
A região do Darfur está mergulhada em atrocidades, com fome, assassinatos em massa e deslocamentos agora definindo o que resta da revolução do Sudão.
~ Blade Runner ~
A cidade de El Fasher, na província sudanesa de Darfur, que é quase do tamanho da Espanha, devastada pela guerra, caiu nas mãos das Forças de Apoio Rápido (Rapid Support Forces, RSF), que são paramilitares, após mais de 18 meses de cerco. Nesse tempo, centenas de milhares de civis ficaram presos, os suprimentos de alimentos entraram em colapso e as condições de fome começaram a se estabelecer. Imagens de satélite e relatos de testemunhas oculares agora revelam cenas de terror: bairros queimados, valas comuns e assassinatos em larga escala de civis. As RSF, lideradas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo (“Hemedti”), sucessores diretos das milícias Janjaweed, os chamados “demônios montados”, durante anos aterrorizaram populações não árabes em Darfur, e têm lutado contra as Forças Armadas Sudanesas (SAF) do general Abdel Fattah al-Burhan há mais de 2 anos, naquilo que muitos sudaneses chamam de “guerra contra civis”, já que mata uma proporção descomunal de mulheres e crianças.
O número total de pessoas mortas é desconhecido. As estimativas variam de dezenas a centenas de milhares, mas nenhum número confirmado se aproxima de um milhão. Mais de 12 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do Sudão ou forçadas a fugir para países vizinhos, particularmente o Chade, mas também República Centro-Africana, Líbia, Egito, Sudão do Sul, Uganda e Etiópia. Cerca de 25 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, com cerca de 24 milhões sofrendo insegurança alimentar aguda e surtos de doenças como o cólera. Mesmo a ajuda que chega ao país é frequentemente bloqueada ou saqueada pelas forças da RSF, por unidades das SAF ou por milícias locais alinhadas algum dos lados. O número de refugiados que consegue chegar ao Mediterrâneo na tentativa de cruzar para a Europa em barcos inseguros é pequeno, muitas vezes arriscando ou encontrando a morte no mar.
Essa guerra civil começou após a derrubada do presidente Omar al-Bashir, em 2019, quando uma revolta popular o forçou a deixar o poder. Em vez de levar a qualquer tipo de democracia, o país foi tomado por generais rivais que acabaram virando as armas uns contra os outros. Tornou-se um conflito impiedoso que a ONU chamou de “a tempestade perfeita”, sem perspectiva visível de fim, atraindo o envolvimento externo de potências regionais como os Emirados Árabes Unidos e o Egito, apoiando lados diferentes, bem como interesses russos e empreiteiros militares privados. A UE tem gasto milhões para conter a migração, enquanto equipamentos militares da Grã-Bretanha, Canadá e outros lugares estão sendo usados nos campos de batalha.
Menos conhecido é o que resta do movimento revolucionário de base que ajudou a desencadear o levante contra al-Bashir. Entre essas forças está o Grupo Anarquista no Sudão (AGS), fundado por estudantes e jovens trabalhadores em 2017. Durante a revolução, ajudou a organizar comitês de resistência, assembleias de bairro que coordenavam protestos, greves e ajuda mútua. Depois que os militares retomaram o poder e a guerra civil começou, muitos membros do AGS foram presos, mortos ou empurrados à clandestinidade. Outros continuaram o trabalho em segredo: traduzindo e imprimindo textos anarquistas, administrando cozinhas comunitárias, ajudando famílias deslocadas e apoiando grupos de defesa locais. Com o apoio de redes anarquistas internacionais, incluindo Black Rose/Rosa Negra, o AGS adquiriu uma impressora para produzir material, embora a luta e a repressão constantes tenham limitado o seu uso. Para eles, essa não é simplesmente uma guerra entre dois generais, mas a destruição violenta da revolução que vinha a partir de baixo, um esmagamento deliberado de qualquer tentativa de auto-organização, autonomia ou poder popular.
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/10/31/sudan-drowning-in-blood-and-hunger/
Tradução > CF Puig
agência de notícias anarquistas-ana
vento transparente
nu
vens
Alexandre Brito
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.