistemática da polícia e do exército equatoriano, que incluiu o uso “desproporcional” de gases lacrimogêneos e armas de fogo, segundo denuncia o Escritório em Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA).

Até a data, ao menos três pessoas faleceram em consequência da violência policial e militar: o líder indígena kichwa de 46 anos, Efraín Fuerez; José Alberto Guamán Izam, de 30 anos, da comunidade de Cachibiro, agricultor e pai de dois filhos, e Rosa Elena Paqui, mulher indígena saraguro de 61 anos, por uma parada cardiorrespiratória causada pelos gases lacrimogêneos.

Segundo documenta WOLA, a repressão alcançou a imprensa, com jornalistas “retidos e deportados” e o fechamento de mídias comunitárias. Também foi reportado invasões sem ordem judicial, cortes de internet e telefonia nas províncias mobilizadas e “deportações sumárias”, segundo esta organização estadunidense. Segundo as cifras da Conaie, quando completa um mês de mobilização, aos três mortos, se somam 296 pessoas feridas e 377 violações dos direitos humanos.

Em 16 de outubro, 132 organizações internacionais de direitos humanos exigiam ao Governo equatoriano frear a militarização e o “uso excessivo da força”. O comunicado enfatiza a criminalização judicial das organizações indígenas e defensores de direitos humanos “sob acusações como terrorismo, enriquecimento ilícito e paralisação dos serviços públicos”. Segundo denunciam estas ONGs de todo o mundo, o Governo de Noboa está recorrendo ao bloqueio de contas bancárias de várias organizações sociais e defensores de direitos humanos.

As principais demandas indígenas seguem sendo a revogação da lei que elimina o subsídio ao diesel, mais recursos para a saúde, o fim das demissões em massa, a redução do IVA a 12% e o rechaço ao referendo convocado pelo presidente, Daniel Noboa, para permitir a reinstalação de bases militares estadunidenses no território. Com o transcorrer do paro indefinido, às primeiras demandas se somou a liberação dos detidos e o fim da criminalização.

O principal foco de resistência indígena é a província de Imbabura, onde o Governo dirigiu um operativo militar para “reprimir o povo e liberar as vias”, segundo a Conaie, organização que culpou ao Governo de Noboa da ruptura das negociações e da criminalização da qual estão sendo vítimas: “Não somos terroristas, somos povos milenares que nos regemos pelos princípios de unidade e solidariedade”. As tentativas de transladar os protestos a Quito e tomar a capital, como em anteriores paros que fizeram o governo equatoriano se dobrar, foram obstaculizados pelas forças de segurança que impediram a passagem dos caminhões que transladavam manifestantes e dispersou com gases lacrimogêneos as manifestações na cidade em 12 de outubro passado.

Apesar de que o Governo afirmou desde o princípio que não iria negociar com o movimento indígena, em 15 de outubro se sentou com os representantes indígenas de Imbabura e dos povos kichwa da serra para chegar a um acordo que não durou muito. “Hoje se levanta o paro, hoje se abrem as vias”, disse o ministro do Interior John Reimberg. Mas no dia seguinte, os protestos continuavam. As demandas de manter o subsidio do diesel, de liberar a todos os manifestantes detidos, em especial os “12 de Otavalo” acusados de terrorismo, ou o esclarecimento das mortes produzidas seguiam sem ver-se satisfeitas.

Em 19 de outubro, o Governo rompia oficialmente o diálogo com o movimento indígena e o responsabilizava de “qualquer coisa que aconteça”. A Conaie rechaça esta decisão, à qual qualifica de “autoritária” e acusa Noboa de “fechar toda possibilidade de diálogo real enquanto cumpre as exigências do Fundo Monetário Internacional à custa do sofrimento do povo e o aumento da pobreza”.

Fonte: https://www.elsaltodiario.com/ecuador/protestas-indigena-cumplen-un-mes-tres-muertos-dialogo-roto

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

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Irene Massumi Fuke

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