
Por Daphne Bunker | 24/10/2025
No último mês, cartazes em papel preto e branco, colados em postes telefônicos pelo bairro universitário (U-District) e arredores, anunciaram a Feira Anarquista do Livro de Seattle. Lotado de participantes e de paixão pela autopublicação, o evento reuniu mais de 40 expositores com zines, livros, adesivos, marcadores, camisetas e pôsteres, muitas vezes gratuitos ou vendidos por doação sugerida.
A feira, realizada no Vera Project nos dias 18 e 19 de outubro, também sediou oficinas durante os dois dias. Os temas variaram de “Como Pesquisar Seu Senhorio” até o “Relatório de Retorno [da Frente Internacional Antifascista] de Mianmar”, além de oferecer um espaço de cuidado infantil totalmente equipado.
Um dos organizadores da feira, Lizard, participa desde 2012 como expositor e palestrante e se tornou organizador em meados da década de 2010.
“É quase como uma reunião de família anarquista, de certo modo”, disse Lizard. “Vem muita gente de vários lugares: de Seattle, da região, do oeste de Washington, do noroeste do Pacífico e até de mais longe, e a gente compartilha aquilo que eu mais amo: livros, zines, conversas, reencontros, novas amizades. É tudo muito tranquilo.”
Parar em uma mesa ia muito além de pegar um zine ou comprar um adesivo. Os expositores se apresentavam, diziam de onde vinham e conversavam sobre os trabalhos que estavam desenvolvendo. As publicações iam de coletâneas de poetas em Gaza a reproduções de arquivos sobre ativistas do Vale do Silício que resistiam durante o expediente, até crônicas sobre o manejo florestal colonial e a soberania tribal na Península Olímpica.
Lizard destacou o valor dessa variedade de obras, apontando que a anarquia, como campo político, se caracteriza justamente por sua diversidade.
“Eu acho que a anarquia é mal compreendida como uma coisa só, ou algumas poucas coisas, em vez do que ela realmente é: caótica”, disse Lizard. “A gente quer liberdade total pra tudo. Esse é o ponto de partida, e o caminho pra chegar lá, e o que isso vai parecer, vai ser diferente pra cada um.”
Ter uma “reunião de família anarquista”, onde pessoas com tantos pontos de vista se encontram e trocam ideias, é uma parte essencial da feira.
“Eu gosto de espaços pró-sociais como esse porque fica mais fácil se conhecer e ir mais fundo na consolidação da própria política, e também no que cada um quer pra si”, explicou Lizard.
O primeiro dia da feira, 18 de outubro, coincidiu com a marcha de Seattle no protesto nacional “No Kings” (“Sem Reis”). As multidões se reuniram no Seattle Center para a marcha, a poucos metros da feira e do Vera Project.
Ver esses dois eventos lado a lado, cada um em sua própria tonalidade de resistência, destacou o caráter singular da feira e do anarquismo como filosofia política. As multidões do “No Kings”, embora diversas, em geral pediam proteção à Constituição e defesa da democracia representativa. O anarquismo, por sua vez, rejeita totalmente a ideia de Estado e imagina outras formas de autodeterminação.
Lizard riu quando foi perguntado como era estar “vizinho” do “No Kings”. Ele comentou que ver bandeiras americanas e a crença nos Estados Unidos como nação era algo desconcertante, mas no fim, deu de ombros.
“Eu não sinto muita afinidade com quem quer que os Estados Unidos continuem sendo o que são”, disse Lizard. “Não sei. Faz o que quiser. Só não me incomoda.”
O próprio formato da feira também ressaltou a singularidade do anarquismo, com a abundância de obras autopublicadas exemplificando o núcleo do que significa escolher ser anarquista.
“É preciso coragem”, disse Lizard. “Acho que o anarquismo é uma política da coragem: a disposição de ir além do que já é concebido, de imaginar e usar muita imaginação sobre o que ainda pode ser.”
Papel, tinta e ideias circularam pelo Vera Project durante todo o fim de semana. Uma troca livre das múltiplas vertentes do anarquismo e das produções da comunidade reunida para seu encontro anual. Mais um ano de feira significa mais um ano de novas pessoas chegando e compartilhando o que têm a dizer. E é isso, segundo Lizard, que a feira representa.
“Encontrar pessoas novas, gente que nunca teve a chance de publicar nada antes, isso é incrível”, disse Lizard. “Uma ideia nova, uma perspectiva nova.”
Mais informações sobre a Feira Anarquista do Livro de Seattle podem ser encontradas em: seattleanarchistbookfair.noblogs.org
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
Noite estrelada
O céu – brilhando – se abaixa
Silenciosamente
Eunice Arruda
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.