[EUA] Sem Deuses, Sem Prefeitos

Colocar “rostos socialistas em lugares de poder” não acaba o ciclo de violência e injustiça

Yavor Tarinski ~

Para a cidade de Nova Iorque e para as pessoas que moram nos EUA, a vitória de Zohran Mamdani na eleição para prefeito é certamente um resultado muito melhor do que qualquer outro. Entretanto, precisamos evitar cair nos mesmos erros de complacência, individualismo, e otimismo excessivo, que levaram à ascensão de Trump e da extrema-direita global.

Os movimentos sociais precisam finalmente aprender que a velha estratégia de “rostos socialistas em lugares de poder” não acaba o ciclo de violência e injustiça. Candidatos progressistas bem-intencionados e honestos são envolvidos com posições de poder e pressionados por todos os lados por elites e burocratas. Isso dá pouco espaço para que eles façam qualquer coisa significativa com suas promessas pré-eleitorais. Mais cedo ou mais tarde, os apoiadores de Mamdani ficarão decepcionados quando ele acabar não entregando suas promessas (moderadamente) socialistas.

Não devemos nos esquecer da administração Obama, ou das experiências da esquerda parlamentar na Europa da última década, quando a euforia em torno do SYRIZA na Grécia e do Podemos na Espanha rapidamente se transformou em cinismo e passividade generalizados. No mesmo período, plataformas municipalistas de esquerda conseguiram chegar a governos locais em diferentes cidades, mais notavelmente Barcelona. Mas nesses casos também, pouquíssima significância foi atingida e essas plataformas perderam o poder, em boa parte devido às suas próprias ações e inações.

Nos EUA, muitas cidades presenciaram tendências parecidas ao longo das décadas – incluindo Atlanta, Detroit, Nova Orleans, e Washington D.C. -, onde líderes políticos locais e regionais surgiram das fileiras dos direitos civis, direitos trabalhistas, e de movimentos pelo Poder Negro, para num piscar de olhos trair suas comunidades. Esses prefeitos acabaram fazendo justamente o que seus antecessores fizeram: despejando famílias pobres, encobrindo assassinatos feitos por policiais, diminuindo impostos para empresas e aumentando-os para os pobres e a classe trabalhadora, e especialmente reprimindo novos movimentos populares que lutavam por auto-governo autônomo.

Seria imprudente ignorar essa tendência histórica persistente que se espalha entre países e continentes. Depois de tantas decepções, certamente deve ser evidente que isso não é uma questão de honestidade, e sim de uma barreira estrutural que impede candidatos progressistas de cumprir suas promessas pré-eleitorais. Devemos parar de esperar que as pessoas em posições de autoridade entreguem justiça social e igualdade, independente de quem sejam. Ao invés disso, nosso foco deve ser a forma como o poder é estruturado, e não quem está no topo dele. Alguém espera que um político de esquerda como Mamdani defenda uma governança radicalmente democrática?

Ao invés de depositar expectativas em candidatos progressistas, os movimentos locais e as instituições participativas de base poderiam se confederar e lutar por reconhecimento – no final das contas, como os órgãos mais elevados de tomada de decisão em suas localidades. O que precisamos mais urgentemente, entretanto, é uma transformação profunda das nossas cidades e de suas economias, infraestrutura, serviços, espaço público, ecologia, e vida social. Para isso, nenhuma ajuda virá do gabinete do prefeito.

Estamos enfrentando várias crises, e o único jeito de sair dessa bagunça é que uma população organizada comande um verdadeiro poder comunitário. Não tem atalho.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/11/06/no-gods-no-mayors/

Tradução > Caio Forne

agência de notícias anarquistas-ana

velho sapato
lembra das caminhadas
solto no mato

Carlos Seabra

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