
Por Raúl Zibechi | 17/10/2025
O jornal britânico The Telegraph acaba de publicar um artigo intitulado “Os executivos ocidentais que visitam a China voltam aterrorizados” (12 de outubro de 2025). O “terror” é que a indústria chinesa superou a do Ocidente de forma avassaladora e aparentemente irreversível.
Depois de visitar várias fábricas automotivas, o diretor executivo da Ford, Jim Farley, disse: “É a coisa mais humilhante que já vi”. O chefe da empresa que foi pioneira na produção de carros “ficou pasmo com as inovações técnicas que estão sendo incorporadas aos automóveis chineses, desde o software de direção autônoma até o reconhecimento facial”.
Preocupado com o futuro da Ford, ele acrescentou que o custo e a qualidade dos veículos chineses são muito superiores ao que se pode ver no Ocidente. Um executivo australiano pôde ver fábricas onde, ao lado de uma grande esteira rolante, máquinas saem do chão e começam a montar peças. São espaços escuros, não é necessária luz, não há pessoas, tudo é robótico.
A velocidade da incorporação de robôs na indústria chinesa é alucinante: o número total de robôs adicionados na China no ano passado foi de 295.000, em comparação com 27.000 na Alemanha, 34.000 nos Estados Unidos e apenas 2.500 no Reino Unido, conclui The Telegraph. Hoje a China supera todos os países ocidentais na quantidade de robôs para cada 10 mil trabalhadores.
Que seja o principal executivo da Ford quem se mostra “horrorizado” com a diferença entre a China e o Ocidente é mais do que notável. A empresa Ford revolucionou a indústria no início do século XX com a introdução da linha de montagem, que facilitou a produção em massa no final da década de 1910. Quem assistiu ao filme Tempos Modernos de Charles Chaplin, entende como a linha de montagem permitiu um crescimento exponencial da produção, enquanto os operários se limitavam, durante toda a jornada de trabalho, a realizar movimentos breves e repetitivos, gerando uma brutal alienação e doenças físicas e mentais. Com a linha, os trabalhadores pararam de se mover, ficaram parados em seus postos, supervisionados de perto pelos capatazes. Ao realizar tarefas simples, os salários caíram.
Com a robotização já não há operários, mas um pequeno grupo de engenheiros dedicados à inovação e ao aperfeiçoamento técnico. A cadeia de produção não desapareceu, como se pode ver em inúmeras imagens da indústria automotiva atual, o que já não se vê são operários.
A robotização está abrangendo não apenas a indústria manufatureira, mas também os serviços, desde a distribuição (como atestam os portos chineses ou os depósitos da Amazon) até a hotelaria e os hospitais. Em poucos anos não haverá nenhum setor onde a robótica, conduzida pela inteligência artificial, esteja ausente, o que terá repercussões cada vez maiores na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Essa mudança é o que me leva a dizer que a robotização é um tentáculo da Hidra capitalista, uma engrenagem da tempestade que os de cima lançaram sobre os povos do mundo. Uma parte da humanidade sobra, não tem lugar nem na produção, nem no consumo, nem na vida mesma. Essa mudança nunca havia acontecido na história da humanidade. Os trabalhadores sempre foram necessários para colocar em movimento a engrenagem da produção e da distribuição. Por isso nosso futuro como gente comum, como povos e setores sociais, está sendo questionado pelo capitalismo. Compreender essa realidade, a realidade de Gaza por exemplo, deveria nos levar a compreender melhor o que temos pela frente, e a poder resistir melhor.
Fonte: https://desinformemonos.org/la-robotizacion-otro-tentaculo-de-la-hidra/
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
florescente espinheiro
tão parecido aos caminhos
onde eu nasci!
Buson
Nossas armas, são letras! Gratidão liberto!
boa reflexão do que sempre fizemos no passado e devemos, urgentemente, voltar a fazer!
xiiiii...esse povo do aurora negra é mais queimado que petista!
PARABÉNS PRA FACA E PRAS CAMARADAS QUE LEVAM ADIANTE ESSE TRAMPO!
Um resgate importante e preciso. Ainda não havia pensado dessa forma. Gratidão, compas.