
Na terça-feira, dia 28 de outubro de 2025, presenciamos uma matança promovida pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de uma megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade. A Chacina, que já conta pelo menos 130 mortos e dezenas de desaparecidos, foi a ação policial mais letal de que já se teve registro na história do país, superando até mesmo o massacre do Carandiru. Este é mais um episódio sangrento de terrorismo de Estado e sua política genocida sistemática contra a população pobre, negra e periférica!
A atual megaoperação não é a primeira a prometer “retomar o controle do Estado” nas favelas cariocas, é continuidade da nefasta política de segurança pública implementada no estado do Rio de Janeiro nas últimas décadas. Em 2010, a falida política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) promovidas pelos governos Dilma-Lula-Cabral prometeu “acabar com o tráfico”, mas na prática fortaleceu o controle miliciano sobre os territórios. Em 2018, a Intervenção Federal de Michel Temer decretou a segurança pública do Estado do RJ sob o comando do exército brasileiro na figura de seu general Walter Braga Neto, prometendo solucionar a “crise” na segurança pública, e o que se sucedeu foram os assassinatos de moradores pelas forças militares e o descumprimento de direitos humanos mínimos, sob argumento de “guerra às drogas”.
Já o governador Cláudio Castro, tem em suas costas quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro: Jacarezinho (2021, 28 mortos), Complexo da Penha (2022, 23 mortos), Complexo do Alemão (2022, 16 mortos), Complexos da Penha e Alemão (2025, 120 mortos).
A política de segurança do governador Cláudio Castro (PL) é a mesma de seu antecessor no governo do RJ, Wilson Witzel (PSC) que além de ser conhecido por ter sofrido impeachment por corrupção, cunhou a frase: “A polícia vai mirar na cabecinha e… fogo”. Portanto, o número superior a 120 mortes não é um “dano colateral”, é a materialização da doutrina que vê a população pobre como inimiga a ser eliminada.
DA FAIXA DE GAZA AO RIO DE JANEIRO, A MÁQUINA DE GUERRA COLONIAL
O orçamento da segurança pública do estado do Rio de Janeiro chega aos R$ 19 bilhões por ano (a segunda maior pasta de gastos) e 61% desse orçamento é destinado exclusivamente ao policiamento ostensivo. Esse financiamento sustenta a máquina de guerra que tem o Estado genocida de “Israel” como principal fornecedor, responsável por 17% das armas do Estado. O mesmo arsenal e as tecnologias de guerra colonial experimentadas em Gaza são importados e aplicados nas favelas cariocas: Assistimos à chegada de drones e agora de helicópteros de guerra como o “Black Hawk”, aeronave armada com mísseis e metralhadoras com capacidade de disparar mil tiros por minuto. Na “Gaza brasileira”, o Estado replica a lógica de guerra colonial e extermínio em massa praticada por “Israel” contra o povo palestino.
Como forma de justificar o massacre, a extrema direita destaca a quantidade de armas apreendidas na operação que até o momento contabiliza 93 fuzis. É importante lembrar que há pouco tempo atrás, em 2019, 117 fuzis NOVOS foram apreendidos na Barra da Tijuca, no apartamento de Alexandre de Souza, amigo de infância do miliciano Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco e vizinho do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mesmo aparato que assassina dezenas para apreender 93 fuzis na favela, age de forma “discreta” para apreender 117 fuzis novos num bairro de classe alta.
Entre as justificativas que embasam essa operação, é citado que o Comando Vermelho promovia uma “expansão violenta em áreas de milícia”. Tal preocupação ilustra que o Estado adota abordagens distintas para as diferentes facções criminosas, mudando a balança de suas disputas pelos pontos de varejo e beneficiando os setores mais alinhados com as forças policiais paramilitares.
O “NARCOTERRORISMO” COMO PLATAFORMA DE CAMPANHA: QUAIS CORPOS DANÇAM PARA QUE A FESTA DA DEMOCRACIA ACONTEÇA?
Alinhado aos ventos reacionários da política internacional, Cláudio Castro, ecoa a retórica imperialista de Donald Trump que autorizou o bombardeio a barcos na América Latina sob a acusação de “narcoterrorismo”, buscando legitimar a execução sumária de civis sem qualquer tipo de julgamento. O objetivo de Castro com essa ação é nitidamente promover o populismo penal, a fim de criar uma plataforma de campanha para 2026, utilizando as vidas ceifadas como combustível eleitoreiro e demonstrando novamente que aqui o genocídio é um projeto de poder. Os de cima chamam de democracia a matança de quem não dança na sua festa!
Faz parte do teatro eleitoreiro a retórica do “narcoterrorismo”, que pinta a imagem de um inimigo interno preto, pobre, favelado. Mas é importante dizer que a apreensão de alguns quilos de droga e uma matança contra supostos soldados de uma facção sequer arranham a estrutura do verdadeiro crime organizado, que é na verdade administrado pelo grande capital financeiro desde luxuosas coberturas. Pesquisas indicam que o crime organizado faturou R$ 350 bilhões nos últimos três anos no Brasil. Nos últimos meses, investigações escancararam bilhões de reais movimentados no mercado formal (postos de combustível, venda de bebidas, mercado imobiliário, fintechs, dentre outros). Não se trata de uma “infiltração” do crime na economia formal, mas de investimentos ativos do mercado financeiro, que busca lucrar com a economia bilionária dos mercados ilícitos sem sujar as mãos. Não acreditamos de forma alguma que o tráfico e as milícias atuariam da forma como atuam sem o agenciamento e financiamento do Estado e do mercado, que lucram política e financeiramente com a sua existência.
TERRORISTA É O ESTADO!
É ainda mais alarmante que o governador faça um discurso que tente classificar as facções criminosas como grupos terroristas, enquanto nós sabemos que TERRORISTA É O ESTADO! Longe de serem exceções, tais assassinatos exemplificam a regra das ações policiais contra a população negra e pobre do país. Não se trata de políticas de um ou outro governo, mas sim de uma característica intrínseca ao sistema capitalista-estatista na promoção do genocídio do povo negro. Não é possível falar do terrorismo de estado sem levar em conta seu caráter racial – os números demonstram que a grande maioria das pessoas assassinadas pelas polícias são negras – e a instituição policial surge no Brasil justamente como uma ferramenta de Estado para controle e extermínio do povo negro. Terrorista é o Estado que invade casas, executa civis, destrói o patrimônio público e oferece a morte como política pública. Terrorista é o mercado financeiro que lucra com o sangue derramado nas periferias!
A operação no Rio de Janeiro é resultado direto da ação do Estado na ADPF das Favelas. As favelas perderam, e o Estado ganhou. O STF tem responsabilidade nesse processo, assim como o governador. A própria gestão estadual chegou a publicar nas redes sociais que “a operação está sendo realizada cumprindo as exigências da ADPF 635″. O governador comemorou como se houvesse um grande êxito, diante de mais de 120 corpos de pessoas brutalmente assassinadas sem direito a julgamento, de moradores baleados, escolas sem aula, trânsito interrompido e famílias em pânico”. Isso é reflexo de uma política que abocanha o orçamento público e destina seus recursos para financiar o genocídio da população negra e periférica.
É certo que não existem soluções simples para a segurança pública, como vendem os políticos tanto da direita quanto da esquerda institucional. A “sensação de insegurança” das elites e dos setores médios nada mais é do que o medo de perder seus bens ou sua vida na barbárie produzida pelo próprio sistema capitalista. No entanto, as estatísticas não deixam dúvida sobre quem são as verdadeiras vítimas desse sistema: em 2024, 76% das 44 mil vítimas de homicídio no Brasil eram negras. Disfarçada de guerra às drogas, a política genocida é na verdade uma guerra aos pobres, que vitima a juventude negra e periférica, e mantém a população dessas comunidades sob constante ameaça.
Chacinas como a que vivenciamos no Rio de Janeiro demonstram a falência das instituições de Estado em garantir o mínimo que elas mesmas se propõem. Enquanto a população periférica seguir sem moradia digna, saúde, educação e lazer, o ciclo de violência seguirá se perpetuando. Enquanto não avançarmos a descriminalização das drogas, bilhões seguirão indo para o bolso de empresários e políticos ligados ao narcotráfico. É urgente que o debate nos movimentos populares sobre o fim da polícia militar avance para demandar o fim de todas as polícias, que são o braço armado dos poderosos para nos torturar, prender e matar. A verdadeira resposta não se resume a combater a violência, mas a construir um outro projeto de sociedade. Somente a construção de um povo forte é capaz de desmontar esta máquina de morte. A única resposta possível ao terror de Estado é a organização popular das comunidades em autodefesa!
Pelo fim do genocídio do povo negro!
Pelo fim das polícias!
Por vida digna e segura para as vilas e favelas!
cabanarquista.com.br
agência de notícias anarquistas-ana
Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.
Guilherme de Almeida
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.