
Revisão de Anarcho-Punk por David Insurrection
~ Phil ~
Ter um lugar, um espaço, um centro local ou social, onde você se sinta em casa e rodeados por pessoas com interesses similares é algo muito poderoso. Um lugar onde se possa trabalhar, inspirar, criar ou relaxar, conversar ou meditar, um lugar para realizar eventos e campanhas de arrecadação de fundos… uma base sólida, um alicerce ou porto seguro pode ser vital para manter uma comunidade. Não é algo fácil de se conseguir em um período da história no qual muitas pessoas só existem online ou estão geograficamente distantes dos centros de atividade social.
Portanto, é extremamente útil saber o que pode ser feito e é bom saber como as pessoas conseguiram, tentaram e até falharam em criar comunidades no passado. Nos anos 1970 e 1980, na Grã-Bretanha, surgiu uma nova forma de ativismo que se ramificou da cultura musical, ou seja, do punk, que buscava uma autenticidade além da postura punk.
Junto com isso, surgiu um interesse pelo anarquismo e por novas formas sociais de conviver entre nós e com o ambiente. Essa é uma parte importante e muitas vezes obscurecida da nossa história social.
Não há dúvida de que, se não registrarmos a nossa própria história, perderemos muito. Perderemos a cultura e a capacidade de salientar o que foi feito, o que pode ser feito e continuar a ser feito. É fundamental fazer esse registro a partir das experiências de pessoas que se envolveram na criatividade cultural e na resistência.
Ter esse conhecimento pode nos dar inspiração, energia e resiliência. Ele nos dá a estabilidade da experiência e permite evitar repetir os mesmos erros.
Assim, chegamos a essa magnífica obra. Nessa história de mais de 200 páginas, David volta a atenção para a subcultura punk e a traz à vida com histórias e fotos. Olhando para trás, para locais significativos e eventos importantes do final dos anos 1970 e 80, o livro registra e documenta, nas suas palavras: “a história de uma cena muitas vezes esquecida” que “inspirou uma geração de ativistas, artistas e músicos a lutar por um mundo melhor”. Fala das pessoas, das bandas, dos locais e edifícios icônicos – dando voz às experiências daqueles que os usaram e mantiveram.
Após um prefácio de Tony Dayton, do fanzine Ripped & Torn (e também Kill Your Puppy), proclamando que o Crass era o que faltava na cena punk squat (e explicando como os punks, incluindo Adam Ant, se transformaram depois de ver Crass tocar), certamente ajuda a definir o cenário para o resto do livro.
Gostei da forma como o livro começa, estabelecendo imediatamente uma conexão entre o punk e o anarquismo da época. O ativismo antifascista também é um tema constante ao longo do livro.
“Bandas, zines, gravadoras e espaços autônomos autogeridos tornaram-se a frequência dessa nova cena”, explica ele, dizendo que sua “esperança é dar às pessoas um gostinho da época e das pessoas”, com a pesquisa servindo tanto como documento histórico quanto como guia.
Há muita história que eu não tinha lido antes sobre locais como o Wapping Autonomy Center e o Centro Ibérico, além de histórias sobre o Black Flag e os anarquistas espanhóis em Londres. Todas informações fascinantes que não se encontra facilmente.
Há muitas histórias interessantes e anedóticas sobre diferentes locais e bandas. Há uma discussão sobre o Monday Group e uma entrevista com Martin Wright, o que torna a leitura muito interessante.
O fato de que as histórias não sejam memórias nostálgicas e idealizadas também é um toque legal. Nem tudo era perfeito, nem todos se davam bem, nem todos se entendiam. Isso para não falar da violência fascista real que acontecia nos shows. Além da Hackney Hell Crew, é claro.
Há histórias de problemas pessoais e uma anedota interessante sobre alguém que deixou um squat, mas voltou e encontrou todos os colegas vestindo as suas roupas.
Pessoalmente, gosto muito da música daquela época e o livro traça um quadro interessante da vida e das experiências das bandas que compunham a cena anarcopunk. A primeira banda mencionada é Crass, claro, mas também temos Poison Girls, Icons of Filth, Omega Tribe, Conflict, Chumbawamba e muitas outras. Para seu crédito, várias bandas daquela época ainda podem ser encontradas tocando ocasionalmente hoje em dia.
Muitos dos locais mencionados no livro já não existem, muitos dos edifícios foram demolidos.
No entanto, as memórias permanecem vivas e, embora locais como o 121 em Brixton tenham sido tomados à força pelo Estado, outros sobreviveram. Há uma secção interessante que fala sobre a história da [livraria] Freedom, por exemplo, que continua forte. Todos compartilhamos dessa história e devemos assumi-la como nossa.
Temos uma tradição de espaços sociais, música, coletivos, publicações e uma cultura que continuamos a construir e a aprender, que continuamos a manter. Devemos aprender a celebrar isso, porque é a cultura e a história que nós mesmos criamos. É porque nos lembramos do nosso povo e do nosso poder, que nossa cultura não é vazia.
David Insurrection. 2024. Anarcho-Punk: Music and Resistance in London 1977-1988. Earth Island Books. ISBN 9781916864443.
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/09/28/sound-providing-a-base-for-fury/
Tradução > CF Puig
agência de notícias anarquistas-ana
Desejo é revolta
contra a moral que acorrenta
o pulsar da vida.
Liberto Herrera
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.