
Por Aldo Santiago | 27/10/2025
A duas semanas do início da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), a realizar-se na cidade brasileira de Belém, na região amazônica, um grupo de governos de países industrializados e ONGs com perfil corporativo promovem um novo fundo de investimento internacional que busca mobilizar centenas de milhares de milhões de dólares para “recompensar” a conservação dos bosques tropicais.
O Fundo Bosques Tropicais para Sempre (TFFF, por sua sigla em inglês), se apresenta como um “avanço histórico” em favor da conservação da natureza mundial. Seus principais promotores são uma dezena de governos de países industrializados – incluídos membros do G20, os mais poderosos do planeta – em aliança com governos de países amazônicos como Colômbia, Equador e Brasil, assim como de ONGs como a Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre (WCS), Conservação Internacional (CI), The Nature Conservancy (TNC) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Sua proposta, que planejam lançar oficialmente na COP30, aspira a arrecadar mil milhões de dólares através de um fundo de investimento internacional que busca mobilizar capital público, filantrópico e institucional para recompensar a conservação de bosques tropicais mediante pagamentos anuais por hectare “em pé”.
O TFFF estima incorporar um fundo financeiro de entre 100 e 125 mil milhões de dólares mediante o qual se pagarão quatro dólares por hectare conservado. Inclusive, assevera que planejam destinar ao menos 20% destes recursos a povos indígenas e comunidades locais. Não obstante, organizações ambientalistas como o Movimento Mundial pelos Bosques Tropicais (WRM) adverte que o mecanismo pode converter-se em uma nova armadilha de mercado que reforce o controle financeiro sobre os territórios do Sul Global.
Através do estudo, “O Fundo Bosques Tropicais para Sempre: Uma nova armadilha para os povos e bosques do Sul global”, o WRM alerta que, apesar de que o Brasil é o rosto político da iniciativa financeira – pois também anunciou que contribuirá com 1,000 milhões de dólares -, sua origem remonta ao ano de 2009, quando foi criada por um ex-funcionário do Banco Mundial vinculado a grandes bancos estadunidenses.
Para a organização, estas dinâmicas revelam a verdadeira expressão do fundo de investimento como “colonialismo financeiro imposto desde uma lógica vertical”, a qual asseguram tem uma relação estreita com outros mecanismos como REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) que “foram concebidos por atores que operam a grande distância das realidades do Sul global, ainda que afirmem saber como salvar os bosques tropicais (…) o que se propõe não é mais que outro plano desenhado pelas elites do Norte, para ser gestionado pelas elites do Norte e, consequentemente, em beneficio das elites do Norte”.
Converter os bosques em ativos financeiros
O estudo do WRM, difundido este mês de outubro, destaca que a iniciativa do TFFF esconde uma estrutura enganosa, devido a que, na realidade, a gerência do fundo estará a cargo do Fundo de Investimento em Bosques Tropicais (TFIF, por sua sigla em inglês), que funcionará sob o suporte do Banco Mundial.
O documento detalha que as decisões estratégicas recaem no conselho diretivo do TFIF, fundo composto exclusivamente pelos governos dos países industrializados. Em contraste, os governos dos países com bosques tropicais não participarão na tomada de decisões, apesar de que o TFFF se promove como uma “proposta originada no Sul global”.
O WRM e organizações aliadas advertem que o TFFF, além de reproduzir lógicas de mercado e financeirização da natureza com participação desigual para os povos, os pagamentos dependem da rentabilidade financeira do fundo e que a conservação coexista com a expansão de indústrias extrativistas. Ainda mais, preocupa que os pagamentos que o TFFF promete realizar às comunidades poderiam fragmentar a solidariedade entre os movimentos de resistência ou entre as comunidades em resistência.
Em termos simples, o TFIF planeja utilizar o capital emprestado por investidores ricos, filantropos, bancos e governos do Norte global para adquirir “bonos” emitidos por aqueles governos que necessitam financiamento, o que implica tirar proveito da já avultada dívida pública dos países do Sul global, ou por grandes empresas que os utilizam para financiar projetos industriais em grande escala que destroem os bosques em ditos países. “Entre estes projetos se incluem atividades como mineração, monocultivos, infraestrutura e energia ‘limpa'”, alerta o estudo do WRM.
Derivado desta dinâmica, a organização questiona como a maior parte dos lucros que o TFIF espera gerar não se destinará à conservação, mas ao pagamento de interesses e lucros para quem empresta os fundos. “Estes atores investem no TFIF como uma forma de ganhar mais dinheiro. Só depois de cobrir as comissões de gestão e distribuir os lucros entre os prestamistas, desde o TFIF se contempla a possibilidade de transferir uma porção dos fundos aos governos que prometeram proteger os bosques tropicais”, sustenta o movimento.
O WRM e a Global Forest Coalition alertam que o TFFF poderia agravar a exclusão de comunidades e povos, que mais cuidam dos bosques e selvas, ao reduzir aos ecossistemas unicamente como ativos financeiros que, em consequência, violará seus direitos e criminalizará práticas tradicionais como o cultivo itinerante, atividades que podem interpretar como desmatamento.
Mais falsas soluções
Este modelo, adverte o informe do WRM, replica as deficiências do programa REDD+, onde múltiplos projetos de conservação geraram conflitos territoriais e restrições ao uso tradicional dos bosques. “Assim como o REDD, é provável que se converta em outro rotundo fracasso no cumprimento dessas promessas. Em essência, o TFFF não se trata de abordar as causas do desmatamento. Pelo contrário, seu “coração financeiro”, o TFIF, se alimenta de um mercado financeiro que fomenta o desmatamento”, sustenta o movimento.
Segundo adverte a Coalizão Mundial pelos Bosques (GFC, por sua sigla em inglês) em sua análise do TFFF, “resulta profundamente enganoso crer que a atribuição de um pagamento por hectare”, e mais ainda, um tão exíguo, poderia “resolver os problemas estruturais do capitalismo que são promovidos ativamente por capitais privados, grandes corporações e Estados”. Como resultado, alertam ambas as organizações, o TFFF aprofundará ainda mais as incertezas e ameaças para as comunidades que dependem dos bosques e porá em risco o futuro dos bosques tropicais.
Ademais, resgatam que mecanismos similares como a implementação de REDD+ durante duas décadas, propiciaram aprendizagens contundentes, pois evidenciam que, para os negócios que lucram com o desmatamento em grande escala, “os lucros derivados da venda de créditos de carbono não resultam tão significativos frente aos lucros que se obtêm com a destruição dos bosques”.
O estudo conclui que o novo fundo depende da destruição de territórios, devido a que seu modelo de geração de lucros é baseado em investimentos dentro dos mercados financeiros. Os mesmos que prosperam mediante a expansão da economia capitalista.
“Esse é o propósito original dos bonos: financiar megaprojetos energéticos, mineradores, de agronegócios, assim como a produção de papel e celulose”. Na atualidade, muitas destas atividades – que incluem as represas hidroelétricas ou a mineração de níquel para baterias, entre outras – são catalogadas como “limpas” ou “verdes”, apesar de que, por definição, implicam destruição territorial em grande escala. Sem canalizar o dinheiro para este ciclo de exploração, o TFIF não pode gerar os lucros que logo aspira destinar ao TFFF como pagamentos por “conservação de bosques”, sustenta o movimento.
De acordo com a análise do WRM, o TFFF aprofundará ainda mais as incertezas e ameaças para as comunidades que dependem dos bosques e porá em risco o futuro dos bosques tropicais a nível global.
Fonte: https://avispa.org/nuevo-fondo-verde-en-la-cop30-trampa-para-pueblos-y-bosques-del-sur-global/
Tradução > Sol de Abril
agência de notícias anarquistas-ana
Dia grisalho
brotos brotam brutos
na ponta do galho
Danita Cotrim
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.